quinta-feira, 29 de março de 2012

O “DEUS” HURACÁN

Em 1985 fui à Guatemala, e após fazer a conferência em Guatemala (DF), os confrades me disseram que a palestra do dia seguinte seria em Coatepec e que haviam feito uma larga propaganda para atrair umas seis mil pessoas.
— Mas, em Coatepec, seis mil pessoas? — indaguei.
— Sim, irmão Divaldo, há um mês estamos viajando pelos vales, pelas montanhas e o irmão vai falar ali no Palácio de Metal.
Eu comecei a imaginar a beleza do Palácio de Metal. Tenho a mente muito entusiasta e logo imaginei alguma coisa de belo como os palácios da Índia.
Quando chegou o dia, os confrades estavam entusiasmadíssimos com a minha palestra no Palácio de Metal.
— Irmão — disse-me um deles —, toda a província de Coatepec virá para assisti-lo.
Viajamos trezentos e vinte quilômetros e quando chegamos perto, disseram-me:
— Vamos esperar a comissão de recepção.
Veio a comissão e entramos, na cidade, em caravana. Eu imaginava a cidade de Coatepec, com o seu Palácio de Metal, imponente e grandioso. Quando entramos, porém, constatei que era um lugar mais simples e menor do que eu esperava.
O hotel, onde me hospedei, era quase todo de tábuas, ainda em construção.
Às quinze horas começou a chover, a relampejar, a trovejar. O presidente amigo me disse:
— Aqui chove muito; é chuva tropical, dá aquela pancada e logo passa.
Às dezessete horas a chuva prosseguia. Ele voltou a afirmar-me:
— Passará já.
Às dezoito e trinta a cena se repetiu e ele garantiu-me que a chuva logo passaria. Eu me aprontei, e, às dezenove horas, disse-lhe que já podíamos ir.
— Ainda não. Só iremos quando faltarem quinze minutos, pois preparamos uma entrada triunfal. O irmão já imaginou quase sete mil pessoas aplaudindo a sua entrada?
Tentei demovê-lo desse propósito, dizendo que preferia entrar por alguma porta lateral, pois fico constrangido, quando tenho que passar pelo meio do povo a me aplaudir.
— Não — respondeu-me. — Tudo está preparado; tem mestre-de-cerimônias, o salão mede setenta metros por dez.
Fiquei a imaginar um salão assim, devia ser quase uma quadra. Mas a chuva prosseguia, torrencialmente.
Às dezenove e quarenta, saímos de carro. Quando chegamos a uma certa distância, tudo estava interrompido. As enxurradas eram como rios. Carroças, carros, ônibus, caminhões, tudo interditado, O meu anfitrião olhou para mim e falou:
— O irmão trouxe guarda-chuva?
— Não, eu não sabia que ia chover.
— E se importa de se molhar? Porque não vamos conseguir ir até lá de carro.
— Não havendo outra alternativa...
— Então vamos correr.
Quando desci do carro a água me veio quase aos joelhos. Fomos andando pela rua, bem devagar, cercados de água e com a chuva caindo sobre nós. Então, chegamos ao local. Quando eu parei para olhar o Palácio de Metal...
Era enorme e estava superlotado. Era, porém, um barracão de meia parede e a chuva entrava por um lado quase saindo pelo outro. Em cima era de zinco, daí a razão do nome — Palácio de Metal. A chuva caindo sobre o zinco fazia um barulho de estremecer. O mestre-de-cerimônias falava ao microfone e o povo permanecia firme.
— E o irmão Divaldo! — anunciou.
Entrei e foram muitas as palmas. Fui sendo levado até o meu lugar. Sentei-me e olhei o público. E o que vi, me comoveu. Foi um dos dias mais belos da minha vida.
Ali estavam índios e mestiços guatemaltecos. Alguns haviam vindo desde mais de cem quilômetros de distância:
a cavalo, de caminhão, de carruagem, de carroça, de ônibus para ouvir a mensagem. Mães com filhinhos às costas e um xale, como é comum na região, ali estavam, de pé. Não tinha um assento, todos paradinhos...
Cheguei ao palco e exclamei intimamente: — Meu Deus! — Comovi-me, e fiquei envergonhado de mim próprio.
— O que vou dizer a eles, se não tenho o que dar. Se Jesus não vier, o que será de mim? — conjeturei.
Havia, na cidade, um problema, porque o senhor bispo, a véspera, atacara duramente o Espiritismo e ameaçou de excomunhão a quem fosse assistir a palestra espírita. Esta seria irradiada, Os intelectuais, o bispo e as autoridades iriam ouvi-la em casa, certamente, mas aquele povo ali era modesto, semi-alfabetizado, simples de discernimento. Eu teria que falar para os críticos que ficaram em casa, sem esquecer-me dos necessitados ali presentes.
Supliquei intimamente: — Meu Deus, tenha misericórdia de nós! Se eu iamais fui inspirado, meu Jesus, hoje, por caridade para com eles, inspire-me. Eu afirmo que, a partir de hoje, irei mudar para melhor, procederei bem, para o Senhor me inspirar sempre, sem eu o pedir. — Comecei a orar. As lágrimas me corriam pela face. Olhei o público novamente. Havia próximo uma indiazinha, com imensa pureza me olhando como se eu fosse um totem.
Deram-me a palavra. Levantei-me, o microfone com defeito de transmissão, um som descontrolado.
Fechei os olhos, para me concentrar, porque a zoada externa era terrível. Comecei a falar, a falar e a pedir intimamente: — Meus Deus, pare a chuva!
Falei sobre a imortalidade da alma, que é um tema universal.
De repente, ouviu-se um estrondo. Caiu um raio em algum lugar; faltou luz; pararam os sons e eu me sentei; não podia continuar, porque a sala era muito comprida, embora eu tenha a voz muito forte, não conseguiria fazer-me ouvir.
Eu fiquei sentado, mas ninguém saiu do recinto, nem mesmo a chuva. O silêncio era sepulcral. Vinte minutos depois voltou a luz fluorescente, voltou o rádio. Alguém disse alto: — Continue! (Mas eu me esquecera onde havia parado.)
O presidente, então, falou: — Irmão, estamos esperando.
Eu me aproximei do microfone e, nesta hora, lembrei-me da parte em que parara.
Continuei a falar, mas, com uma ternura diferente. Eu estava falando para as minhas necessidades espirituais. Descobri que me amava pela onda de amor que senti por aquele povo. Prossegui, e, quando me preparava para a pré-tarefa de terminar, vi aparecer, à porta de entrada, um ser luminescente, estóico, em corpo espiritual como nunca havia visto antes com tanta beleza. Parecia um deus da mitologia, mas era um deus asteca. Ele estava de torso nu, uma compleição robusta, parecendo ter dois metros de altura, uma perfeição; os olhos eram duas lâmpadas que me alcançavam. Sobre a cabeça havia um tipo de cocar especial, feito de plumas de quetzal, que é a ave nacional (de onde se originou a moeda) que dá uma pluma que chega a ter dois metros. E uma ave que só existe na Guatemala e só em Coatepec, porque só ali tem um fruto, que parece grão de café, de que a ave se nutre. O macho é lindo, a fêmea é pequenina, não tem a mesma plumagem. Ele me apareceu com tal adorno.
Joanna, então, alertou-me: — Continue falando.
Ele veio andando, triunfalmente, se se pode falar, como se deslizasse. Comecei a ouvir uma música no ar. Uma melodia de ordem ritual, aquela melodia infinita, em muitas vozes, que balsamizava o ambiente.
Mas, esqueci-me de um detalhe. Quando entrei, do lado esquerdo, estava uma mulher deitada ao solo, visivelmente paralítica, no palco; e no lado direito estavam dois outros paralíticos, igualmente deficientes nas pernas e nos braços.
O Espírito veio vindo, chegou-se até mim e, naquela grandiosidade, disse-me:
— Chamam-me Huracán; eu sou tido como o deus que criou o povo asteca. Sou teu amigo e teu irmão. Venho para encerrarmos a nossa noite. Continua!
A mente dele, entretanto, era tal que a minha se inundou de inspiração e, dentro do tema da imortalidade, eu dizia, terminando:
— Para vós não é estranho o tema da imortalidade, porque quando Huracán desceu à Terra, tomou do lodo do riacho para formar a raça asteca, soprou-lhe a imortalidade da alma.., e comecei a contar a história do povo asteca, que não conhecia, mas que me chegava em clichês psíquicos transmitidos pelo Espírito.
Ele foi até a mulher paralítica e curvou-se. Foi até o outro lado, curvou-se e chegou a mim, envolveu-me por detrás e me senti flutuar. Ele atravessou-me o corpo e, chegando, naquele imenso corredor, eu já estava terminando o tema, ele abriu os braços (necessitei de muita imaginação para entender) e por ideoplastia eu o vi numa forma cerimonial do povo: sobre a cabeça estava uma moldura de águia, nos dois braços cresceu uma plumagem e ele, de repente, como uma seta voou, e, ao voar, naquela inclinada em direção ao infinito, deixou um rastro de luz, com os braços abertos, ficando sobre o povo uma imensa cruz dourada, flutuando no ar, que gotejava uma luz violácea ou dourada-prateada.
Eu terminei a palestra e percebi que as pessoas choravam. Notei cair sobre a multidão flocos de luz e todos ficaram como que revestidos de um ectoplasma de luminescência invulgar. Sentei-me, fechei os olhos, e a chuva parou.
Nesse momento, eu disse à Joanna de Ângelis: — Que pena, se a chuva tivesse parado antes...
— Meu filho, porque recalcitras? Tu achas que deves dizer a Deus o que fazer? Se choveu, havia uma razão. Esta região está invadida por lutas camponesas, pela guerra civil que ronda a Guatemala, provinda de El Salvador, da Nicarágua, de Honduras. Estas almas estão sendo aliciadas pelos fomentadores das guerras pelas terras. Elas não sabem o que é “direito de terras”, mas estão sendo envenenadas para matar e morrer, e quando foi anunciada a palestra, o Mentor da comunidade pediu aos céus para que uma tempestade varresse o ar, retirasse os miasmas... (Eu me lembrei de Obreiros da Vida Eterna, de André Luiz, ao referir-se ao fogo purificador para limpar a psicosfera.) E agora — prosseguiu ela — que a mensagem terminou, esses vibriões mentais, essas construções pestíferas do ódio foram afastadas ou destruídas pelos raios, os trovões, a chuva, e a paz permanecerá neste ambiente. Nunca suponhas que o Senhor não sabe. Aprende a submeter-se sem sugerir.
A solenidade foi encerrada. A cruz permanecia no ar como nunca vi nada igual antes, em quarenta anos de mediunidade consciente.
Fui saindo, e quando passei pela senhora paralítica, muito comovido, aproximei-me, passei-lhe a mão na cabeça e perguntei-lhe: — A senhora gostou?
Veio um rapaz, um indiozinho, correndo, e respondeu-me:
— Ela não fala espanhol, só o asteca e o maia.
Então, pensei: — Meu Deus, ela não entendeu nada.
Vendo o meu interesse, o jovem intérprete esclareceu:
— Esta senhora é minha mãe. O senhor quer saber alguma coisa?
— Pergunte-lhe se gostou da palestra.
Ele inquiriu-a e traduziu-me a resposta:
— Sim, ela gostou.
— Volte a perguntar-lhe — insisti — se me compreendeu.
Ele indagou e respondeu-me:
— Não, ela não compreendeu, ela entendeu, ela sentiu; não é necessário falar quando se pode penetrar a ideia.
Admirado ante tal resposta, prossegui:
— Indague-lhe o que ela veio fazer. (Mas não esperava a resposta). Ela falou através do intérprete:
— Eu vi o deus e ele me disse que eu trouxesse os doentes e os aleijados para escutar o “emissário do Senhor”.
— O “emissário do Senhor”?
Ela me olhou, profundamente, e completou:
— O senhor tem a “voz de Deus”. Eu vi chegar o deus Huracán e senti o rociar de suas asas abençoando-nos.
Ela falou qualquer outra coisa e o filho esclareceu-me:
— Mamãe o está abençoando. Ela é quem recebe as mensagens do nosso deus. Ele mandou que se espalhasse pelas aldeias que o “emissário do Senhor” viria a Coatepec, e que todo o mundo viesse assisti-lo.
Eu tomei aquela mão engelhada, olhei aquela mulher sofrida, encostei a minha na sua cabeça e ela sorriu. Quase não se podia mexer. O rapazinho então esclareceu-me:
— Nós moramos a quase trinta quilômetros daqui. Mamãe veio amarrada num cavalo e eu vim noutro, puxando-a.
Ouvindo-o, senti-me envergonhado. Fui levado pelo jovem aos outros dois paralíticos e um deles falou-me:
— Nosso deus mandou dizer que se nós viéssemos ficaríamos curados. Estamos esperando que o senhor dê a ordem.
Hesitei, emocionado, mas Joanna orientou-me:
— Mande-o levantar-se, meu filho.
Eu vi que não tinha a “fé que remove montanhas”, porque sendo um homem racional, naquela hora a primeira coisa que pensei foi: quem sou eu? Mas, num momento como aquele é o Cristo quem está em nós, naquela hora não somos nós.
Joanna me deu segurança e amparo. Ficou atrás de mim e tornou a dizer-me:
— Fale, meu filho.
Aproximei-me, e, olhando-o fixamente, disse-lhe:
— Você crê em Deus?
— Creio! — respondeu-me.
— Então, levante e ande, em nome de Deus e de Huracán! Venha!
Ele foi escorregando do palco como quem ia cair. Quiseram segurá-lo, porém, pedi que o deixassem. Ele caiu mais ou menos em pé e qual um pêndulo de relógio oscilou. Equilibrou-se e deu o primeiro passo.
O silêncio em todo o salão era total. Todos permaneciam numa postura de dignidade, como se já soubessem o que iria acontecer. Nenhum grito, nenhuma emoção. Fé! A fé que nos falta. E o amor!
Ele andou, segurou o meu braço. Fomos até ali, voltamos até acolá.
— E eu, e eu? — indagou o outro, afobadamente.
— Venha, o Senhor está mandando-o também. Venha, em nome de Deus!
Ele foi desentortando, como se estivesse obsidiado, padecendo de uma obsessão física. Não era um paralítico orgânico.
Recordei-me, imediatamente, de que Kardec narra, no capitulo 23, de O Livro dos Médiuns, o caso de um obsessor que atuava nos jarretes de um homem, fazendo-o cair de joelhos diante de uma moça, humilhando-o terrivelmente.
Mas, ele se foi retorcendo, e do seu corpo saiu um fluido, como um fumo, como que uma nuvem escura e ele começou a andar.
— Deus abençoe o “emissário do Senhor” — disseram repetidas vezes.
A minha emoção foi tão grande que eu não saberia descrevê-la. Vi que estava na hora de ir-me embora, porque não podia suportar mais tão intenso estado emocional —um sentimento intraduzível. Só sei dizer que meu coração parecia querer arrebentar-se dentro do peito.
Chamei o presidente e amigo anfitrião, que estava a regular distância, e pedi-lhe, quase sem voz:
— Vamos? Já que a chuva parou, vamo-nos embora.
Fomos atravessando o salão. Olhei o relógio, eram vinte e duas e trinta. Alguém veio e me abraçou. Veio outro e fez o mesmo. E veio outro, mais outro. Quando cheguei à porta, após atravessar o largo recinto, faltavam quinze minutos para a meia-noite.
Eram o amor e a visão do deus Huracán, porquanto vivendo eles no contexto de uma crença totêmica, é óbvio que a resposta espiritual se apresentaria de igual forma. Huracán, seria, pois, o Mentor, o Guia Espiritual da comunidade, que se apresentava conforme a concepção deles: uma águia que habita as grandes alturas, nas montanhas mais elevadas.
A rua escoara, não havia mais água ou enxurrada.
Não pude dormir. Durante um largo tempo não consegui dormir, porque o deus Huracán havia vindo e a mensagem do amor tornara-se realidade em Coatepec.

