quinta-feira, 22 de novembro de 2012


PEQUENA SUELI

 

Qual o seu nome?

- Chamo-me  Sueli.

 Que faz entre nós nessa noite?

- Estou aqui a convite, pois meus pais têm vínculos com esta instituição. São assistidos pelos serviços assistenciais à distância.

Por que veio?

- Disseram-me que preciso falar um pouco da minha vida aqui no mundo dos Espíritos.

Que acha do ambiente?

- Tudo é muito grande e bem separado, de modo que não confundamos o que se passa.

Separado como?

- Os Espíritos são agrupados conforme seu estado de perturbação. Vários ambientes são criados para que a ordem permaneça.

Como isso é possível?

- Vejo que tudo parece existir no mesmo lugar, mas dizem que separados por barreiras vibratórias.

Onde vive?

- Numa colônia chamada Gente Feliz.

De onde vem o nome?

- Da condição irradiada pelas entidades ali matriculadas.

Todos são felizes ali?

- Bem, a felicidade entre seus habitantes é relativa ao grau de manifestação em que as entidades se encontram. São todas crianças.

Como sabe de certas particularidades dessa região e mesmo do que se passa na reunião desse dia?

- Bem, estou com minha lucidez já bastante recuperada. Quando se perde a vida na fase da infância, como criança fica-se até que essa lucidez manifeste-se em plenitude.

O que acontece depois?

- Deixa-se a colônia e segue-se para outras regiões onde se toma consciência das razões da interrupção da vida, das conseqüências e possíveis providências a serem tomadas para compensar o necessário.

Como é sua aparência?

- Ainda mantenho-me com a aparência que tinha na minha partida do mundo terreno, mas estou mais madura.

Como é essa adaptação?

- Ela ocorre primeiro na área do pensamento. Em alguns Espíritos é mais rápido, em outros mais lento. Após superada essa fase de conscientização, começa o período de lucidez, onde as lembranças do passado (antes dessa última vida) vai aos poucos retornando.

E como se sente?

- É um processo interessante porque a cada acréscimo de lembrança, sente-se amadurecer a personalidade. A sensação é de bem-estar. Aos poucos vamos nos recordando de fatos e de necessidades. Tudo parece encaixar-se e as experiências, mesmo as mais dolorosas, são necessárias à elucidação definitiva do ser.

Crianças sofrem na Espiritualidade?

- Não. Não há erraticidade para as crianças que desencarnam em tenra idade. Suas almas estão em condição especial. Recolhem-nos de imediato, preparando-as para um gradual despertar.

Como a criança é informada de seu passamento?

- Entidades de elevada condição são encarregadas dessa delicada tarefa. O psiquismo infantil necessita de cuidados especiais em todas as situações e não poderia ser diferente nesta circunstância.

Deixará Gente Feliz em breve?

- Sim, está chegando meu momento de partir.

Voltaremos a vê-la?

- Sim, os que se simpatizam nunca se separam. Afinal, somos uma grande família. Espero que meus possam ver esta mensagem.

Que o Criador Supremo do Universo vos abençoe. -  Pequena Sueli.

  
              Mensagem mediúnica
Classificação: Evocações
Data: 18.02.99
Espírito: Pequena Sueli
GEBEM

O VALOR DA VIDA


 “A passagem do Espírito pela vida na matéria, animando um corpo carnal, é imprescindível para sua evolução. Sem esta experiência, o Espírito não avança, bem o sabeis. Devido à ignorância que ainda impera entre vós, a humanidade não compreende quase nada acerca desta experiência e, comumente, encara esta vida de maneira equivocada.
Primeiramente, procura apenas buscar os bens e as situações que proporcionem as alegrias e o bem estar ao seu corpo físico, embora o Espírito é que usufrua destas emoções e, por isto mesmo, as estimula. Sobre este equívoco inúmeras mensagens já vos foram dadas pelo mundo espiritual. Venho vos falar do extremo oposto desta ótica que se percebe claramente em vosso mundo. Falo da pouca importância que se dá à vida humana nos dias de hoje, quando a morte está vulgarizada pela violência do cotidiano e frequentemente pode-se ver crianças brincando ao lado de corpos sem vida das vítimas da violência urbana.
Também é comum as pessoas defenderem a extinção da vida de doentes em estado terminal, a pretexto de aliviar suas dores. O aborto é praticado com maior freqüência a cada dia e, por conta do progresso, a humanidade crê ser a melhor solução para uma gravidez indesejada, na maioria das vezes fruto da irresponsabilidade das relações carnais passageiras.
Refiro-me também, neste alerta, ao suicídio que é o ato extremado daquele que julga livrar-se dos problemas, certamente causados por ele mesmo. A pena de morte, este sistema de barbárie que o homem moderno insiste ainda em adotar, crendo que solucionará os problemas da violência, é também outro grande equívoco que ainda vige neste tempos.
Percebeis então, irmãos, que a humanidade ainda não entendeu que a vida é um dom divino. É dado ao Espírito para angariar experiências, passar por provações e expiações e, desta forma, auxiliá-lo na caminhada. Por isso, o homem não tem o direito de dispor da vida de outrem, tampouco da sua própria, sob nenhum pretexto. Estas questões só são assim tratadas devido à ignorância que ainda tendes sobre Deus e a existência da vida eterna.
Irmãos, cuidai do vosso corpo de forma que ele possa ser uma ferramenta útil às vossas tarefas nesta vida. Não o cultueis, mas também não o maltrateis com os vícios tão comuns nos tempos de hoje. Podereis alegar que tereis outras vidas em outros corpos como oportunidade de galgar a evolução, mas sabeis em que condições retornareis? Será que tereis um corpo saudável como hoje e, ainda, tereis a oportunidade de seres alertados pelos bons Espíritos como tendes sido até então?
A vida neste mundo é curta, se olhardes pela eternidade do Espírito, mas os benefícios que podeis ter numa vida bem vivida são inúmeros, porém maiores são ainda os malefícios de uma vida mal aproveitada. Cuideis, pois, irmãos para terdes uma vida digna, profícua e repleta de ações que possa servir de galardão para quando voltardes à verdadeira vida. Que o nosso Pai vos proteja e vos auxilie nesta vida presente e para todo o sempre.”- Um Espírito amigo.

