quinta-feira, 30 de junho de 2011

Um mundo de atraso
Texto publicado em 08/10/2009. Estamos em 30/06/2011. Leia e compare se houve mudanças significativas. Reflita.
Avizinha-se o ano dois mil. Em todos os tempos houve uma grande expectativa em torno desta época. Os antigos diziam que tudo aconteceria ao mundo antes desse tempo. As previsões apocalípticas, ou melhor, as interpretações dadas aos escritos do profeta, eram todas centradas em torno desta famigerada data. O homem avançou, as ciências ultrapassam barreiras jamais imaginadas, o ano dois mil chega e nada acontece. Pelo menos no sentido que muitos esperavam.
Fazendo uma reflexão sob o ponto de vista evolutivo do planeta, pode-se sentir que convive-se com algo de muito grave e estranho. O mundo clama por medidas saneadoras urgentes. O homem perdeu sua compostura moral. Nada o faz recuar diante do lucro, móvel de todas as suas ambições. O que acontece hoje no planeta ultrapassa em muito a capacidade de compreensão dos que não vêem a vida além da matéria. Como compreender tal coisa? O mundo piorou? Os homens pioraram? Mas não se propala que estamos entrando na famosa Nova Era e que o mundo nunca esteve tão bem? São indagações inquietantes que povoam as mentes nesta época de confusão, sofrimento e dor.
O que pode justificar, por exemplo, o que acontece com os meninos infratores neste país? Todos nós, participantes ativos desta sociedade, sabemos disso. Mas quando lemos uma matéria como a que saiu em revista de circulação nacional nesta semana, sobre a situação dos meninos e da instituição que foi criada para ampará-los, a sensação de fracasso é inevitável. "Aquilo é o inferno", foi a declaração do presidente do Sindicato dos Monitores da Febem. Declarações que calam fundo em nossas consciências de cristãos, que acreditamos ser irmãos de fato. Mas onde a irmandade nisso? Como podemos asserenar-nos encarando coisas dessa natureza com a normalidade de Pilatos? São crianças, não podemos esquecer. Por mais que cometam crimes, grandes ou pequenos, são criaturas ainda em formação, que por razões que se conhece de sobra, adentram numa dura realidade, deixando de lado seus sonhos, fantasias e necessidades.
O relato do monitor é pungente. Sofre também por saber-se responsável por aqueles indivíduos, e por saber que nada pode fazer por eles. Pelo menos dentro da posição em que se encontra. São encarados como marginais e o medo, a desconfiança e o poder são as marcas da dura convivência entre eles. De fato, é incompreensível. A instituição tem por objetivo promover o bem estar do menor. Promove invariavelmente sua formação delinquente. Os que estão ali sabem que quando se livrarem daqueles portões poderão retornar e eles ou a outros piores, pois irão para as ruas cometer delitos ainda maiores. Lá, não lhes foi dada nenhuma chance de modificar conceitos, ou alguma forma de trabalhar seus problemas pessoais. Foi-lhe ensinada a lei do mais forte. E o mais forte é quem comete mais crimes, quem faz a cara mais feia, quem odeia mais o monitor.
Dirão alguns dos que se ocupam em ler estes escritos que isso é apenas uma face dos problemas e que a realidade não pode ser tão feia assim. A realidade, na verdade, é bem pior. A sociedade brasileira sabe que o governo até hoje não encontrou solução para o menor delinquente. E não encontrará enquanto quiser atacar o problema em seu efeito, sem considerar a causa. Cria programas, instituições, conselhos disso, comissão daquilo, discute inutilidades e nada faz. A questão é: porque o menor vai paras as ruas? Sabe-se por que. Enquanto não houver uma justa distribuição de rendas e uma atenção adequada à educação, de nada adiantam medidas paliativas nessa direção. Os meninos que estão trancafiados naquele Carandiru mirim não são os ricos, mas os pobres, os com formação moral e intelectual deficientes, os de pais que trabalham, mas que nada possuem por possuírem um arremedo de salário, os de pais que vivem da comiseração pública, os que não têm pais, os que têm pais mas moram em outros estados e por aí vai. São crianças sem perspectivas de vida digna que vão para as ruas e defrontam-se com essa desigualdade aviltante que existe neste país de 30 milhões de miseráveis.
Apelar para quem? Nosso sistema judiciário, legislativo e executivo parece podre. Nossos meninos infratores parecem anjinhos perto dos delitos cometidos por esses, que afinal são os nossos representantes. Hoje, não temos segurança em nada, no aspecto da cidadania. Estamos envoltos em um mar de denúncias jamais visto. Não se sabe mais qual foi a última, tantas são as imoralidades registradas. Os focos de destrambelho se multiplicam e aqui ficamos atônitos, com mais um, dois, três, dez relatos de situações ilícitas envolvendo pessoas consideradas idôneas, do ponto de vista social e político. Podemos ter esperanças de que daqui a um pouco esse panorama se modificará? Se temos conhecimento que o mundo só será melhor quando os homens forem melhores, como isso se dará? Teremos que aguardar ainda por quanto tempo até que o homem se decida por uma conduta d igna?