A preparação do ambiente — A chuva
A aparição do deus Huracán e toda essa experiência vivida por Divaldo, na cidade de Coatepec, é uma das mais belas e comoventes passagens que já encontramos no riquíssimo aceno de vivências que a mediunidade a serviço de Jesus proporciona àqueles que, como o médium baiano, a elegem como fanal de suas vidas.
Algumas horas antes da palestra começa a chover. Divaldo menciona a intensidade da chuva, os relâmpagos e trovões.
Segundo os confrades que o convidaram, a chuva seria passageira, tal como acontecia diariamente. Apenas uma chuva tropical. Entretanto, conforme elucida Joanna de Angelis, posteriormente, esta era uma chuva programada para um fim determinado.
Pelo menos um mês antes da vinda de Divaldo, os moradores de toda a região haviam sido alertados para a vinda do “emissário do Senhor”. Houve uma programação de ordem superior para aquela população, constituída de almas simples e humildes, que, no entanto, estavam sendo induzidas a participar de guerrilhas, de movimentos revolucionários. Para isso, não hesitavam, os fomentadores da guerra, em contagiá-los com o vírus do ódio, da revolta, da violência.
Gente de índole pacífica, apegada aos costumes locais, à terra e às tradições dos antepassados, vivia ali pelos vales e montanhas sem preocupações de posses e conquistas.
Coatepec! Uma cidade perdida nos montes guatemaltecos foi assim incluída no roteiro de palestras de Divaldo Franco.
Uma mulher desse povo generoso, paralítica, é avisada espiritualmente que seria aquele o dia da chegada. Médium natural, fizera-se respeitada e acatavam-lhe as orientações.
A mediunidade é parte integrante na vida de todos, na comunidade. Encarada com naturalidade, faz-se espontânea e autêntica, como parte de comunicação entre os dois planos da vida. Para o povo dessa região, constituído de índios e mestiços, a certeza na imortalidade da alma e na comunicabilidade dos Espíritos é, portanto, decorrente de fatos concretos, não de teorias ou de abstrações filosóficas, distantes do seu alcance.
A noticia se espalhou por todas as aldeias. Quase quatro mil pessoas acorreram ao Palácio de Metal. A médium paralítica veio amarrada ao cavalo, com a coragem da fé, de quem sabe e conhece.
A chuva fora programada pela Espiritualidade Maior.
Em O Livro dos Espíritos, no capítulo IX da 2a. parte, os Espíritos da Codificação respondem a Allan Kardec sobre a ação dos Espíritos nos fenômenos da Natureza. Vejamos o que dizem:
538 — «Formam categoria especial no mundo espírita os Espíritos que presidem aos fenômenos da Natureza? Serão seres à parte, ou Espíritos que foram encarnados como nós?
Que foram ou que serão.
a) Pertencem esses Espíritos às ordens superiores ou às inferiores da hierarquia espírita?
«Isso é conforme seja mais ou menos material, mais ou menos inteligente o papel que desempenham. Uns mandam, outros executam. Os que executam coisas materiais são sempre de ordem inferior, assim entre os Espíritos, como entre os homens.”
539 — A produção de certos fenômenos, das tempestades, por exemplo, é obra de um só Espírito, ou muitos se reúnem, formando grandes massas, para produzi-los?
«Reúnem-se em massas inumeráveis.»
É pois, perfeitamente possível e admissível que a chuva fosse solicitada pelo Espírito Protetor da região, com o fim de purificar a atmosfera.
Ao ouvir as explicações de sua Mentora, Divaldo recorda-se do “fogo purificador”, conforme descreve André Luiz em Obreiros da Vida Eterna.
Nesta obra o autor desencarnado relata a sua experiência na “Casa Transitória”, situada em região espiritual de densas trevas. Eis um trecho a respeito:
“Permanecíamos em região onde a matéria obedecia a outras leis, interpenetrada de princípios mentais extremamente viciados. Congregavam-se aí longos precipícios infernais e vastíssimas zonas de purgatório das almas culpadas e arrependidas.
Na verdade, muita vez viajara entre a nossa colônia feliz e o plano crostal do planeta, atravessando lugares semelhantes, mas nunca me demorara tanto em círculo desagradável e escuro como esse. A ausência de vegetação, aliada à neblina pesada e sufocante, infundia profunda sensação de deserto e tristeza.” (capítulo VI)
É nessa zona sombria que o fogo etérico, purificador, vai atuar, em meio a trovões e relâmpagos. Recomendamos ao leitor uma consulta ao livro mencionado.
A tempestade, no caso em pauta, teria assim, o mesmo efeito.
O próprio Divaldo tem psicografado várias páginas, que estão em seus livros, nas quais existem referências acerca da poluição da psicosfera, bem como da possibilidade de contágio. Uma dessas mensagens é assinada por João Cléofas, inserida no livro Depoimentos Vivos, intitulada “Reagentes Mentais”. O autor refere-se à assepsia da sala mediúnica, que, está perfeitamente de acordo com a necessidade de renovação da psicosfera em toda a região de Coatepec, a fim de que os miasmas produzidos pelos disseminadores do ódio desaparecessem, propiciando assim a chegada de Huracán. Foi realizada, então, a purificação da ambiência espiritual para que o Palácio de Metal se transformasse em gigantesca sala mediúnica com seis mil participantes.
Atentemos para o que assinala João Cléofas:
“(...) Utilizemo-nos dos componentes da reação moral elevada contra os invasores microbianos das regiões inferiores da vida...
Vibriões elaborados por mentes viciosas, corpos estranhos produzidos por Entidades perversas, ideoplastias formuladas por fixações negativas, constituem fantasmas perturbadores que invadem a esfera do serviço, muitas vezes impossibilitando as realizações nobilitantes do trabalho.
(...) Em qualquer ambiente em que se procedem a tais experiências vitais, o contágio desta ou daquela natureza, seja no campo da inoculação de formas vivas perniciosas à existência, seja da exteriorização deletéria de pensamentos destrutivos, consegue danificar os mais respeitáveis programas, desde que não nos encontremos devidamente forrados para investir nesse campo árduo, fomentando as produções relevantes.”
A explanação feita por Joanna de Ângelis, ao término da palestra, é ainda uma lição primorosa para todos os que se habituaram a reclamar contra os fenômenos da Natureza.
Observa-se, também, o zelo, a vigilância dos Mentores Espirituais das nações, das cidades, das pessoas. Para atender àquela região, defendê-la da contaminação do ódio e da violência, o Espírito Huracán, deus e Mentor, estabelece, com base na programação de Divaldo, uma visita aos seus tutelados de maneira mais direta. Por certo, ele os atende por outros meios e vias, mas a palestra ofereceria o ambiente ideal para que se realizasse o fenômeno mediúnico, muito mais marcante e que impressionaria, indelevelmente, o seu povo.