  Mensagem mediúnica
Classificação: Espíritos familiares
Data: 01.02.2000
Espírito: Um Espírito amigo.
SEEAK
CONSTANTINO, O SUICIDA

 
"Aqui estou para dar-lhes um testemunho de minha passagem terrena. Em primeiro lugar, agradeço a todos os que aqui estão em trabalho nobre de amor aos necessitados na exemplificação do Evangelho de Jesus. Meus olhos enchem-se de lágrimas quando vejo pessoas que se dispõem a trabalhar em nome do amor e em prol de outros que jamais viram e que às vezes jamais verão. Como eu gostaria de ter tido essa compreensão, quando na carne estive. Teria sido diferente todo o meu processo de vida terrena, que eu desperdicei na vida fácil de irresponsabilidades.
Fui um homem rico, muito rico. Vivi todo o poder e glórias que o dinheiro pode dar. Cercado de amigos falsos, atolei-me em dívidas colocando a perder todo o meu patrimônio, sem ter beneficiado sequer um cão com minhas possibilidades materiais. Quando percebi que nada mais me restava, só vi o fim da vida como saída e, numa atitude desmedida, atirei contra meu próprio corpo, pensando livrar-me dos problemas. Qual não foi minha surpresa quando constatei que apenas meu corpo físico fenecia. Ao lado dele todo o meu ser se movimentava, num desespero atroz que não conseguia compreender então.
Permaneci assim por muito tempo, vendo meu corpo decompor-se lentamente, pois sequer vi meus funerais, tão preso estava meu pensamento naquele ato impensado. Após algum tempo, longo tempo, lembrei-me de meus pais que já tinham falecido em situação de muito sofrimento. Envergonhei-me de minha falta de atenção para com eles e pedi perdão a Deus naquele momento de desespero, mas sobretudo de dor e arrependimento.
Uma luz, vinda não sei de onde, envolveu-me e nada mais vi. Despertei em uma alva cama, com pessoas bondosas ao meu lado, falando-me coisas belas e carinhosas. Mais tarde, entrei em contato com grupos de Espíritos que vivenciaram o mesmo problema e seriam instruídos pelo irmão Mauro que aqui está.
Irmãos! Hoje vejo a grande oportunidade perdida por conta da ignorância em que vive mergulhado o homem materialista. Quanto desgraça planta esta doutrina do engano. Quanta dor espalha essa filosofia falsa da facilidades, sustentada com o suor do rosto dos que labutam sem saber para onde vão. Quanta maldade é semeada em nome do bem-estar dos egoístas e orgulhosos. Quanta atrocidade em nome da valorização do ego.
Meu Deus! Como é grande a Tua misericórdia permitindo que possam os pecadores rever suas vidas e refazer situações onde erros foram cometidos. Quanto é grande Sua bondade que me permite vir aqui dar um testemunho desse amor, que me diz que posso retornar amanhã para fazer  de nova oportunidade uma alavanca para minha evolução, mesmo mutilado, como me informaram que retornarei. Meu coração exulta de alegria, embora receoso do mergulho na carne em situação tão adversa.
Que Deus tenha piedade de mim e de todos aqueles que sem conhecer suas leis, comete atos de tamanha barbárie. Constantino, um irmão em recuperação na colônia Maria de Nazaré próxima a esta cidade. Paz e luz para todos". 
 