Sabe-se que de alguma forma o mundo entrará em fase de melhoria, em tempos que não se pode precisar. A impressão que se tem é que haverá uma grande tempestade, arrastando do mundo os miasmas insalubres, para depois descer sobre a Terra as chuvas saneadoras que a farão produzir mais e melhor. A metáfora bem serve para pensarmos de que forma isso se dará. Decerto não será esperando que o homem acorde agora para o fato de que ele é um ser universal e que existem leis que o regem. Leis imutáveis que quando infringidas criam inevitavelmente situações de graves compromissos, tal qual as leis civis tão habilmente criadas por eles. A humanidade encontra-se adormecida para esse fato. É difícil para um mundo, onde os valores são conferidos pelo tanto de cifras acumuladas, ou de títulos adquiridos, pensar de forma diferente em pouco tempo. Trabalhar pelo bem com um é apenas retórica. Os sete países mais ricos lutam para continuar mais ricos sempre e parecem fazer um esforço para que outros não façam parte desse seleto grupo. Coisas do materialismo.
O que falta para que a humanidade entre na compreensão das coisas essenciais? Simples. Falta mudar seu ponto de vista sobre a vida. Enquanto achar que a vida se resume entre o nascer e o morrer e que mais vale juntar tesouros na terra do que no reino do Espírito, estará sempre trilhando caminhos que o levarão cada vez mais para a destruição de si mesmo. A sociedade atual dá mostras cabais de sua decadência, por conta desse pensamento. Se não existe nada além do presente, porque o homem lutaria para ter uma vida melhor em termos morais? Nada mais coerente que lutar para ter bens e se locupletar deles, enquanto vivo. E aí se justificam as insanidades que realiza para adquirir os desejados valores transitórios, ou seja, dinheiro, fama e poder. O sentido niilista da vida aniquila no homem o que ele tem de mais importante, limita sua visão de mundo e destrói su as potencialidades de crescimento.
Se, ao contrário, raciocinar com a visão imortalista poderá mudar radicalmente seus interesses e voltar-se para uma prática superior de vida, centrando sua atenção no crescimento individual e coletivo. Sabedor da transitoriedade de tudo, aproveitará a oportunidade da vida para angariar para si os valores imperecíveis do Espírito, dando apenas um valor relativo aos bens perecíveis da matéria. Saberá, por exemplo, que se estiver de posse de uma tarefa, qualquer que seja, terá contas a prestar no tribunal de sua consciência, e que Deus que lhe deu tudo, poderá tudo lhe retirar também, se mau uso fizer de suas faculdades e compromissos assumidos com a vida. Os homens públicos tratariam das coisas públicas com o devido respeito, pois saberiam que estão em uma missão de muita gravidade, afinal muitas vidas dependem de suas ações no campo das realizações políticas e sociais. Tratariam de formular leis mais justas e realizar esforços no sentido de promover o bem comum. A educação cuidadosa daria à criança a noção de sua condição de cidadão e mais tarde a consciência ao homem de sua universalidade.
Este é o panorama do mundo de regeneração que se aproxima. A humanidade há que entrar nesse entendimento de uma forma ou de outra. A doutrina da fraternidade deverá permear todas as crenças e Jesus, iluminado Espírito que conduz todo esse processo, poderá finalmente pensar que valeu seu esforço quando aqui chegou há dois milênios para deixar uma mensagem de humildade e retidão para uma humanidade entregue à escuridão da ignorância. Com a visão imortalista a explicação para os problemas será de mais fácil aceitação, pois o homem saberá que, se passa por situações de dificuldades certamente é por estar sob o jugo de uma lei, agora para ele não mais desconhecida. Leis universais de equilíbrio que o fazem compreender o mecanismo dinâmico da vida e suas consequências.
Resta saber quando entraremos nessa ventura. O tempo, ninguém o sabe, disse Jesus. Mas pode-se antever, pela situação de descontrole atual, que ele não tarda. Bom que se faça uma reflexão no sentido de nos situarmos diante desse contexto. Estaremos contribuindo para a regeneração do planeta ou para a sua perdição? Os que estiverem dançando conforme a música do mundo não terão vez na nova casa. Quando tiver acabado sua jornada terrena, não retornarão tão cedo para este planeta. Habitarão mundos condizentes com sua atitude mental de atraso e concupiscência.

Autor: Vanda Simões
E-mail: vanda@elo.com.br

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