O Palácio de Metal
O local não poderia ser mais surpreendente, dada a extravagância do nome, que faz supor uma edificação requintada.
A multidão atende ao chamado e vem de todas as formas, enfrentando a tempestade, as dificuldades de transporte e de acomodações.
O Palácio de Metal não tem nenhum conforto. Chove dentro e fora do recinto, mas o público se mantém numa disciplina incomparável, conquistada através dos próprios hábitos indígenas. Não há cadeiras. Todos estão de pé.
Interessante analisarmos essa postura do público. Estão de pé, em vigilância. O corpo não se acomoda, não se amolenta; a mente está alerta e todos estão expectantes.
Há no ar uma sensação diferente, que Divaldo sente ao chegar ao palco e contemplar, pela primeira vez, de frente, o imenso auditório. Uma emoção profunda o invade. Ele sente que as pessoas presentes aguardam algo. Era muito mais que um simples e habitual auditório. Não pelo número de pessoas (ele já falou para plateias maiores), mas pela especial vibração que capta no ambiente. Acostumado a todo tipo de público, habituado a transmitir emoções, a despertá-las, principalmente, através da palavra e da sua própria figura carismática, o médium sente, todavia, que lhe era pedido alguma coisa mais. No momento, sem poder precisar o que, eleva o pensamento a Jesus e roga inspiração. Observemos que ele diz, mentalmente: “Se Jesus não vier o que será de mim?”
O orador baiano inicia a palestra. Fala sobre a imortalidade da alma, enquanto a chuva continua a cair.
Algum tempo se passa quando um trovão mais forte, seguido de um raio, interrompe a energia elétrica. O Palácio de Metal mergulha na escuridão. Ninguém se mexe. As pessoas não se inquietam, como seria de se prever e como aconteceria com outro auditório qualquer. Há completo silêncio.
No escuro, o enorme pavilhão de zinco transforma-se em imensa câmara mediúnica.
Pode-se imaginar a azáfama das Entidades Espirituais coletando o ectoplasma, recolhendo energia mental dos encarnados e utilizando Divaldo como médium dos fenômenos que viriam a seguir.
Quando a luz se acende, o orador retoma a palavra. Mas está diferente, já não fala da mesma forma anterior. Inunda-se interiormente de um amor imenso por aquele povo simples que o ouvia, e extravasa este sentimento em vibrações e palavras. É neste estado que o vê chegar.