Espírito: Constantino
SEEAK
Mensagem mediúnica
Classificação: Depoimentos
Data: 18.08.98
A DOR MORAL

 “As dores da matéria assustam a muitos que estão presos a ela, mas a dor maior é a moral. Aquela que atinge nossa alma após o desenlace do corpo físico e que brota da consciência ao tomar conhecimento do que deveria ter sido feito de bom e não foi realizado.
O sofrimento da matéria é doloroso, mas na maioria das vezes os remédios terrenos os minimizam. Porém os da alma só poderão ser diminuídos no momento em que, após termos tomado o conhecimento da verdadeira proporção do nosso erro, recomeçarmos a caminhada para resgatá-los.
Não é fácil, sabemos, deparar-se com esta situação, principalmente para quem teve o orgulho e a vaidade a dominar-lhe o ser. Sim, quem teve estes vícios morais por tanto tempo em seu íntimo terá maior dificuldade em compreender que está em erro e, não compreendendo, não terá a motivação para melhorar-se e assim ficará nesta roda viva que o levará cada vez mais para a perdição.
Mas, ah!, temos a nosso dispor tantos ensinamentos a nos chamar a atenção para os verdadeiros tesouros e basta um só momento de reflexão sincera para podermos ver os desenganos em que temos caminhado. Primeiramente, o Evangelho de Jesus que até podemos dizer não compreendermos devido à nossa ignorância que nos prende à letra morta. Mas após este, veio o Consolador Prometido que trouxe a chave para o perfeito entendimento das mensagens do Cristo e que já está no mundo há cerca de 150 anos. Com estes dois mananciais de conhecimentos na mão só não compreenderemos a necessidade da mudança se estivermos presos à matéria em demasia. Não é possível que com tudo isto ainda estejamos a debater-nos nas dúvidas e nos descaminhos.
Pare. Olhe para dentro de si mesmo e faça uma análise do que tem sido sua vida e das oportunidades que tens perdido nestes anos que se foram e que não voltam mais, pelo menos os vividos neste tempo, e veja o que deixaste de fazer de bom para si mesmo, nos diz a consciência frequentemente.
Ainda é tempo, se quisermos continuar usufruindo das oportunidade ainda neste planeta, pois, caso contrário, o que nos esperará? Sigamos em frente em busca do progresso, pois é o que deseja de nós o Pai Celestial”. - Um Espírito amigo.

 Mensagem mediúnica
Classificação: Espíritos superiores e instrutores
Data: 04.05.99
Espírito: Um Espírito amigo
SEEAK
A DOENÇA E O REMÉDIO


Basta uma rápida olhada para os fatos do cotidiano, que nos são mostrados nos telejornais e pela imprensa de forma geral, para constatarmos que o nosso mundo está doente. Mais grave: doente em estado terminal, está na UTI. Não, não é catastrofismo, senão vejamos:
Mal acabaram os horrores da guerra na Bósnia, vemos repetirem-se os mesmos atos bárbaros no Timor Leste e outros focos de tensão são formados constantemente nos mais diversos pontos do planeta. Não se passa um breve espaço de tempo sequer em que não surja mais um conflito entre duas nações ou grupos políticos disputando o poder, para a alegria da poderosa indústria de armamentos.
As drogas estão cada vez mais presentes em todas as sociedades do planeta. Os cartéis movimentam verdadeiras fortunas, maiores até do que a economia de muitos países. Seu poder de influência nos meios políticos são cada vez maiores. Nos países mais pobres os traficantes fazem as vezes do poder público e mantém a população como seus reféns. Ainda há poucos dias noticiou-se que as quadrilhas em sua luta contra a lei utilizam-se das crianças das favelas do Rio de Janeiro como verdadeiros escudos humanos.
As grandes cidades, especialmente em nosso país, vivem numa verdadeira guerra civil. Chacinas diárias são noticiadas e no confronto com a polícia os marginais utilizam armamentos pesados e entre os dois fogos ficam os populares sem saber o que fazer. Assaltos, estupros, queima de arquivo, acerto de contas entre quadrilhas, suicídios, crimes familiares, enfim, todo tipo de violência são noticiados diariamente. Esta situação vai-se generalizando para as cidades menores e mais distantes dos grandes centros.
