quinta-feira, 7 de julho de 2011

Paulo de Tarso e os doutores

"Reparai, pois, na vossa vocação; visto que não foram chamados muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos de nobre nascimento. Pelo contrário, Deus escolheu as cousas loucas do mundo para envergonhar os sábios; e escolheu as cousas fracas do mundo para envergonhar as fortes; e escolheu as coisas humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas que não são, para reduzir a nada as que são; a fim de que ninguém se vanglorie na presença de Deus”. (Paulo aos Coríntios, I: 26 a 29)
Após Jesus ter retornado à pátria espiritual, assumiu a tarefa de divulgar Sua doutrina o homem que, em princípio, O havia condenado. Depois de um encontro magistral com o Mestre, no caminho de Damasco, Paulo de Tarso, um judeu de cidadania romana, desfraldou o mais importante movimento de disseminação da Boa Nova que se têm notícia, uma vez que levava a mensagem principalmente para o povo pagão, para as pessoas de coração simples, e pela primeira vez. Analisando hoje as condições em que ele trabalhava e a forma como se locomovia entre as cidades, pode-se afirmar que esse homem tinha algo de excepcional que o movia, dada as extremas dificuldades que enfrentou. Em uma de suas cartas aos coríntios, em que se defende de seus detratores que não reconheciam nele um apóstolo de Cristo, debulhou seu sofrimento por amor ao Evangelho: açoites, prisões, apedrejamento, naufrágio, assaltos, fome, sede, vigílias, frio, nudez, jejuns, perigos entre patrícios, entre gentios, entre salteadores, entre falsos irmãos.
Em suas mãos ficou a tarefa maior de fazer o povo compreender a missão de Jesus. Sob sua responsabilidade repousou a façanha de não deixar morrer aquela que seria a mola propulsora da evolução do homem no planeta. Se a doutrina de Jesus Cristo tivesse permanecido apenas em Jerusalém ou se tivesse sido divulgada apenas entre os judeus, hoje não passaria de uma seita judaica, se já não estivesse extinta. Paulo de Tarso foi, portanto, o homem responsável por esse hercúleo trabalho e por ele deu literalmente sua vida. Significa dizer que todos os que se dizem seguidores de Jesus deveriam ter por esse mestre o maior respeito, admirar seu trabalho e tentar imitar seu exemplo de abnegação e altruísmo aos ideais do Cristo. As cartas por ele deixadas e devidamente sancionadas como autênticas pela história, são verdadeiras fontes de conhecimento sobre o espírito que deve animar os discípulos de Jesus.
Entretanto não é o que acontece. Uma parte do desarrumado movimento espírita, aonde se encontram os chamados laicos, os livres pensadores, os que já se consideram “além de Allan Kardec”, incluindo aí os holistas, tevepistas, neurolingüísticos e outras tantas invencionices, tratam desse assunto com explícito preconceito e ironia. Como abominam qualquer coisa que consideram ter “ranço religioso”, vêem no apóstolo Paulo nada mais que um judeu que introduziu o judaísmo na mensagem de Jesus. Desconsideram seus escritos e seu valor como o maior apóstolo do Cristo e, por ter fundado o movimento cristão, acham que o cristianismo é uma coisa e a mensagem do Cristo é outra. Que grande confusão fazem.
Nas cartas desse missionário, que foi o primeiro a manifestar o pensamento protestante, tão duramente condenado pelos espíritas, há ensinos de grande sabedoria, muitos dos quais não se pode avaliar com as vistas embotadas pelo orgulho e vaidade dos que se consideram sábios. Sábios segundo o mundo, de acordo com o alerta de Allan Kardec no capítulo VII, item 2, de O Evangelho segundo o Espiritismo. Esses certamente darão risinhos de desdém pelo texto de abertura deste escrito, bem como pela opinião sobre o Apóstolo. Natural, pois consideram religião coisa de pessoas “menores” e limitadas. Atitude muito semelhante aos detratores de Paulo, no passado, embora o motivo fosse bem outro.