A Chegada de Huracán
A descrição que Divaldo faz de Huracán dá-nos uma idéia da sua beleza e espiritualidade.
eu vi aparecer, à porta de entrada, um ser luminescente, estóico, em corpo espiritual como eu nunca havia visto antes com tanta beleza. Parecia um deus da mitologia, mas era um deus asteca. Ele estava de torso nu, uma compleição robusta, parecendo ter dois metros de altura, uma perfeição; os olhos eram duas lâmpadas que me alcançavam. Ele veio andando, triunfalmente, como se deslizasse.”
Ao mesmo tempo, ouviu-se uma melodia no ar, enquanto a Entidade, aproximando-se de Divaldo, identifica-se, e, a partir daquele instante, inspira-lhe a palavra. A mente do médium, em sintonia com a de Huracán, inunda-se de clichês psíquicos, de idéias que vão sendo transmitidas para o auditório.
Hermínio C. Miranda, o consagrado escritor espírita, escreveu em Reformador, de março de 1971, excelente artigo intitulado “Técnica da Comunicação Espírita”.* Vale a pena transcrevermos um trecho, na qual, o autor demonstra as etapas do processo da comunicação mediúnica.
“A decomposição do processo revela o seguinte: em todo sistema de comunicação — mediúnica ou não — o componente inicial é a idéia, concebida na mente daquele que deseja transmiti-la a alguém. É evidente que a clareza da comunicação dependerá fortemente da maior ou menor lucidez que existir na concepção da idéia original. (...)
(*) Este artigo foi, posteriormente, inserido no livro Sobrevivência e Comunicabilidade dos Espíritos — Edição FEB. (Nota da Autora)
O segundo componente do sistema é a expressão formal do pensamento. Aquele que deseja transmitir uma idéia, terá de traduzi-la de alguma forma, segundo o processo que tiver à sua disposição. Isso porque, nós não pensamos em palavras, e sim, em imagens ou impressões fugidias que passam pelo nosso consciente como “flashes” velozes que precisamos agarrar às pressas para que não se percam. O primeiro trabalho é, pois, o de converter pensamentos, idéias, sensações e impressões em um sistema de códigos, sinais ou imagens sensoriais que sejam comuns a uma grande quantidade de gente. Se o pensamento deve ser expresso em palavras há que fazer a escolha da língua; se for em imagens, é preciso decidir quanto à forma, à cor, ao tamanho e ao processo de divulgação. (...)
Com isto chegamos ao terceiro componente do processo de comunicação, que é a interpretação por parte daquele que a recebe. É evidente, portanto, que a mensagem não é recebida na sua forma original, tal como foi concebida na mente daquele que a enviou, e sim, já convertida num dos meios usuais empregados para torná-la comum, ou seja, para comunicá-la. Isso quer dizer que ela passou por um processo de codificação, ao ser transformada em sinais ou símbolos de idéias que surgem no plano do nosso entendimento como representações das próprias idéias. É que, na fase atual da nossa evolução espiritual, ainda não podemos transmitir o nosso pensamento na sua forma original, com a dispensa dos símbolos criados para comunicá-lo. Cabe, assim, àquele que recebe a mensagem, descodificá-la para reconvertê-la à forma original e ser, então, absorvida como pensamento puro.
Alcançamos o quarto componente do processo de comunicação quando a reação do recipiendário ao conteúdo da mensagem recebida é enviada de volta à fonte de onde proveio (“feedback”), provocando, por sua vez, eventual reação. (...)
Imaginemos o mecanismo em ação. O Espírito desencarnado deseja transmitir a idéia de que a clareza da mensagem depende da pureza daquele que a recebe, ou seja, da sua boa predisposição psíquica e moral. De muitas maneiras se poderia vestir essa imagem; transmiti-la em palavras — prosa e verso; em imagens — coloridas ou não, fixas ou móveis; e até em sons ou em combinações audiovisuais, tão ao gosto da técnica moderna.”
O artigo de Hermínio Miranda prossegue com outras elucidações e recomendamos a sua leitura. Nessas quatro etapas descritas por ele, encontramos a mecânica do processo utilizado nas comunicações mediúnicas.
Quanto mais evoluído for o Espírito comunicante, mais velozes serão as imagens concebidas e exteriorizadas pela sua mente, evidenciando uma frequência vibratória de ondas curtíssimas. André Luiz afirma, em Mecanismos da Mediunidade, que as legiões angélicas se exprimem em “raios super-ultra-curtos - Se o Espírito tem um padrão espiritual muito elevado, há necessidade de uma intermediação do Guia Espiritual do médium. Isso aconteceu com Divaldo, quando da comunicação de Teresa de Jesus, na cidade de Lisieux (França). Joanna de Ângelis, captando-lhe o pensamento, transmitiu-o ao médium. A mensagem intitula-se “O amor e a alma” e está inserida no livro Seara do Bem.
Ao entrar em sintonia com Divaldo, Huracán inunda-lhe a mente de clichês psíquicos, transmitindo-lhe, assim, a história da raça asteca, de acordo com o processo descrito por Hermínio Miranda.
É oportuno observarmos que a maior parte das lendas e das tradições que integram o folclore de cada povo, traz um componente espiritual muito forte e verdadeiro, vestido, naturalmente, pelas formas e cores com que a imaginação popular o adorna.
Huracán é o deus do povo e tem a forma de uma grande águia. Ao se retirar, passa através do corpo do médium e se posta no início do extenso corredor. Na cabeça traz a moldura da águia e surge em toda a beleza do ritual do povo asteca. Abre os braços que se cobrem de uma plumagem, e alça voo como uma seta, como uma ave, deixando um rastro de luz e, sobre o público, uma imensa cruz luminosa, flutuante, da qual escorria, como pingos, uma luz violácea, dourada.
Em O Livro dos Médiuns, capítulo VI, questão 12, Allan Kardec indaga:
“Os Espíritos que aparecem com asas têm-nas realmente, ou essas asas são apenas uma aparência simbólica?
Os Espíritos não têm asas, nem de tal coisa precisam, visto que podem ir a toda parte como Espíritos. Aparecem da maneira por que precisam impressionar a pessoa a quem se mostram. Assim é que uns aparecerão em trajes comuns, outros envoltos em amplas roupagens, alguns com asas, como atributo da categoria espiritual a que pertencem.”
Todas essas transformações, na aparência dos Espíritos, são possíveis em razão das propriedades do perispírito, que obedece ao comando mental. Ainda no capítulo mencionado, o Codificador, referindo-se à aparição dos Espíritos, esclarece:
“Quando o Espírito nos aparece, é que pôs o seu perispírito no estado próprio a torná-lo visível. Mas, para isso, não basta a sua vontade, porquanto a modificação do perispírito se opera mediante sua combinação com o fluido peculiar ao médium. Ora, esta combinação nem sempre é possível, o que explica não ser generalizada a visibilidade dos Espíritos. Assim, não basta que o Espírito queira mostrar-se; não basta, tampouco, que uma pessoa queira vê-lo; é necessário que os dois fluidos possam combinar-se, que entre eles haja uma espécie de afinidade e também, porventura, que a emissão do fluido da pessoa seja suficientemente abundante para operar a transformação do perispírito e, provavelmente, que se verifiquem ainda outras condições que desconhecemos.”
A caridade e abnegação com que a Espiritualidade Maior atende aos seres humanos é difícil de ser dimensionada. Huracán é um dos Benfeitores Espirituais dos povos. Espírito de alta envergadura, atende aos anseios daqueles que estão sob a sua tutela, revestindo-se com a forma característica da águia sagrada a fim de ser identificado por eles.
O deus asteca deixa no ar, sobre a multidão, uma cruz luminosa.
Na Espiritualidade Maior, onde não existem quaisquer barreiras do sectarismo religioso, a cruz é um símbolo universal. Os elementos de força desse símbolo não encontram equivalência em nenhum outro.
Em primeiro lugar, a cruz significa a presença do Cristo junto dos homens. Quando se quer evidenciar a Sua presença, trazê-Lo à nossa lembrança, é o símbolo mais utilizado.
Outros significados, todavia, somam-se a este primeiro e maior deles.
A cruz, pairando sobre as pessoas, ao mesmo tempo que evoca os erros humanos, traz uma mensagem de redenção.
Carregar a cruz é redimir-se. Para ir até Ele, conforme Suas próprias palavras, é imprescindível “tornar a cruz sobre os ombros e segui-Lo”. A cruz, não é, pois, uma evocação de sofrimentos, de grilhões que escravizam o ser humano, de penitências que o martirizem, porém, isto sim, o caminho da libertação. A cruz, agora, é uma mensagem de esperança. Assim como Ele, o Justo, alçou-se aos céus pelas traves da cruz, assim também os homens encontrarão nela a redenção final.
Jesus não permaneceu na cruz, embora os homens O queiram crucificar de todas as maneiras e atá-Lo ao madeiro de sofrimentos que, na verdade, foram engendrados por nós e são apenas nossos.
Bezerra de Menezes, pela psicografia de Divaldo, em bela mensagem incluída no livro Terapêutica de Emergência, intitulada “Cruz e Cristo”, afirma:
“O Cristo e a Cruz do amor são os termos sempre atuais da equação da vida verdadeira, sem os quais o homem não logrará a Liberdade.”
Huracán, Espírito Superior, deus criador da raça asteca, uma civilização pré-colombiana, usando o símbolo da cruz, transmite uma mensagem de amor e paz, como a significar que somente Jesus é, verdadeiramente, o Caminho, a Verdade e a Vida.

