quinta-feira, 20 de setembro de 2012

POR QUE SOFRE O HOMEM

Diante da situação atual da humanidade temos nos perguntado a razão pela qual o homem permanece envolvido em tantos sofrimentos. Poderíamos responder comodamente que isso faz parte da evolução do Espírito e nada do que acontece está fora dos planos divinos de organização do orbe. Seria correto, sem dúvida, se não considerássemos o livre-arbítrio da criatura, chave que explica todos os caminhos e atalhos pelos quais trilha o Espírito. Estudando detidamente o assunto em O Livro dos Espíritos se pode compreender com facilidade porque não se pode tudo atribuir à condição do Espírito e à necessidade que tem de passar pelos mundos de provas e expiações. Se assim fosse, teríamos de admitir a doutrina das fatalidades que anula a vontade do ser e o escraviza a uma divindade injusta e desarrazoada.
É sabido, através dos ensinos dos Espíritos superiores, que a Terra é um planeta atrasado, ocupando o segundo lugar na classificação dos mundos, na frente apenas dos mundos primitivos. Nesse sentido é um planeta ainda novo e abriga Espíritos em igual condição. Allan Kardec comparou a Terra a um hospital e, como tal, chegam a ele os doentes ou necessitados de algum tipo de ajuda. Somos, portanto, seres imperfeitos, inacabados, mais próximos do ponto de partida do que do de chegada, não sendo razoável arrogar-nos como bons, como mestres, mesmo que se tenha alguma condição de instruir outros nos vários campos do conhecimento humano ou divino.
Resulta daí que se deva ter um olhar de condescendência e considerar normal a situação atual do planeta? Cremos que não, afinal já se vão muitos séculos de esforço da Espiritualidade em mostrar um caminho para a humanidade e ela não dá mostras de estar disposta a deixar seus valores transitórios para se ocupar dos eternos. Também não se pode pôr tudo na conta da ignorância, achando que o homem lenta e preguiçosamente um dia encontrará seu caminho, pois hoje os meios de que dispõe para sua instrução estão à sua inteira disposição e os avanços conquistados pela ciência nos últimos 50 anos superam os quase quatro mil anos de estagnação.
Que pensar então? A Doutrina Espírita trouxe para o homem graves revelações. Na verdade, retirou o véu dos mistérios que envolviam as revelações anteriores trazidas por Jesus. Esclareceu a origem do homem e as consequências que pode tirar de suas experiências terrenas, como Espírito imortal que é. Não quer nada mais que endereçar a criatura ao encontro de si mesma, estimulando o autoconhecimento e, a partir daí, ter o surgimento de um novo homem, que gradativamente se molda ao equilíbrio com o Criador, entrando definitivamente no entendimento das leis divinas que regem o Universo. Mas isso leva um tempo.
Analisando as situações, talvez com olhos vesgos ainda, podemos perceber que o que falta ao homem nada mais é que o sentido de vida. Ele na verdade não sabe quem é, de onde vem nem para onde vai, depois que seus olhos se fecharem definitivamente nesta vida. E não procura saber. Vive da mesma forma em que vivia nas comunidades pastoris do início da civilização, pois busca apenas atender suas necessidades materiais. Apesar da maioria da população do planeta ter uma crença em que diz se apoiar espiritualmente, e das pesquisas mostrarem que mais de 70% da população do globo se diz espiritualista, percebe-se que essa convicção não traz ao homem qualquer consequência de ordem moral, não tendo, portanto nenhum efeito sobre as mudanças de postura que deveria ter para que o mundo se configurasse de melhor condição.
E porque assim se dá? O que ainda lhe obscurece a razão é o orgulho que não o deixa ver além do que quer enxergar. Falta-lhe a certeza da imortalidade, certeiro golpe de morte no materialismo. A doutrina do nada nutre as idéias que comandam o mundo e arrasta as almas ignorantes para os atalhos onde se defronta com a miséria moral, com a dor e atrozes sofrimentos. Mas e a lei de causa e efeito? E Deus, estará fora disso, de "braços cruzados" assistindo a humanidade se esfacelar? Ou está aguardando que o homem decida por ele mesmo a hora em que finalmente se dobrará às evidências?
A Doutrina Espírita ensina que, apesar da inexorabilidade da Lei, é evidente que os caminhos do homem são traçados por seu livre-arbítrio. Chegar mais cedo ou mais tarde à perfeição é escolha sua. Avançar ou permanecer no mesmo lugar depende do seu esforço. Deus oferece ao homem os instrumentos, mas o uso que fará deles é de inteira responsabilidade da criatura. Essa é a razão pela qual o planeta se encontra na condição de descontrole moral em que está. Por muitos séculos semeou o grão podre, baseado em seus interesses poucas vezes nobres. Agora se depara com o resultado disso no fim de um ciclo que têm se dado sob os olhares estupefatos de quem se dá ao trabalho de ver além das circunstâncias.
O que moveu o homem em todos esses anos foi o orgulho e o egoísmo, duas terríveis barreiras para a emancipação do Espírito. O que o fará livre disso é a compreensão e observação das leis de Deus, entre nós há 3500 anos. O avanço intelectual do homem o tem deixado anestesiado para as coisas de Deus, e em um meio onde deveria fomentar esse espírito de entendimento, já que o homem necessita do avanço intelectual para ter um alcance do lado moral, falar dos ensinos de Jesus é dar um atestado de ignorância. Mesmo entre os intelectuais espíritas, há um preconceito velado pelos que se detém em examinar os ensinamentos da Lei para tirar disso as reais consequências de instrução para o Espírito. São chamados pejorativamente de evangélicos, como se essa condição configurasse um atraso. Mais uma vez o orgulho a permear as ações e pensamentos.
Perguntamos: De onde o homem tirará outra mensagem que possa conduzi-lo ao equilíbrio? Dos livros de auto ajuda? Dos tratados das ciências do mundo? Dos livros de neurolinguística? Dos ambientes infestados de orgulho e vaidade das academias? Das psicografias de Espíritos das colônias transitórias? Dos escritos de médiuns orgulhosos e vaidosos? Não! Pois, como disse o Espírito de Verdade a Allan Kardec, "a verdade não pode ser interpretada pela mentira". A mensagem está entre nós há tempos. Só precisamos compreendê-la e tomá-la definitivamente como modelo de conduta.
Portanto, sigamos neste grande hospital procurando o remédio certo. O médico, apenas um: Jesus Cristo, o mestre. Mas não desanimemos, pois mesmo num hospital há diversidade de pacientes. Há os doentes muito graves, os de condição menos graves, os com doenças comuns, os em fase de convalescença e os de alta. Embora estes últimos sejam poucos ainda, vivamos de forma a que possamos um dia aqui chegar na condição de dedicados enfermeiros ajudando o médico na recuperação de doentes da alma. Mas ainda resta uma grande estrada a percorrer.

Texto publicado em 05/05/2000

Autor: Vanda Simões

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