quinta-feira, 1 de setembro de 2011


Aylton Paiva 
paiva.aylton@terra.com.br

Nestes dias tenho viajado a bordo da estação espacial internacional – ISS, em
companhia do astronauta brasileiro Marcos Pontes.
Estamos em um pequeno compartimento da Estação, Marcos olha pela janelinha
e contempla o maravilhoso globo azul que gira no espaço.
Mais além milhares e milhares de pontos cintilantes em contraste com um fundo
negro assinalam planetas, sóis, constelações e galáxias.
Seus pensamentos começam a fluir.
-   Olho para a Terra ao meu lado e percebo quão frágil é o nosso corpo,
um simples ser humano, perante uma enorme esfera azul.
Essa idéia dispara um sentimento estranho. Imediatamente se dissipam no
ar alguns dos nossos grandes paradigmas da vida.
Deixo a imaginação “vagar”, solta em uma corrente de pensamento difíceis
de avaliar sob um prisma lógico.
Evito julgar qualquer dos seus aspectos pelos nossos critérios e restrições do
consciente. É como se eu estivesse em um transe, perdendo o sentido da realidade.
“De que vale poder, dinheiro, fama e outras coisas do tipo? Nós não possuímos
nada, realmente nada, deste universo; ao contrário somos apenas parte dele. Como pode haver tanta discriminação, ódio, guerras, discórdia e divisões nesse planeta? Isto é ser inteligente? E o que pensam aqueles arrogantes?  Aqueles que se acham no direito de falar mal dos outros e agir como se fossem superiores? Todos nós somos insignificantes. Ninguém é melhor do que ninguém.Somos uma simples espécie sobrevivendo na superfície desse planeta apenas por uma “fração de segundo” na escala de tempo do universo. Mesmo assim, com a nossa ilusão de conhecimento e a ânsia de controlar o ambiente à nossa volta, estamos destruindo nosso único lar. Isso é ser inteligente?” (1)
Essas reflexões de  Marcos Pontes são muito importantes.
Ali está a criança, o jovem, o homem nascido em Bauru, de família pobre, criado
na Vila Bela Vista que, já aos quatorze anos trabalhava como eletricista nas oficinas da antiga Estrada  de Ferro da Noroeste.
Estudou em escola do SESI e profissionalmente cursou escola do SENAI.
Seu sonho sempre foi voar.
Quando expunha seus “planos” de ser piloto de avião, a resposta de muitos
dos seus colegas era:
- Oh Marcos, qual é? Você é pobre e não tem dinheiro para pagar um curso
tão caro como esse.
Ele superou esse obstáculo e muitos outros.
Fez o curso de piloto na Academia da Aeronáutica.
Cursou engenharia da aeronáutica do Instituto Tecnológico da Aeronáutica.
Como candidato concorreu com muitos outros para a primeira vaga de
astronauta brasileiro.
Estudou, vivenciou e lutou dez anos para conseguir fazer o seu primeiro vôo
ao espaço, para a estação orbital internacional.
Tinha um lema: definir objetivo, planejar sua execução, persistir até a realização.
30 de março de 2006 voava para a Estação Espacial Internacional.
Sua mãe ensinou-lhe: não desista de seus sonhos!
Volto a “ouvir” os pensamentos de Marcos:
-“ Nós também representamos o mesmo paradoxo: somos insignificantes e
especiais ao mesmo tempo.
O Universo está no princípio, no agora e no final; está aqui e em todos os lugares ao mesmo tempo. Todos somos feitos das mesmas coisas; somos as mesmas coisas.
Cada um de nós é parte do todo chamado universo; cada um de nós “é  universo”;
uma manifestação do universo, neste lugar, neste instante. O universo está dentro
de nós; e todos somos interligados por isso... (2)
Tocou a campanhainha. Precisava atender.
Momentaneamente parei de “ouvir” o Marcos em suas maravilhosas e profundas reflexões.
O homem fora da Terra relatava a grandiosidade das nossas vidas, do nosso planeta e do Universo.
Fechei o livro: Missão Cumprida.
Fui atender ao chamado, imerso, também, em profundas reflexões: quem somos?
De onde viemos? Para onde iremos?

Bibliografia:
(1) e (2)  Missão Cumprida. A História da Primeira Missão Espacial Brasileira.
Pontes, Marcos. ( págs. 312 e 313). Ed. Michilliard, 1ª edição 2011.

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