As Curas
Numa noite especial, num momento especial, Divaldo vive uma experiência extraordinária.
O público respirava fé. Uma fé natural, espontânea e simples. Nenhuma conotação de fanatismo, nada que significasse um estado emocional de histeria coletiva animava aquelas pessoas. Apenas uma certeza tranqüila e natural do amparo divino, do intercâmbio com os invisíveis e da proteção de Huracán. Estavam todos absolutamente certos de que Huracán viria — tal como fora anunciado pela médium paralítica — através do “emissário do Senhor”. Sabiam que o aviso da sua chegada, que ecoara pelos vales e montanhas da região, significava uma proteção direta a toda a gente. Por isso, acorreram em massa, desde cedo, carregando os filhos, vencendo distâncias e dificuldades, inabaláveis na certeza, e absolutamente seguros de que o deus Huracán os visitaria.
O conjunto vibratório dessas pessoas é, portanto, a imensa corrente mediúnica a envolver Divaldo. O circuito mediúnico está fechado, completo, e o ambiente propicio às atividades que o Plano Superior programara e que se desenvolvem num crescendo de emoções transcendentes.
Todo o episódio é como uma majestosa e sublime sinfonia, que está sendo executada em acordes grandiosos.
Joanna de Ângelis está ali, a reger o concerto das emoções e dos sentimentos. Cada componente destacado na narrativa teve importante desempenho, mas, foi a partir dela que tudo se tornou possível.
Divaldo teve ensejo de esclarecer, em algumas ocasiões, que Joanna entra em contato com os Mentores Espirituais dos países que são visitados e que as programações são feitas a partir dos acordos efetuados. Em Coatepec tudo estava delineado, conforme entendimentos prévios com o Espírito Mentor, conhecido na região pelo nome de Huracán.
No instante das curas dos dois paralíticos, grande parte dessa carga vibratória, portanto, fora canalizada para os enfermos. A cura é a mensagem de Huracán. É o sinete da sua presença para todo o povo. Aglutinam-se os elementos magnéticos e a essa força Divaldo dá a ordem de comando direcionando-a, impelindo-a. Joanna o assessora e participa do processo. Há um perfeito desencadear dessas forças e dos sentimentos de cada um. A corrente de amor é luz, é vida.
Os dois paralíticos estão expectantes. Adredemente preparados sabem que algo diferente irá acontecer.
O primeiro recebe a ordem e a atende. Levanta-se, e, aos poucos, desempena-se, esticando o como, os membros, sob a ação fluídica que, penetrando os nervos, a medula, os tecidos, os ossos, as células, irriga-os com uma vitalidade nova que, à feição de um lubrificante desenrijece, tonifica, nutre.
Ele vacila sobre as próprias pernas, balança-se como um pêndulo e consegue enfim equilibrar-se, sob o comando dessa energia poderosa que o invade e plenifica interiormente. Dá os primeiros passos e está curado.
O segundo enfermo, todavia, é um caso diferente. Trata-se de uma subjugação corporal, conforme explica Divaldo.
Vejamos como Allan Kardec esclarece a respeito das curas, em A Gênese, capítulo XIV, itens 31 a 34:
“Como se há visto, o fluido universal é o elemento primitivo do como carnal e do perispírito, os quais são simples transformações dele. Pela identidade da sua natureza, esse fluido, condensado no perispírito, pode fornecer princípios reparadores ao corpo; o Espírito, encarnado ou desencarnado, é o agente propulsor que infiltra num corpo deteriorado uma parte da substância do seu envoltório fluídico. A cura se opera mediante a substituição de uma molécula malsã por uma molécula sã. O poder curativo estará, pois, na razão direta da pureza da substância inoculada; mas, depende também da energia da vontade que, quanto maior for, tanto mais abundante emissão fluídica provocará e tanto maior força de penetração dará ao fluido. Depende ainda das intenções daquele que deseje realizar a cura, seja homem ou Espírito.” (grifos no original)
“É muito comum a faculdade de curar pela influência fluídica e pode desenvolver-se por meio de exercício; mas, a de curar instantaneamente, pela imposição das mãos, essa é mais rara e o seu grau máximo se deve considerar excepcional. No entanto, em épocas diversas e no seio de quase todos os povos, surgiram indivíduos que a possuíam em grau eminente. Nestes últimos tempos, apareceram muitos exemplos notáveis, cuja autenticidade não sofre contestação. Uma vez que as curas desse gênero assentam num princípio natural e que o poder de operá-las não constitui privilégio, o que se segue é que elas não se operam fora da Natureza e que só são miraculosas na aparência.”
Em relação à subjugação corporal, o Codificador informa, em O Livro dos Espíritos, capítulo 23, item 240:
“A subjugação é uma constrição que paralisa a vontade daquele que a sofre e o faz agir a seu mau grado. Numa palavra: o paciente fica sob um verdadeiro jugo.
A subjugação pode ser moral ou corporal. (...) No segundo caso, o Espírito atua sobre os órgãos materiais e provoca movimentos involuntários. Traduz-se, no médium escrevente, por uma necessidade incessante de escrever, ainda nos momentos menos oportunos. Vimos alguns que, à falta de pena ou lápis, simulavam escrever com o dedo, onde quer que se encontrassem, mesmo nas ruas, nas portas, nas paredes.
Vai, às vezes, mais longe a subjugação corporal: pode levar aos mais ridículos atos. Conhecemos um homem, que não era jovem, nem belo e que, sob o império de uma obsessão dessa natureza, se via constrangido, por uma força irresistível, a pôr-se de joelhos diante de uma moça a cujo respeito nenhuma pretensão nutria e pedi-la em casamento. Outras vezes, sentia nas costas e nos jarretes uma pressão enérgica, que o forçava, não obstante a resistência que lhe opunha, a se ajoelhar e beijar o chão dos lugares públicos e em presença da multidão. Esse homem passava por louco entre as pessoas de suas relações; estamos, porém, convencidos de que absolutamente não o era, porquanto tinha consciência plena do ridículo do que fazia contra a sua vontade e com isso sofria horrivelmente.”
O Espírito Manoel Philomeno de Miranda, cuja contribuição no campo das obsessões tem sido notável, escreve em Nas Fronteiras da Loucura, através do próprio Divaldo, na parte inicial do livro, intitulada “Análise das obsessões”, a respeito da subjugação, o seguinte:
“Assim, a subjugação pode ser física, psíquica e simultaneamente físiopsíquica. A primeira não implica na perda da lucidez intelectual, porquanto a ação dá-se diretamente sobre os centros motores, obrigando o individuo, não obstante se negue à obediência, a ceder à violência que o oprime. Neste caso, podem irromper enfermidades orgânicas, por se criarem condições celulares próprias para a contaminação por vírus e bactérias, ou mesmo sob a vigorosa e contínua ação fluídica dilacerarem-se os tecidos fisiológicos ou perturbar-se o anabolismo como o catabolismo, incidindo em distúrbio no metabolismo geral, com singulares prejuízos físicos...”
As curas são realizadas. As bênçãos recaem a flux sobre o Palácio de Metal, na pequena Coatepec.
Espiritualmente, o grande pavilhão de zinco é um feérico palácio, engalanado de luzes e irradiando claridade para toda a região.
As emoções são superlativas e deixam Divaldo em um estado diferente. Como médium dessa carga vibratória de altíssima frequência, ele irá direcioná-la, mas, para que isto se dê, todo o seu cosmo psicossomático atua como um dínamo.
No livro Mecanismos da Mediunidade, André Luiz afirma:
“O Espírito, encarnado ou desencarnado, na essência, pode ser comparado a um dínamo complexo, em que se verifica a transubstanciação do trabalho psicofísico em forças mento-eletromagnéticas, forças essas que guardam consigo, no laboratório das células em que circulam e se harmonizam, a propriedade de agentes emissores e receptores, conservadores e regeneradores de energia.
Para que nos façamos mais simplesmente compreendidos, imaginemo-lo como sendo um dínamo gerador, indutor, transformador e coletor, ao mesmo tempo, com capacidade de assimilar correntes continuas de força e exteriorizá-las simultaneamente.”
Mais adiante, neste mesmo capítulo, o autor compara o gerador mediúnico ao gerador elétrico, esclarecendo ainda, que, assim como dispomos, em toda a parte, de fontes de força eletromotriz, “temos igualmente variados mananciais de força mediúnica, mediante a permuta harmoniosa, consciente ou inconsciente, dos princípios ou correntes mentais, sendo possível observá-los, em nosso caminho, alimentando grandes iniciativas de socorro às necessidades humanas e de expansão cultural.”
* * *
Todo este comovente episódio leva-nos a reflexionar a respeito da infinita bondade de nosso Pai do Céu, que proporciona aos seres humanos, tal como prometeu Jesus, o ensejo sublime de crescerem espiritualmente, de tornarem-se o “sal da Terra”, de serem a “luz do mundo”, de serem, afinal, “deuses”.
Numa cidadezinha do planeta, pequena e simples, num dia qualquer, igual a todos os outros no calendário terrestre, num local insólito, junto ao povo humilde, Divaldo vivencia a experiência que Jesus promete àqueles que O amam e O seguem.