Na área moral não é diferente. Corrupção, falcatruas, conluios, favorecimentos pessoais freqüentam os noticiários políticos por falta de espaço nas páginas policiais. Na televisão, um dos poucos meios de lazer do povo mais simples, o que se vê são programas apelativos, popularescos, exploração da miséria humana etc. As novelas num supremo esforço em manter audiência apelam para o sexo quase explícito, independente de horário.
Poderíamos incluir aqui muito mais desatinos e situações que mostram que o diagnóstico é este mesmo: nosso mundo está doente, agonizando! O mal que atinge o mundo é visível, de fácil comprovação. Resta ao homem buscar o remédio, mas para isto é preciso descobrir as causas da doença.
A causa principal de todos os males do homem está na ignorância. Apesar da humanidade estar em grande avanço intelectual, ainda assim continua na ignorância. De que adianta ter os conhecimentos das ciências que proporcionam grande avanço intelectual, se o homem não compreende sequer quem é, de onde vem, para onde vai e por que está aqui?
Por ignorar ainda estas questões é que busca com sofreguidão os prazeres e os bens materiais. Sem compreender que é um Espírito imortal e que aqui se encontra apenas de passagem, não se preocupa em amealhar os bens que verdadeiramente vão lhe trazer proveito no futuro. Nesta busca da felicidade pessoal acaba se embrenhando nos caminhos do egoísmo, vaidade, orgulho e tantos outros vícios morais que o adoece cada vez mais.
A causa maior está identificada. No entanto, não pode o homem alegar a inocência dos ignorantes. Primeiramente porque a própria lei humana diz que ninguém está isento do cumprimento das leis por desconhecê-las. É obrigação do cidadão conhecer as leis que disciplinam sua sociedade. Se na lei humana, que é uma cópia imperfeita das leis divinas, é assim, que dirá da Lei maior.
Como sabemos, desde os tempos primitivos o homem tem recebido ensinamentos dos mensageiros divinos a lhe falar das leis morais divinas, primeiramente de forma rudimentar, posteriormente de forma clara e precisa. Aí está o decálogo que, apesar de estar com o homem há cerca de 3.500 anos, ainda não é praticado. Não deve, pois, a humanidade alegar ignorância destas leis.
Resta à humanidade buscar o remédio para os seus males. Só as verdades contidas nos ensinamentos divinos é que libertarão o homem da terrível doença que o aflige. Mas, poderá questionar o leitor, este tal remédio já não está com homem há tanto tempo? Por incrível que pareça ele já está conosco, de forma definitiva, há cerca de 2 mil anos, no entanto é tido por muitos apenas como ficção de fanáticos ou estórias infantis. As próprias religiões, que deveriam esclarecer o homem na prática destes ensinamentos, acabaram por se desviar dos princípios cristãos, ensinados por Jesus.
Até no nosso combalido Movimento Espírita existem seguimentos que crêem ser esta mensagem ultrapassada e que serve apenas aos simplórios. É inacreditável que os que detém nas mãos esta Doutrina esclarecedora, consoladora e libertadora, pensem desta forma. Mais uma vez vemos a ignorância impedir que se raciocine com lucidez e bom senso, apesar daqueles que assim pensam, fazerem parte dos grupos intelectualizados. Também não é de se admirar que assim seja, afinal intelecto desenvolvido não é sinônimo de sabedoria, como já dizia Jesus: "Bem aventurados os simples".
O mundo está doente. O remédio são os ensinamentos cristãos. Para nos prescrever este remédio com clareza temos a Doutrina Espírita, portanto, nem tudo está perdido. Como diz um ditado popular, para todo mal, há cura.
É preciso pois, que num primeiro momento busquemos a cura pessoal, para que então possamos contribuir para a recuperação do mundo em que vivemos e assim o tiremos da UTI em que se encontra neste momento. Enquanto não forem tomadas estas providências, o estado do mundo se agrava e com isto mais dores e sofrimentos virão.

