A VOLTA DOS MONSTROS
Nos últimos dias a
economia de nosso país passou da turbulência em que estava já há algum tempo e,
conforme se prenunciava, entrou num verdadeiro caos. Com a desvalorização do
real houve uma verdadeira corrida para compra do dólar, moeda americana
referência no mundo todo, obrigando o Banco Central a queimar grande parte das
reservas nacionais na tentativa de segurar o valor de nossa moeda. Não
conseguindo evitar a constante desvalorização do real, para evitar uma sangria
maior nas reservas, o governo resolveu liberar de vez o câmbio. O que vimos
então foi, de um lado a euforia dos exportadores e dos que têm os produtos
importados como concorrentes diretos e, de outro, a sombra da volta do monstro
da inflação, o maior pesadelo das últimas décadas.
A ganância em ganhar
mais com a crise, fez com que muitas empresas iniciassem um aumento dos preços
dos seus produtos de forma indiscriminada, tirando da poeira e das teias de
aranha acumuladas nos últimos 4 anos a famosa maquininha de remarcação de
preços. Mesmo os produtos que não têm nenhum componente importado ou aqueles
que mesmo tendo, possuem estoques com preços antigos, resolveram alterar os
preços. Até os prestadores de serviços, que certamente não têm seus custos
dolarizados, entraram na ciranda do aumento de preços.
Isso tudo, aliada às
declarações intempestivas de alguns políticos e a falta de decisões de outros,
fez com que caísse a credibilidade de nosso país no exterior, dificultando
novos créditos e fazendo com que o capital especulativo que aqui estava fosse
retirado. Está criado assim o cenário da crise, da instabilidade que poderá
levar nosso país à bancarrota.
Não pretendemos aqui
discutir ou explicar as causas e soluções para a situação econômica do país, já
que não somos economistas, embora tenhamos já vivido tantas crises semelhantes
a esta, como todo brasileiro, nos sentimos quase entendidos nesta área.
Deixemos isto a cargo dos especialistas no assunto que, aliás, são muitos,
principalmente após a deflagração da crise. Depois do fato consumado, o que
mais aparece são os entendidos a opinar de como deveria ter sido a conduta
desta ou aquela autoridade envolvida nos destinos do país. O difícil é decidir
no calor dos fatos e encontrar soluções acertadas que agradem a todos os
interesses.
Referimos-nos à
situação econômica do país, aproveitando a crise que polariza a atenção da
maioria da população, apenas para traçar um paralelo entre os problemas atuais
vividos pela nação na área econômica com os dramas íntimos que vivemos
diariamente.
Quando entramos no
conhecimento das razões de nossa existência e do objetivo da vida presente,
percebendo que nossa presença na matéria faz parte da caminhada do Espírito
rumo à perfeição para qual foi criado por Deus, compreendemos que este
progresso espiritual só se faz com a melhoria moral pessoal no combate aos
vícios que tanto nos atrapalham e nos desviam do caminho do bem. É a luta
interior do bem contra o mal. É a incessante busca da eliminação dos vícios
morais, que são tantos, e que nos trazem sérias consequências, nos mantendo no
atraso espiritual.
Para eliminação de
algumas destas práticas, a compreensão da necessidade de mudança e algum
esforço proporcionam o seu desaparecimento de nosso dia-a-dia. Outras, porém,
de tão enraizadas em nossa vida presente, se tornaram verdadeiros monstros a
nos assombrar. Por vezes passamos uma vida a combatê-los e não logramos êxito.
É bem verdade que este combate nos fortalece para enfrentá-los novamente em
outra vida, oportunidade que Deus em sua misericórdia nos dá.
Muitas vezes
acreditamos que conseguimos eliminar um destes monstros que habitam em nossa
intimidade, porém ao nos defrontarmos com uma situação que nos coloca à prova,
vemos que ele estava apenas adormecido e volta a nos aterrorizar.
Sabemos que esta vida,
em função de nosso baixo nível evolutivo, é de constante luta e que a vitória
final só virá quando efetivamente conseguirmos nos livrar do orgulho, vaidade e
egoísmo que são a origem de todos outros vícios morais que vivem a nos
atormentar.
É preciso, pois lutar
o bom combate, como se referia o apóstolo Paulo. Mesmo quando acreditarmos ter
eliminado esta ou aquela deficiência moral é devemos vigiar como nos orienta
Jesus, pois a qualquer momento poderemos ser vítimas do monstro adormecido, do
qual só nos livraremos quando efetivamente tivermos processado as mudanças
necessárias e definitivas em nosso caráter.
Texto publicado no site em 29/01/99. E hoje como estamos? Pense
nisso!
Delmo Ramos
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