Texto extraído do livro O Semeador de Estrelas de Suely Caldas Schubert
  
Vive de tal forma que deixes pegadas luminosas no caminho percorrido, como estrelas apontando o rumo da felicidade e não
deixes ninguém afastar-se de ti sem que leve um traço de bondade, ou um sinal de paz da tua vida.
Joanna de Ângelis

quinta-feira, 22 de março de 2012

BEZERRA CONVIDA À REFLEXÃO
 EM RECONHECIMENTO E CONFIANÇA

Senhor:
Somos aqueles trabalhadores da última hora, necessi-tados do Teu carinho e da Tua compaixão.
Estamos dispostos à lavoura do bem, nada obstante encontramo-nos na dependência de muitos fatores que procedem do passado espiritual.
Tu prometeste que, no momento quando duas ou mais pessoas se reunissem em Teu nome, far-Te-ias presente entre elas. Eis-nos aqui, entrelaçando emoções, procurando o caminho seguro para chegarmos à fonte inexaurível da Tua misericórdia, Companheiro sublime, que nunca nos deixas a sós.
Vivenciando a Tua mensagem conforme as nossas limitações, aguardamos que a Tua condução de Pastor leve-nos ao divino aprisco embora a nossa retentiva na retaguarda.
Filhos da alma:
Tende bom ânimo, mantendo a certeza de que nunca estareis a sós.
Aqueles que atendem ao divino chamado vinculam-se ao Condutor Celeste.
Obstáculos e provações fazem parte do processo evo-lutivo.
Os metais, para suportarem as intempéries, passam pela aspereza do fogo, assim como a argila que, para resistir, sofre a fornalha, e a madeira, para submeter-se, experimenta os cortes lancinantes nas suas fibras.
A gema, que reflete a estrela, sofreu a lapidação.
Também a alma, meus filhos, depois dos camartelos do sofrimento e das asperezas que lhe retiram as imper-feições, passa a refletir a Estrela polar do amor.
Nunca vos desespereis! …
Existem Benfeitores queridos que vos assessoram, que participam das vossas noites insones e das angústias dos vossos corações.
Aprendei a ouvi-los, sintonizando com esses anjos tu-telares através da oração, pelo pensamento voltado para o Bem.
O Senhor da Vida, que a todos nos conhece, levar-nos-á com segurança ao porto da paz, se permitirmos que Ele conduza a barca do nosso destino.
Confiai em Deus, meus filhos, entregando-vos ao co-mando do Seu Filho que é o nosso Mestre e Guia.
Temos estado em nossa Casa aqui, com os compa-nheiros devotados à ação inefável do Bem.
Prossegui!
Não vos atemorize a noite, nem vos produza receio a tormenta.
Tudo passa e o Bem permanece.
Vimos hoje ter convosco para vos alentarmos na luta, a fim de que prossigais intimoratos no Bem.
Jesus confia em nós!
Retribuamos essa confiança mediante o serviço no Bem, rogando a Ele, nosso excelso Mentor, que nos abençoe e nos guarde.
Sou o servidor humílimo e paternal de sempre
Bezerra
Mensagem psicofônica que encerrou a Conferência proferida pelo médium Divaldo Pereira Franco, no dia 20.10.2006, na Associação Espírita de Quarteira, Portugal, Grupo O Consolador.
Do site: http://www.divaldofranco.com/mensagens
É comum dizer-se que o ano no Brasil, real-mente, começa em março, quando a rotina pós férias e os festejos momescos têm um termo.
Em nossa Casa, essa assertiva não funciona porque estamos em atividade desde o inicio do ano, promovendo todos os serviços a que nos propusemos desde a nossa fundação.
Agora em março, os cursos sobre os diferentes aspectos doutrinários do Espiritismo já estão sendo oferecidos aos interessados: Iniciação à Doutrina Espírita, Mediunidade, os Livros Básicos, é o esforço para que, cada vez mais, os que se aproximam de nossa Casa possam ter uma clara visão dos postulados espiritistas, através daquilo que Kardec preconizou: Estudar, estudar, estudar.
Esses cursos estão abertos a todos que se in-teressam pelo conhecimento, e querem aprimorar aquele sentimento que está presente em seus corações.
Para tanto, basta procurar os responsáveis pe-las inscrições e escolher o curso que melhor aten-da as expectativas de cada um.
A espiritualidade não esconde que nosso pla-neta está vivendo uma era de transição, que muitos, equivocadamente, associam com o ―fim do mundo, como um tempo de ajuste final, de acerto de contas e tantos outros medos que, para serem eliminados, só estudando o Espiritismo e seus valores, entendendo a grandeza incomensurável do amor do Pai para conosco.
Aqui fica o convite.
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FONTE:CEBM - MARÇO/2012
LEMBRETE  FRATERNO