Texto publicado no site em 08/10/99
Delmo Martins Ramos

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

LEMBRETE FRATERNO
Reflexões sobre Kardec

por Assaruhy Franco de Moraes
Agora em outubro, comemoramos o 208º aniversário de nascimento de Allan Kardec. Para nós,espíritas, a dimensão deste homem já é bastante conhecida, muito embora, somente no futuro é que se poderá perceber a sua verdadeira grandeza.
A predestinação deste Espírito, plasmado para cumprir a promessa do Cristo em revelar um Consolador para a humanidade, com o claro objetivo de recuperar os padrões primeiros do Cristianismo, quando a palavra luminosa de Jesus estabeleceu a Regra Áurea do relacionamento entre os homens.
Que responsabilidade Kardec assumiu! Somente sua interação secular com a terra gaulesa poderia dar a ele a compreensão do Espírito de França e cercar-se de um grupo seleto e comprometido com a restauração cristã.
Ele sabia que todos os riscos estariam presentes, mas sabia também que eminentes cientistas de sua época estariam nas trincheiras do seu bom combate.
Até na companheira de sua vida, Amélie Boudet, Kardec foi privilegiado porque nela encontrou as condições de paz e serenidade, para montar a estrutura da Codificação Espírita.
Ainda nascente, o Espiritismo já foi alvo das mais pesadas críticas, da mais perversa intolerância e isso, por parte dos descendentes morais dos cristãos perseguidos, dos algozes do Cristo, que pediu ao Pai que os perdoasse.
A tradição cristã é rica no histórico dos mártires que pagaram com a vida, a prática de uma fé renovadora e sublime, superando seus próprios receios e abraçando, sem temor, a causa da felicidade.
A simples leitura da Revista Espírita mostra, com riqueza de detalhes, a força dos argumentos do Codificador para desfazer as críticas, afastar as intrigas, num incessante trabalho de esclarecimentos, estudos e quebra de um paradigma estratificado na imperfeição humana.
Pode-se imaginar o que Kardec passou na cética Paris, quando anunciou o Espiritismo. Teve que lidar com os mesmos algozes que empalavam os cristãos, que decapitaram Paulo, que queimaram Joanna D’Arc e Jan Huss, os mesmos e tristes recalcitrantes que destruíram, saquearam, ensanguentaram o mundo, em nome de Deus, durante as trevas medievais da inquisição ou na insana peregrinação das cruzadas.
Consolar, essa foi a missão que ele recebeu.
Dizer aos homens que nada está perdido, que tudo se reconstrói através da regeneradora engenharia da reencarnação e que somos perfectíveis, que podemos, sim, construir a paz e o amor, com nosso esforço e nossa luta.
 
Sim, sempre é tempo de lembrarmos Kardec e segui-lo nesta moderna e promissora imitação do Cristo, a Doutrina Espírita.
Pense nisso!
 
