POR QUE SOFRE O HOMEM
Diante da situação atual da humanidade temos nos perguntado a razão pela
qual o homem permanece envolvido em tantos sofrimentos. Poderíamos responder
comodamente que isso faz parte da evolução do Espírito e nada do que acontece
está fora dos planos divinos de organização do orbe. Seria correto, sem dúvida,
se não considerássemos o livre-arbítrio da criatura, chave que explica todos os
caminhos e atalhos pelos quais trilha o Espírito. Estudando detidamente o
assunto em O Livro dos Espíritos se pode compreender com facilidade porque não
se pode tudo atribuir à condição do Espírito e à necessidade que tem de passar
pelos mundos de provas e expiações. Se assim fosse, teríamos de admitir a
doutrina das fatalidades que anula a vontade do ser e o escraviza a uma divindade
injusta e desarrazoada.
É sabido, através dos ensinos dos
Espíritos superiores, que a Terra é um planeta atrasado, ocupando o segundo
lugar na classificação dos mundos, na frente apenas dos mundos primitivos.
Nesse sentido é um planeta ainda novo e abriga Espíritos em igual condição.
Allan Kardec comparou a Terra a um hospital e, como tal, chegam a ele os
doentes ou necessitados de algum tipo de ajuda. Somos, portanto, seres
imperfeitos, inacabados, mais próximos do ponto de partida do que do de chegada,
não sendo razoável arrogar-nos como bons, como mestres, mesmo que se tenha
alguma condição de instruir outros nos vários campos do conhecimento humano ou
divino.
Resulta daí que se deva ter um olhar
de condescendência e considerar normal a situação atual do planeta? Cremos que
não, afinal já se vão muitos séculos de esforço da Espiritualidade em mostrar
um caminho para a humanidade e ela não dá mostras de estar disposta a deixar
seus valores transitórios para se ocupar dos eternos. Também não se pode pôr tudo
na conta da ignorância, achando que o homem lenta e preguiçosamente um dia
encontrará seu caminho, pois hoje os meios de que dispõe para sua instrução
estão à sua inteira disposição e os avanços conquistados pela ciência nos
últimos 50 anos superam os quase quatro mil anos de estagnação.
Que pensar então? A Doutrina Espírita
trouxe para o homem graves revelações. Na verdade, retirou o véu dos mistérios
que envolviam as revelações anteriores trazidas por Jesus. Esclareceu a origem
do homem e as consequências que pode tirar de suas experiências terrenas, como
Espírito imortal que é. Não quer nada mais que endereçar a criatura ao encontro
de si mesma, estimulando o autoconhecimento e, a partir daí, ter o surgimento
de um novo homem, que gradativamente se molda ao equilíbrio com o Criador,
entrando definitivamente no entendimento das leis divinas que regem o Universo.
Mas isso leva um tempo.
Analisando as situações, talvez com
olhos vesgos ainda, podemos perceber que o que falta ao homem nada mais é que o
sentido de vida. Ele na verdade não sabe quem é, de onde vem nem para onde vai,
depois que seus olhos se fecharem definitivamente nesta vida. E não procura
saber. Vive da mesma forma em que vivia nas comunidades pastoris do início da
civilização, pois busca apenas atender suas necessidades materiais. Apesar da
maioria da população do planeta ter uma crença em que diz se apoiar
espiritualmente, e das pesquisas mostrarem que mais de 70% da população do
globo se diz espiritualista, percebe-se que essa convicção não traz ao homem
qualquer consequência de ordem moral, não tendo, portanto nenhum efeito sobre
as mudanças de postura que deveria ter para que o mundo se configurasse de
melhor condição.
E porque assim se dá? O que ainda lhe
obscurece a razão é o orgulho que não o deixa ver além do que quer enxergar.
Falta-lhe a certeza da imortalidade, certeiro golpe de morte no materialismo. A
doutrina do nada nutre as idéias que comandam o mundo e arrasta as almas
ignorantes para os atalhos onde se defronta com a miséria moral, com a dor e
atrozes sofrimentos. Mas e a lei de causa e efeito? E Deus, estará fora disso,
de "braços cruzados" assistindo a humanidade se esfacelar? Ou está
aguardando que o homem decida por ele mesmo a hora em que finalmente se dobrará
às evidências?
A Doutrina Espírita ensina que,
apesar da inexorabilidade da Lei, é evidente que os caminhos do homem são
traçados por seu livre-arbítrio. Chegar mais cedo ou mais tarde à perfeição é
escolha sua. Avançar ou permanecer no mesmo lugar depende do seu esforço. Deus
oferece ao homem os instrumentos, mas o uso que fará deles é de inteira
responsabilidade da criatura. Essa é a razão pela qual o planeta se encontra na
condição de descontrole moral em que está. Por muitos séculos semeou o grão
podre, baseado em seus interesses poucas vezes nobres. Agora se depara com o
resultado disso no fim de um ciclo que têm se dado sob os olhares estupefatos
de quem se dá ao trabalho de ver além das circunstâncias.
O que moveu o homem em todos esses
anos foi o orgulho e o egoísmo, duas terríveis barreiras para a emancipação do
Espírito. O que o fará livre disso é a compreensão e observação das leis de
Deus, entre nós há 3500 anos. O avanço intelectual do homem o tem deixado
anestesiado para as coisas de Deus, e em um meio onde deveria fomentar esse
espírito de entendimento, já que o homem necessita do avanço intelectual para
ter um alcance do lado moral, falar dos ensinos de Jesus é dar um atestado de
ignorância. Mesmo entre os intelectuais espíritas, há um preconceito velado
pelos que se detém em examinar os ensinamentos da Lei para tirar disso as reais
consequências de instrução para o Espírito. São chamados pejorativamente de
evangélicos, como se essa condição configurasse um atraso. Mais uma vez o
orgulho a permear as ações e pensamentos.
Perguntamos: De onde o homem tirará
outra mensagem que possa conduzi-lo ao equilíbrio? Dos livros de auto ajuda?
Dos tratados das ciências do mundo? Dos livros de neurolinguística? Dos
ambientes infestados de orgulho e vaidade das academias? Das psicografias de
Espíritos das colônias transitórias? Dos escritos de médiuns orgulhosos e
vaidosos? Não! Pois, como disse o Espírito de Verdade a Allan Kardec, "a
verdade não pode ser interpretada pela mentira". A mensagem está entre nós
há tempos. Só precisamos compreendê-la e tomá-la definitivamente como modelo de
conduta.
Portanto, sigamos neste grande
hospital procurando o remédio certo. O médico, apenas um: Jesus Cristo, o
mestre. Mas não desanimemos, pois mesmo num hospital há diversidade de
pacientes. Há os doentes muito graves, os de condição menos graves, os com
doenças comuns, os em fase de convalescença e os de alta. Embora estes últimos
sejam poucos ainda, vivamos de forma a que possamos um dia aqui chegar na
condição de dedicados enfermeiros ajudando o médico na recuperação de doentes
da alma. Mas ainda resta uma grande estrada a percorrer.
Texto publicado em 05/05/2000
Autor: Vanda Simões
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