“É da Lei da Natureza a destruição?
Preciso é que tudo se destrua para renascer e se regenerar?
Livro dos Espíritos - Cap. VI, Q.728 - Da Lei de Destruição
Nos últimos tempos, temos assistido, preocupados, a incidência crescente de desastres naturais, tanto no Brasil, como em outras partes do mundo: tufões, tornados, inundações, terremotos, frio intenso ou calor intenso, seca, má distribuição de chuvas, uma ação natural indefensável a desafiar a capacidade de resistência de pessoas.
Porém, podemos também observar que a maioria das pessoas não perdeu a fé, a esperança, embora combalidas pelo impacto da dor, dão entrevistas com a disposição de começar de novo, de não se curvar ante a prova inevitável.
Nessa hora, não podemos deixar de nos remeter à questão 728 de O Livro dos Espíritos, onde Kardec pergunta aos Espíritos, se a destruição é uma lei natural. A resposta é objetiva e esclarecedora, na medida em que nos leva a uma reflexão que, naturalmente, explica os fatos da vida.
Antoine-Laurent de Lavoisier, no século 18, através do seu Princípio da Conservação da Matéria, enunciou que  - em natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma -, certamente essa coerência nos é mostrada pelos Espíritos, quando dizem que a destruição não passa de uma transformação que tem por fim a renovação e a melhoria dos seres vivos.
A tragédia das enchentes e deslizamentos, trazendo em seu bojo, centenas de mortes, mobiliza a sociedade e a solidariedade imediata-mente aciona centros de coleta de doações, com toneladas de víveres, remédios, bem como voluntários, isso não é uma transformação coletiva? De repente, deixamos de pensar em nós, lembramos de objetos, roupas, remédios, água, utensílios corriqueiros que dispomos e estão fazendo falta para pessoas como nós...
Diante da tragédia, brota a emoção de uma prece solidária, por aquele pai que ficou apenas com a roupa do corpo e com a perna quebrada, mas salvou seu bem mais precioso: Sua filha!
Uma prece pelos órfãos, pelos pais que perderam seus filhos, uma dor tão grande que não existe um substantivo que a qualifique.
A Lei de Causa e Efeito nos ensina que, em nossa programação espiritual, somos responsáveis pelos nossos atos e, no tempo certo, temos que responder por eles; sob esse ângulo, existe sim, um determinismo porque a Lei é determinante e a responsabilidade é irrevogável, todavia, a justiça do Pai nos oferece a ferramenta do Livre Arbítrio e podemos escolher a maneira de como atravessar o período da redenção de nossas faltas, se pelo inconformismo, pela luta consciente, pela renovação de nossos valores. Esse determinismo não anula nossas pretensões de um resgate menos doloroso, ele apenas se faz presente diante da necessidade do resgate... O elemento regulador, o catalisador desse processo, é o livre-arbítrio, que demonstra a presença de Deus em tudo o que existe, oferecendo atenuantes.
Na tragédia, vamos identificar os heróis, agentes da solidariedade; os generosos agentes do desprendimento; os poderosos agentes das soluções; os saqueadores, agentes das trevas; os aproveitadores, agentes do egoísmo... Todas as facetas da natureza humana apare-cem como elas são e marcam as futuras responsabilidades de seus agentes.

Mas o mais importante sinal de renovação é o heróico confronto do homem com sua adversidade, da ajuda mútua, do amor unindo as pessoas e as expressivas demonstrações de uma reconstrução integral, no individuo e na sua comunidade.
São essas ações que nos fazem melhores, nos colocam no caminho da luz. Aqueles que não conseguem realizar essa perspectiva e se perdem no cipoal da angústia e da revolta, não são menos dignos, apenas não conseguiram levantar o véu da razão, permanecem na fila aguardando novas chances renovadoras, que, segundo determinado pela Lei, sem dúvida virão.
Pense nisso!
―Utilize bem o seu tempo, tudo fazendo para que o seu momento seguinte seja-lhe sempre mais promissor e agradável.
O que não alcance agora, insistindo, conseguirá depois.
Eleja, portanto, os ideais de engrandecimento humano e não se detenha nunca.

Marco Prisco
FONTE: Luz Viva, p. 70, LEAL, BA, 3ª Edição, 1984.
OS LIMITES DA PRÁTICA ESPÍRITA

A Doutrina Espírita foi obra realizada por um grupo de Espíritos superiores, denominados "Espírito de Verdade" e organizada por um dos seus membros encarnados, Hipollite Leon Rivail Denizard, que utilizava o pseudônimo "Allan Kardec". Por tudo que podemos ler e compreender em seus livros, vê-se que seu trabalho tinha uma origem muito elevada. O Espiritismo codificado nos traz princípios racionais nunca observados em outras doutrinas filosóficas e morais. É ele o Consolador Prometido por Jesus para ajudar na edificação do futuro da humanidade. Todos os homens que nele apoiarem suas vidas e tomarem suas normas como guia para a sua vida moral e desenvolvimento de suas faculdades psíquicas, muito terão a ganhar. Pode-se afirmar, sem sombra de dúvidas, que não existe orientação moral, filosófica e prática mais segura do que aquelas deixadas pelo Codificador.
Pergunta-se: Por que razão o Espiritismo vem sendo considerado como uma doutrina incapaz de solucionar certas dificuldades espirituais da problemática humana? Seus conhecimentos estariam ultrapassados? Não! Não há nada de errado com a Doutrina Espírita. O problema dessas dificuldades resume-se na falta de estudo e de preparo moral e intelectual adequados. Por razões diversas, algumas pessoas tornam-se dirigentes de centros espíritas sem possuírem condições doutrinárias para isso. O mesmo acontece com os dirigentes de sessões práticas, orientadores etc. Quando não possuem a suficiente humildade para aprender com o posto que assumiram, acabam por orientar as pessoas de maneira inadequada, dando origem a um grande número de núcleos improdutivos.
Toda essa situação seria minimizada se as casas espíritas criassem escolas de estudos doutrinários em suas dependências, selecionando os candidatos ao quadro de associados, evitando que pessoas problemáticas se transformassem em médiuns ou servidores na Seara do Bem. O Espiritismo seria praticado com mais seriedade. O grande mal ainda é o pouco interesse que os adeptos têm pelo estudo da Doutrina e das coisas em geral.
Por isso, é preciso que se faça um esforço para se modernizar as práticas espíritas e para fazer com que o Centro Espírita seja mais organizado em termos doutrinários e administrativos.
Pode parecer que exista um limite de ação na prática espírita para casos dessa natureza, uma vez que no meio espírita criou-se uma espécie de preconceito, originado pelo desconhecimento do problema. Ele existe e é como se não existisse. E se existe precisa ser solucionado. E se não for resolvido com a visão racional que a Doutrina nos dá, será como?

AUTOR: JOSÉ QUEID
A DOUTRINA ESPÍRITA E O POVO

A Doutrina Espírita, Consolador prometido por Jesus, tendo como representante humano a figura de Allan Kardec, apoiou-se no pensamento e na cultura européia. Seria muito bom que tais ensinamentos fossem absorvidos por todos os povos, de modo a direcionar-lhes a vida e o futuro, mas a realidade tem se mostrado outra: o "povão", que forma o grosso da massa humana no Brasil, não absorve seu conteúdo como o desejado. Prefere outras formas religiosas mais afinizadas com suas condições atávicas e conforme seu grau de desenvolvimento espiritual. A tradição católica, por exemplo, é muito forte em nosso meio, embora a maioria das pessoas que dizem professar essa religião, só o façam nas aparências.
O Espiritismo, como a experiência demonstra, deu seus melhores frutos junto às classes mais intelectualizadas, mais sintonizadas com o espírito europeu. O povo brasileiro sofreu uma influência atávica secular, onde os valores religiosos foram basicamente aqueles introduzidos pelo índio, pelo negro e pelo catolicismo. Boa parte da população tem dificuldades para compreender as finalidades do Espiritismo. Antes confundem-no com toda ordem de seitas que lidam com o elemento espiritual.
Isto é perfeitamente compreensível, pois sendo uma doutrina bastante nova no mundo, levará tempo para que as pessoas possam compreender seus verdadeiros objetivos. Alia-se a isso a imaturidade de espírito de um povo já secularmente arraigado a princípios religiosos dogmáticos e sectários, pode-se entender quais dificuldades encontraria a Doutrina Espírita para se firmar no seio do povo brasileiro.
Embora diga-se o contrário, o Espiritismo ainda não foi bem compreendido entre nós. Ainda somos minoria e mesmo entre os espíritas, existe uma certa dificuldade em compreender os nobres propósitos dessa doutrina de libertação do Espírito.
O povo, de uma maneira geral, não se beneficia do melhor que o Espiritismo tem a oferecer que é o estímulo às mudanças do indivíduo. Encara a Doutrina apenas como uma "religião" que faz muita caridade, devido as características assumidas pelos primeiros adeptos no país.
Mas, com o tempo, e com a maturidade do povo, essa visão se modificará e o Espiritismo poderá exercer a influência salutar entre os povos, que poderá modificar a face do planeta, se assim o quisermos.