―Sua vontade é soberana.
Sua intimidade é um santuário do qual só você possui a chave.
Preservá-la das investiduras das sombras e abri-la para que o sol possa iluminá-la só depende de você.

Fonte: Momento Espírita, Vol. 4, p.89 (Extraído do boletim GEBEM, ANO 54, EDIÇÃO Nº 659)

OI JESUS! EU SOU O ZÉ

Cada dia, ao meio dia, um pobre velho entrava na igreja e poucos minutos depois saia.

Um dia, o irmão lhe perguntou o que fazia, pois havia objetos de valor na igreja.
 
- “Venho orar”, respondeu o velho.

- Mas é estranho, disse o irmão, que você consiga orar tão depressa.

- Bem, retrucou o velho, eu não sei recitar aquelas orações compridas, bonitas, longas... Mas todos os dias ao meio dia, eu entro na igreja e só falo: “Oi Jesus, eu sou o Zé, vim te visitar”. Num minuto já estou de saída, é só uma oraçãozinha, mas tenho certeza que Ele me ouve.
Alguns dias depois, o Zé sofreu um acidente e foi internado num hospital; Na enfermaria, passou a exercer uma influência sobre os outros. Todos os doentes mais tristes se tornaram alegres, muitas risadas passaram a ser ouvidas.
 
- Zé disse-lhe um dia a irmã, os outros doentes dizem que você está sempre tão alegre...

- É verdade irmã, estou sempre tão alegre, é por causa daquela visita que recebo todos os dias, me faz feliz...
 A irmã ficou atônita, já tinha notado que a cadeira encostada na cama do Zé estava sempre vazia. O Zé era um velho solitário, sem ninguém. Quem o visita? A que horas?

- Todos os dias, respondeu Zé com um brilho nos olhos... Todos os dias ao meio dia Ele vem ficar no pé da cama, quando olho para Ele, Ele sorri e diz: “Oi Zé, eu sou Jesus, vim te visitar.”

O VÍCIO DO JOGO


 Evocação de um Espírito viciado em jogo.
Pode nos dizer algo sobre sua vida?
 
-       Perguntem e responderei o que for útil e o que me for permitido.
 Onde habitou em sua última encarnação?
-       Nesta cidade.
 Teve experiência com jogo?
-       Fui um viciado. Destruí minha vida por causa disso.
 Que tipo de jogo?
-       Cartas.
Você se considerava um doente da alma?
-       Nunca me considerei e jamais atendi aos apelos de meus familiares para parar com o hábito.
 Como se deu seu envolvimento?
-       Quando criança, via meu pai envolvido com esse entretenimento que depois se tornou também uma doença para ele. Quando me vi adulto, depois de cuidar de minha vida profissional, dediquei-me ao jogo de cartas.
 Antes não jogava?
-       Sim, jogava, mas apostava pequenas quantias com os amigos, apenas por brincadeira. Só quando tive mais sustentação financeira e profissional o vício se manifestou com toda a sua força.
 Como se dava?
-       Jogava por toda a noite com amigos, inicialmente por prazer, depois por necessidade.
Necessidade de quê?
-       De recuperar o dinheiro gasto e também para aplacar uma febre irresistível que toma conta do ser. Aquilo passa a ser uma necessidade que alimenta a alma do viciado. É como as drogas que, se não ingeridas, causam alterações psíquicas no indivíduo.
 Por quanto tempo foi um homem escravizado nesse vício?
-       Comecei aos 17 anos, por brincadeira. Depois, a partir dos 30anos, comecei a encarar com seriedade, tendo que reservar quantias para bancar as apostas.
 Sentia prazer nisso?
-       Sim, muito prazer, mas depois de muito tempo passou a ser para mim um tormento quando estava afastado da mesa do jogo. Sonhava com a chegada da noite para encontrar-me com os meus amigos. Até que chegou a aposentadoria e pude me dedicar dia e noite ao vício, sem descanso.
 Está dizendo que jogava por todo o tempo?
-       Sim, por todo o tempo, só parando para fazer as refeições e necessidades, além de breve e atormentado descanso.
 E ganhava dinheiro com isso?
-       Sim, mas perdia muito também. Quanto mais perdia mais jogava, até que pus a perder todo o meu patrimônio familiar, conseguido com anos de trabalho e também com o dinheiro do jogo. Foi terrível.
 E como saiu  dessa situação?
-       Não saí. Adquiri enfermidade que me levou ao hospital e de lá ao mundo dos Espíritos.
 E sua família?
-       Deixei na penúria material.
Como foi sua chegada ao mundo espiritual?
-       Não posso relatar, pois me faltam as palavras. Mas encontrei aqui entidades que alimentam essa enfermidade nas almas dos invigilantes como eu. Espíritos que, escravos do vício, escravizam os encarnados que iniciam suas práticas despretensiosamente.
 Já está recuperado?
-       Não. Faz um bom tempo que aqui cheguei, mas meu estado psíquico era dos piores. Demorei muito em situação de letargia depois que fui recolhido pelos benfeitores. Ainda tenho muito a caminhar.
 Você acha que todo jogo é pernicioso ou existem os que trazem benefícios para as criaturas?
-       Ensinaram-me aqui que o Bem não tem duas faces, e que uma árvore não pode dar frutos bons e maus ao mesmo tempo. O jogo é pernicioso ao crescimento das criaturas em todas as situações. Quisera eu ter condições de ajudar os irmãos, que ainda estão iniciando nesse caminho, a conscientizá-los dos malefícios causados por essa moléstia tão amplamente estimulada na sociedade terrena atualmente. O jogo escraviza o homem tal qual as drogas, contra as quais combatem com energia. O jogo de qualquer natureza é um mal, tanto para quem faz uso como para quem promove. Não podem imaginar o que envolve os ambientes de jogo. Falo do aspecto espiritual. Verdadeiros vampiros associam-se aos incautos e quanto mais se apaixonam pelo jogo, mais necessidade passam a ter dele. É prazer e sofrimento ao mesmo tempo. Escravidão e dolo. Afastem-se, caros irmãos, desse câncer que corrói seu ambiente. E não permitam que seus filhos façam uso dessa prática nem por divertimento, mesmo que venha com a capa da caridade e beneficência. Jesus abençoe a todos vocês”. – Um ex-viciado no jogo (auxiliado pelo Instrutor).  
 Mensagem mediúnica
Classificação: Evocação