No texto acima Paulo trata da doença maior do homem: o orgulho. Esclarece que Deus escolheu a humildade para ensinar aos soberbos, aos orgulhosos, aos vaidosos e a todos os tolos, a grandeza de Sua obra. Enviou a mensagem não entre os que se consideravam sábios, mas entre os humildes de coração. Não entre os que se consideravam justos, mas entre os pecadores. Não entre os sãos, mas entre os doentes da alma e do corpo. Para confundir os orgulhosos e glorificar os justos, no dizer do Espírito de Verdade. Através da Lei de Causa e Efeito, mostra ao homem que ele nada é por si mesmo e que em tudo depende de estar em sintonia com as leis universais. A desobediência a essas leis gera todo o sofrimento e desequilíbrio que ora o mundo experimenta.
Vivemos em um tempo de muita desordem. O homem têm imensa dificuldade em aplicar a ética da moral do Cristo em sua vida prática. Anseia por dias melhores, mas melhores no ponto de vista essencialmente material. Freqüenta igrejas, templos evangélicos, centros espíritas, terreiros, tendas de consulentes apenas em busca do que é transitório. Quer boa casa, boa comida., carro do ano e se puder, um(a) companheiro(a) rico e apaixonado (a). Até aí nada estapafúrdio, se a pessoa não centrasse sua atenção unicamente nesse objetivo. Não tendo outra razão para viver, acalenta na alma essa meta como um tesouro a conquistar. Se for apresentado a ele outro ponto de vista, pode ser que venha a modificar sua conduta, melhorando sua qualidade de vida, no sentido do que é verdadeiro e eterno.
Sabe-se que o planeta é atrasado moralmente. Evidentemente que os Espíritos que nele habitam também. Teria, portanto, a religião (no seu sentido verdadeiro) um papel fundamental nesse processo de formação moral do ser, agindo como um farol iluminador de consciências, auxiliando na construção de um mundo novo, a partir do novo homem que deveria emergir da compreensão do que é a vida. Teoricamente, no processo de instrução estariam os mais adiantados, pois não se pode admitir que o homem instrua-se a si mesmo, assim como uma criança não se instrui sozinha. Mas os mais adiantados intelectualmente nem sempre o são moralmente, pois via de regra o brilho da academia ofusca os mais tolos e o orgulho exacerba-se na alma dos que teriam maiores condições de compreensão. Ao lado disso há todo um estranho pensamento de que não se deve interferir nas opções de ninguém, pois o homem é livre para fazer suas escolhas. E é mesmo. Por conta das escolhas do homem o mundo encontra-se na atual condição de destrambelho.
O apóstolo fala de uma condição especial que o Espírito deve adquirir para atingir a sabedoria: a humildade. Fala de como Deus (ou as leis) trata os que se vangloriam de seu saber, os que não aceitam as peias da Lei pela soberba que dormita em sua intimidade. Apesar de ter se passado dois milênios o ensino de Paulo é atual, por causa da morosidade com que se avança em moralidade. O que se identifica hoje dentre os que poderiam ser utilizados na semeadura da mensagem de Jesus no mundo é a falta da virtude maior, mãe de todas as outras. A religião é considerada sinal de atraso, de “gente menor” por esses que se consideram detentores da sabedoria universal. Enquanto repudiam os religiosos, dão asas aos pensamentos de megalomania espiritual e vêem na salada chamada holismo a grande saída para o mundo, mesmo que a maior parte do planeta ainda esteja se rastejando, na infância do conhecimento. O tempo mostrará por quais caminhos o mundo terá que percorrer para chegar ao seu destino. Com certeza não será destruindo e desprezando os ensinos dos grandes mestres e a sabedoria de Deus.
Nós, do Movimento de Reformas, estudamos com muito respeito os textos bíblicos. Temos um dia de estudos especificamente dedicado ao exame das Escrituras, alicerçados pelas ferramentas que a Doutrina dos Espíritos nos dá. Por esta razão, somos frequentemente criticados e tachados de protestantes, como se isso se constituísse defeito, imperfeição, atraso. Dizem esses “sábios” que as Escrituras nada têm a ver com a Doutrina Espírita, tendo de ser vista apenas como um livro de valor histórico. Respeitamos essa postura, mas temos a dizer que essas pessoas infelizmente nada entendem nem de Escrituras, nem de protestantes. E, provavelmente, tampouco da mensagem de Jesus. Se estamos certos ou não, o tempo dirá. E os frutos também. 

Autor: Vanda Simões

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