AUTOR: JOSÉ QUEID
LIÇÕES DE PRETO-VELHO

Cenário: reunião mediúnica num Centro Espírita. A reunião na sua fase teórica desenrola-se sob a explanação do Evangelho Segundo o Espiritismo. Os membros da seleta assistência ouvem a lição atentamente. Sobre a mesa, a água a ser fluidificada e o Evangelho aberto na lição nona do capítulo dez: "O Argueiro e a trave no olho".
Dr. Anestor, o dirigente dos trabalhos, tecia as últimas considerações a respeito da lição daquela noite. O ambiente estava impregnado das fortes impressões deixadas pelas palavras do Mestre: "Por que vês tu o argueiro que está no olho do teu irmão, e não vês a trave que está no teu?". Findos os esclarecimentos, apagaram-se as luzes principais, para que se desse abertura à comunicação dos Espíritos.
Um dos presentes fez a prece e deu-se início às manifestações mediúnicas. Pequenas mensagens, de consolo e de apoio, foram dadas aos presentes. Quando se abriu o espaço destinado à comunicação das entidades não habituais e para os Espíritos necessitados, ocorreu o inesperado: a médium Letícia, moça de educação esmerada, traços delicados, de quase trinta anos de idade, dez dos quais dedicados à educação da mediunidade, sentiu profundo arrepio percorrendo-lhe o corpo. Nunca, nas suas experiências de intercâmbio, tinha sentido coisa parecida. Tomada por uma sacudidela incontrolável, suspirou profundamente e, de forma instantânea, foi "dominada" por um Espírito. Letícia nunca tinha visto tal coisa: estava consciente, mas seus pensamentos mantinham-se sob o controle da entidade, que tinha completo domínio da sua psiquê.
O dirigente, como sempre fez nos seus vinte e tantos anos de prática espírita, deu-lhe as boas vindas, em nome de Jesus:
- Seja bem vindo, irmão, nesta Casa de Caridade, disse-lhe
Dr. Anestor.
O Espírito respondeu:
"Zi-boa noite, zi-fio. Suncê me dá licença pra eu me aproximá de seus trabaios, fio?".
- Claro, meu companheiro, nosso Centro Espírita está aberto a todos os que desejam progredir, respondeu o diretor dos trabalhos.
Os presentes perceberam que a entidade comunicante era um preto-velho, Espírito que habitualmente comunica-se em terreiros de Umbanda. A entidade comunicante continuou:
"Vós mecê não tem aí uma cachaçinha pra eu bebê, Zi-Fio ?".
- Não, não temos, disse-lhe Dr. Anestor. Você precisa se libertar destes costumes que traz de terreiros, o de beber bebidas alcoólicas. O Espírito precisa evoluir, continuou o dirigente.
"Vós mecê não tem aí um pito? Tô com vontade de pitá um cigarrinho, Zi-fio".
- Ora, irmão, você deve deixar o hábito adquirido nas sessões de Umbanda, se queres progredir. Que benefícios traria isso a você?
O preto-velho respondeu:
"Zi-preto véio gostou muito de suas falas, mas suncê e mais alguns dos que aqui estão, não faz uso do cigarro lá fora, Zi-fio? Suncê mesmo, não toma suas bebidinhas nos fins de sumana? Vós mecê pode me explicá a diferença que tem o seu Espírito que bebe whisky, no fim de sumana, do meu Espírito que quer beber aqui? Ou explicá prá mim, a diferença do cigarrinho que suncê queima na rua, daquele que eu quero pitá aqui dentro?".
O dirigente não pôde explicar, mas ainda tentou arriscar:
- Ora, meu irmão, nós estamos num templo espírita e é preciso respeitar o trabalho de Jesus.
O Espírito do preto-velho retrucou, agora já não mais falando como caipira:
"Caro dirigente, na Escola Espiritual da qual faço parte, temos aprendido que o verdadeiro templo não se constitui nas quatro paredes a que chamais Centro Espírita. Para nós, estudiosos da alma, o verdadeiro templo é o templo do Espírito, e é ele que não deve ser profanado com o uso do álcool e fumo, como vem sendo feito pelos senhores. O exemplo que tens dado à sociedade, perante estranhos e mesmo seus familiares, não tem sido dos melhores. O hábito, mesmo social, de beber e fumar deve ser combatido por todos os que trabalham na Terra em nome do Cristo. A lição do próprio comportamento é que é fundamental na vida de quem quer ensinar".
Houve profundo silêncio diante de argumentos tão seguros. Pouco depois, o Espírito continuou:
"Desculpem a visita que fiz hoje e o tempo que tomei do seu trabalho. Vou-me embora para o lugar de onde vim, mas antes queria deixar a vocês um conselho: que tomassem cuidado com suas obras, pois, como diria Nosso Senhor, tem gente "coando mosquito e engolindo camelo". Cuidado, irmãos, muito cuidado. Deixo a todos um pouco da paz que vem de Deus, com meus sinceros votos de progresso a todos que militam nesta respeitável Seara".
Deu uma sacudida na médium, como nas manifestações de Umbanda, e afastou-se para o mundo invisível. O dirigente ainda quis perguntar-lhe o porquê de falar "daquela forma". Não houve resposta. No ar ficou um profundo silêncio, uma fina sensação de paz e uma importante lição: lição para os confrades meditarem.

AUTOR: JOSÉ QUEID

quinta-feira, 8 de março de 2012

MULHERES
  
No mundo existem diversos tipos de mulheres. Existem as que curam com a força do seu amor e as que aliviam dores com a sua compaixão. Foram exemplos Irmã Dulce, na Bahia e Madre Tereza, na Índia.
Existem mulheres que cantam o que a gente sente e as que escrevem o que a gente sente.
Há muitas mulheres glamourosas, como o foi Lady Di e mulheres maravilhosas que deixam lições eternas, como Eunice Weaver e Madame Curie.
Existem mulheres que fazem rir, e mulheres talentosas no Teatro, nas telas dos cinemas, nos palcos do Mundo.
Entre tantos tipos de mulheres existem as que não são  conhecidas ou famosas. Mulheres que deixam para trás tudo o que têm, em busca de uma vida nova. Lembramos das nossas nordestinas e sua luta constante contra a adversidade, para que os filhos sobrevivam.
Mulheres que todos os dias se encontram diante de um novo começo, que sofrem diante das injustiças das guerras e da s perdas inexplicáveis, como a de um filho amado, pela tola disputa de um pedaço de terra, um território, um comando.
Mães amorosas que, mesmo sem terem pão, dão calor e oferecem os seios secos aos filhos famintos. Mulheres que se submetem a duras regras para viver.
Mulheres que se perguntam todos os dias, ante a violência de que são vítimas, qual será o seu destino, o seu amanhã.
Mulheres que trazem escritos nos sulcos da face, todos os dias de sua vida, em multiplicadas cicatrizes do tempo.
Todas são mulheres especiais. Todas, mulheres tão bonitas quanto qualquer estrela, porque lutam todos os dias para fazer do mundo um lugar melhor para se viver.
Entre essas, as que pegam dois ônibus para ir para o trabalho e mais dois para voltar. E quando chegam em casa, encontram um tanque lotado de roupa e uma família morta de fome.
Mulheres que vão de madrugada para a fila a fim de garantir a matrícula do filho na escola.
Mulheres empresárias que administram dezenas de funcionários de segunda a sexta e uma família todos os dias da semana.
Mulheres que voltam do supermercado segurando várias sacolas, depois de ter pesquisado preços e feito malabarismo com o orçamento.
Mulheres que levam e buscam os filhos na escola, levam os filhos para a cama, contam histórias, dão beijos e apagam a luz.
Mulheres que lecionam em troca de um pequeno salário, que fazem serviço voluntário, que colhem uvas, que operam pacientes, que lavam a roupa, servem a mesa, cozinham o feijão e trabalham atrás de um balcão.
Mulheres que criam filhos, sozinhas, que dão expediente de oito horas e ainda têm disposição para brincar com os pequenos e verificar se fizeram as lições da escola, antes de colocá-los na cama.
Mulheres que arrumam os armários, colocam flores nos vasos, fecham a cortina para o sol não desbotar os móveis, mantêm a geladeira cheia.
Mulheres que sabem onde está cada coisa, o que cada filho sente e qual o melhor remédio para dor de cotovelo do adolescente.
Podem se chamar Bruna, Carla, Teresa ou Maria. O nome não importa. O que importa é o adje tivo: mulher.

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A tarefa da mulher é sempre a missão do amor, estendendo-se ao infinito. Tal tarefa pode ser executada no ninho doméstico, entre as paredes do lar, na empresa, na universidade, no envolvimento das ciências ou das artes.
Onde quer que se encontre a mulher, ali se deverá encontrar o amor, um raio de luz, uma pétala de flor, um aconchego, um verso, uma canção.


Equipe de Redação do Momento Espírita, a partir de mensagens intituladas “Quem é o mulherão?” e “Mulheres”, cujas autorias são desconhecidas pela Equipe.