Data: 19.10.99

Espírito: Um ex-viciado no jogo
SEEAK
O SUICIDA DO TREM

Eu nunca me esquecerei que um dia havia lido num jornal acerca de um suicídio terrível, que me impactou: um homem jogou-se sobre a linha férrea, sob os vagões da locomotiva e foi triturado. E o jornal, com todo o estardalhaço, contava a tragédia, dizendo que aquele era um pai de dez filhos, um operário modesto.
Aquilo me impressionou tanto que resolvi orar por esse homem.
 
Tenho uma cadernetinha para anotar nomes de pessoas necessitadas. Eu vou orando por elas e, de vez em quando, digo: se este aqui já evoluiu, vou dar o seu lugar para outro; não posso fazer mais.
Assim, coloquei-lhe o nome na minha caderneta de preces especiais - as preces que faço pela madrugada. Da minha janela eu vejo uma estrela e acompanho o seu ciclo; então, fico orando, olhando para ela, conversando. Somos muito amigos, já faz muitos anos. Ela é paciente, sempre aparece no mesmo lugar e desaparece no outro.
Comecei a orar por esse homem desconhecido. Fazia a minha prece, intercedia, dava uma de advogado, e dizia: Meu Jesus, quem se mata (como dizia minha mãe) "não está com o juízo no lugar". Vai ver que ele nem quis se matar; foram as circunstâncias. Orava e pedia, dedicando-lhe mais de cinco minutos (e eu tenho uma fila bem grande), mas esse era especial.
Passaram-se quase quinze anos e eu orando por ele diariamente, onde quer que estivesse.
Um dia, eu tive um problema que me fez sofrer muito. Nessa noite cheguei à janela para conversar com a minha estrela e não pude orar. Não estava em condições de interceder pelos outros. Encontrava-me com uma grande vontade de chorar; mas, sou muito difícil de fazê-lo por fora, aprendi a chorar por dentro. Fico aflito, experimento a dor, e as lágrimas não saem. (Eu tenho uma grande inveja de quem chora aquelas lágrimas enormes, volumosas, que não consigo verter).
Daí a pouco a emoção foi-me tomando e, quando me dei conta, chorava.
Nesse ínterim, entrou um Espírito e me perguntou:
- Por que você está chorando?
- Ah! Meu irmão - respondi - hoje estou com muita vontade de chorar, porque sofro um problema grave e, como não tenho a quem me queixar, porquanto eu vivo para consolar os outros, não lhes posso contar os meus sofrimentos. Além do mais, não tenho esse direito; aprendi a não reclamar e não me estou queixando.
O Espírito retrucou:
- Divaldo, e seu eu lhe pedir para que você não chore, o que é que você fará?
- Hoje nem me peça. Porque é o único dia que eu consegui fazê-lo. Deixe-me chorar!
- Não faça isto - pediu. - Se você chorar eu também chorarei muito.
- Mas por que você vai chorar? - perguntei-lhe.
- Porque eu gosto muito de você. Eu amo muito a você e amo por amor.
Como é natural, fiquei muito contente com o que ele me dizia.
- Você me inspira muita ternura - prosseguiu - e o amo por gratidão. Há muitos anos eu me joguei embaixo das rodas de um trem. E não há como definir a sensação da eterna tragédia. Eu ouvia o trem apitar, via-o crescer ao meu encontro e sentia-lhe as rodas me triturando, sem terminar nunca e sem nunca morrer. Quando acabava de passar, quando eu ia respirar, escutava o apito e começava tudo outra vez, eternamente. Até que um dia escutei alguém chamar pelo meu nome. Fê-lo com tanto amor, que aquilo me aliviou por um segundo, pois o sofrimento logo voltou. Mais tarde, novamente, ouvi alguém chamar por mim. Passei a ter interregnos em que alguém me chamava, eu conseguia respirar, para aguentar aquele morrer que nunca morria e não sei lhe dizer o tempo que passou. Transcorreu muito tempo mesmo, até o momento em que deixei de ouvir o apito do trem, para escutar a pessoa que me chamava. Dei-me conta, então, que a morte não me matara e que alguém pedia a Deus por mim. Lembrei-me de Deus, de minha mãe, que já havia morrido. Comecei a refletir que eu não tinha o direito de ter feito aquilo, passei a ouvir alguém dizendo: "Ele não fez por mal. Ele não quis matar-se." Até que um dia esta força foi tão grande que me atraiu; aí eu vi você nesta janela, chamando por mim.
- Eu perguntei - continuou o Espírito - quem é? Quem está pedindo a Deus por mim, com tanto carinho, com tanta misericórdia? Mamãe surgiu e esclareceu-me:
- É uma alma que ora pelos desgraçados.
- Comovi-me, chorei muito e a partir daí passei a vir aqui, sempre que você me chamava pelo nome.
(Note que eu nunca o vira, face às diferenças vibratórias.)
- Quando adquiri a consciência total - prosseguiu ele - já se haviam passado mais de catorze anos. Lembrei-me de minha família e fui à minha casa. Encontrei a esposa blasfemando, injuriando-me: "- Aquele desgraçado desertou, reduzindo-nos à mais terrível miséria. A minha filha é hoje uma perdida, porque não teve comida e nem paz e foi-se vender para tê-los. Meu filho é um bandido, porque teve um pai egoísta, que se matou para não enfrentar a responsabilidade.
Deixando-nos, ele nos reduziu a esse estado."
- Senti-lhe o ódio terrível. Depois, fui atraído à minha filha, num destes lugares miseráveis, onde ela estava exposta como mercadoria. Fui visitar meu filho na cadeia.
- Divaldo - falou-me emocionado - aí eu comecei a somar às "dores físicas" a dor moral, dos danos que o meu suicídio trouxe. Porque o suicida não responde só pelo gesto, pelo ato da autodestruição, mas, também, por toda uma onda de efeitos que decorrem do seu ato insensato, sendo tudo isto lançado a seu débito na lei de responsabilidades. Além de você, mais ninguém orava, ninguém tinha dó de mim, só você, um estranho. Então hoje, que você está sofrendo, eu lhe venho pedir: em nome de todos nós, os infelizes, não sofra! Porque se você entristecer, o que será de nós, os que somos permanentemente tristes? Se você agora chora, que será de nós, que estamos aprendendo a sorrir com a sua alegria? Você não tem o direito de sofrer, pelo menos por nós, e por amor a nós, não sofra mais.
Aproximou-se, me deu um abraço, encostou a cabeça no meu ombro e chorou demoradamente. Doridamente, ele chorou.
Igualmente emocionado, falei-lhe:
- Perdoe-me, mas eu não esperava comovê-lo.
- São lágrimas de felicidade. Pela primeira vez, eu sou feliz, porque agora eu me posso reabilitar. Estou aprendendo a consolar alguém. E a primeira pessoa a quem eu consolo é você.

O HOMEM E AS OBRAS

"Uma casa bem ou mal feita não torna o carpinteiro bom ou mau, mas um bom ou mau carpinteiro fará uma casa boa ou má; a obra não faz o mestre, a obra será exatamente como é o seu mestre. Portanto, as obras de um homem corresponderão também à sua fé ou falta de fé, de acordo com a qual serão boas ou más" – Martinho Lutero
Todo espírita cristão deveria ter contato com a doutrina desse monge agostiniano, que no ano de 1525 promoveu verdadeira guerra contra os domínios que a Igreja Católica mantinha sobre os povos do planeta. Foi ele quem deu vida à Reforma Protestante, iniciada por outros homens notáveis, como João Huss e João Wycliffe, abrindo espaço para que o pensamento humano pudesse respirar livremente, sem medo de ser sufocado pela fogueira.
Diversos textos de Lutero têm sido publicados por autores que o admiram e por outros que o detestam até às últimas consequências. Nos últimos dias o mercado literário recebeu mais uma obra do Reformador alemão, publicada pela editora Unesp. Trata-se do texto "Da liberdade do Cristão", um dos mais importantes trabalhos dessa figura controversa, que marcou a história da humanidade e cujo feito foi recentemente considerado o terceiro mais importante fato do milênio. No meio espírita, o pesquisador Hermínio Miranda publicou pela FEB, dois livros muito interessantes (As Marcas do Cristo, vol. I e II), que tratam da hipótese de que Martinho teria sido a encarnação de Paulo de Tarso, o Apóstolo dos Gentios.
Suposições à parte, as obras merecem ser examinadas por todos os espíritas que desejam instruir-se. Além de retratar detalhadamente a vida do Convertido de Damasco, o autor ainda discorre sobre a vida de Lutero, de sua luta para conseguir que o domínio papal fosse colocado definitivamente por terra.
O texto que colocamos na abertura desses escritos vem mostrar-nos a elevação desse expoente do pensamento cristão, responsável pela gênese do protestantismo. Acusado por seus inimigos de ter uma fé cega e de semear a ideia da predestinação, Martinho não é o monstro que tentam fazer parecer. Muitas de suas colocações foram e são mal interpretadas por indivíduos preconceituosos que, abertamente se posicionam contra a ideia da religião: os laicos de todos os tempos.
O primeiro ensinamento que se pode depreender do texto luterano é de que a obra do bem começa dentro do homem. É de dentro para fora que a edificação espiritual ser precisa ser trabalhada. De forma até que irônica, o Reformador diz que as obras más não fazem o homem mal, mas que o homem mal, sim, é quem faz as más obras. Ora, nada mais lógico. Se um general resolve despejar sobre uma cidade uma bomba atômica para destruir milhares de vida, seguramente não será a bomba, nem as mortes que o farão mal. O mal já existia dentro desse homem. Para adentrar os Planos Superiores da vida, precisaria de segura reforma moral, ainda que não jogasse a bomba. O mesmo se aplica às obras boas. Muita gente no Espiritismo pensa que fazer caridade (material) conduz à salvação. Há quem promova verdadeiras frentes de trabalhos, para deixar sua consciência em paz e garantir sua entrada nas colônias espirituais. Fala-se muito em melhorias morais, mas as obras exteriores fazem as pessoas acreditar que estão melhores interiormente e frequentemente a reforma interior fica esquecida.
Quando alguém chega numa casa espírita buscando ajuda espiritual, a primeira preocupação de seus dirigentes e trabalhadores deve ser a de instruir no campo da moral e da filosofia. Claro, não se deixará de ministrar a essa criatura os primeiros socorros (a desobsessão, a cura, o conforto, etc), mas a preocupação fundamental deverá ser obrigatoriamente a da instrução. E, se pode fazer isso de diversas maneiras. Pela ordem lógica: Palestras, livros, instruções pessoais, cursos de Espiritismo e por derradeiro as obras no campo da caridade (material). Não se deve inverter o processo, sob pena de se colocar a perder o trabalho que se pode fazer junto de quem veio ao centro buscar a água da Vida.
A palestra, temos afirmado, é o momento mais importante da casa espírita. Não dá para se compreender que no momento em que os ensinamentos vão ser ministrados pelo expositor, qualquer outra atividade possa estar se desenvolvendo simultaneamente. É na palestra que as pessoas são envolvidas pelo espírito do trabalho e começam a respirar uma atmosfera diferente daquela insalubre de onde saiu. Os livros, podem ser apresentados (aí entra o papel dos romances e obras subsidiárias sérias) logo de imediato, de modo que o Espírito do indivíduo possa ter contato com um novo mundo de idéias (as idéias espíritas). Mas tudo deve ser feito gradualmente, para que o excesso de luz não venha cegar. Evidente que não se vai negar o direito de alguém ajudar numa campanha ou mesmo promover realizações voluntárias no campo da caridade material. Mas não se pode esquecer que a caridade primeira é a moral.
Nos casos de tratamentos de obsessões tenazes, instruções pessoais poderão ser ministradas aos necessitados. É aconselhável, porém, que só depois de alguns meses de frequência regular à casa, sejam apresentados os cursos de Espiritismo. Cursos que oferecerão aprofundamento doutrinário e abrirão as portas para os interessados em tornarem-se membros da sociedade espírita. Um homem melhorado terá condições de fazer as boas obras, enquanto os homens comuns apenas fazem obras para o alívio de suas consciências, ou na espera de que Deus, por compaixão, resolva seus problemas. Eis a dura realidade.
Quando fala da fé, Lutero não ensina a fé cega. Ele mostra nesse pequeno trecho que a fé a seu ver, traduzia-se na idéia daquele que crê. E, por acreditar, faz as obras do Espírito. Daí, ele afirmar que sem fé o homem faria obras ruins e com fé, faria obras boas. Fé, para Martinho, era sinônimo de conhecimento, obediência e execução da Lei. Só a fé salvaria, afirmava e tinha razão. Ainda que fizesse boas obras materiais, um homem que não acreditasse em Deus ou conhecesse suas leis, estaria sem condições mentais para adentrar o Reino de Deus. Sim, o Pai o julgaria conforme a sua intimidade, mas a obra certamente seria incompleta, pois que despida do sal que salga, da luz que alumia. Que vale a obra que glorifica o próprio dono e não o Criador?
O Reformador alemão errou ensinando a predestinação, ou seja, a doutrina em que os homens já nasciam destinados ao bem ou ao mal. Este foi seu maior equívoco que, infelizmente, ainda é alimentado pela ortodoxia protestante. Mas trata-se de um equivoco compreensível. Sem a ideia da reencarnação a obra de Deus na Terra é incompleta e naquele tempo não se cogitava em torno dessas verdades até então consideradas "utopias". Este foi um dos maiores tormentos de Lutero, que não entendia os motivos pelos quais o Altíssimo criava homens para destinos tão diferentes. Mas de sua vida e doutrina podemos retirar pérolas preciosas, como esta que vimos. Evitemos, pois, inverter a ordem da instrução espiritual no trato com o encaminhamento do cristão. Primeiro a mudança interior, depois as obras.

José Queid Tufaile Huaixan

Texto publicado no site em 12/03/99