quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

AS LUZES DO NATAL

Não sei ao certo o tempo em que isso inicia, mas geralmente é nas duas últimas semanas que antecedem o Natal. A azáfama parece não ter fim. O clima é de festa, de confraternização, de troca de presentes. O ambiente parece tornar-se mais fraterno, mais favorável às reconciliações, aos acertos de contas. A impressão que dá é a de que todos ficam muito bonzinhos. Analisando a coisa sob o ponto de vista da verdadeira fraternidade, e com sinceridade de espírito, vemos que o mundo ainda precisa caminhar muito na direção do bem para compreender a razão desta data.
O Natal sempre me impressionou muito na infância. Não sei se pela ansiedade que me causava a falta de presentes, se pela beleza dos enfeites, ou se pelo clima de festa que se estabelecia nessa época. Mas não lembro de se ter dado alguma atenção ao dono do aniversário, nessas ocasiões. O tempo passa, as ilusões também e as fantasias dão lugar à realidade. Hoje sabe-se que o 25 de dezembro constitui-se em uma data fictícia do nascimento de Jesus, instituída muito tempo depois, por volta do século VIII, pelo governo romano. Não se sabe ao certo o dia da chegada d'Ele ao mundo, o que não prejudica em nada Seu objetivo.
Ao longo do tempo, porém, formou-se no mundo ocidental um clima natalino que, embora favoreça bons pensamentos na maioria, fica longe do sentido de fraternidade que se quer dar a ele. Se prestarmos atenção, nas últimas décadas o movimento da esmagadora maioria das pessoas é apenas para atender ao forte apelo consumista dessa época. Como uma febre que vai tomando conta das pessoas, compra-se muito, como se fosse uma obrigação, um ritual, uma necessidade. E até os mais sensatos deixam-se envolver nessa euforia, sem se dar conta de que estão contribuindo para aquecer o verdadeiro objetivo disso tudo: o lucro. Esse fruto amargo da modernidade, trazido pelo mundo capitalista e que escraviza todo o orbe. Esse monstro gerado das entranhas do sistema materialista que nada vê além do presente e que hoje é o grande mobilizador do homem.
Vivemos em um país que sempre foi e parece que sempre será o país do futuro. Sendo assim, o presente vai ficando prejudicado. O brasileiro tem uma alma que favorece a convivência de culturas de todos os matizes. Incorpora, sem sentir, tudo o que vem de "fora", imposto pelos interesses materialistas, muito bem representados pela propaganda de massa, pois não tendo sua própria identidade não tem parâmetros para medir o que é bom e o que não é. Acha sempre que tudo é assim mesmo. A existência de 40 milhões de miseráveis é assim mesmo, o analfabetismo é assim mesmo, a violência é assim mesmo, as famílias nos lixões, a corrupção, a degradação moral, a decadência da estrutura familiar, a invasão das drogas, o lixo musical e televisivo, a falência do sistema de saúde, o mercantilismo religioso, o modelo econômico atual extremamente injusto e excludente, apenas para falar de alguns.
Mas vivemos também em um país que se diz cristão. Mais: os espíritas acreditam que seja o coração do mundo e a pátria do Evangelho. Se numa data como esta que, a princípio, mobiliza a criatura a exercer a fraternidade, se vê apenas tímidos gestos de gente abnegada em direção aos desvalidos, imagine como isso se dá no decorrer do ano, no cotidiano de cada um. Como compreender que esta esterilidade ainda se encontre no seio da humanidade em grande escala, depois de quase dois mil anos de jogada a semente por Jesus? Só o atraso moral do homem pode justificar tal coisa. Não seremos a pátria do Evangelho se o panorama do país reclama ações de amparo aos necessitados, quando carece de melhor distribuição de renda para promover uma menor desigualdade social. Isso é viver o Evangelho. Falar de Jesus como a fome saciada é fácil.
Viver o Natal passou a fazer parte de nossa cultura, portanto. Como um ritual, como o carnaval, como o São João, e todos os motivos de festejos existentes neste país. E não é exagero esta afirmativa, pois o comportamento das pessoas fala por si. Do aniversariante, a maioria não lembra. Compreensível que assim seja. Lembrar d'Ele seria desconfortável, pois com Ele viria a lembrança também dos que nada têm para comer ou para vestir no momento mais importante da festa. E todos sabem que o momento crucial da festa é a ceia, para não dizer a comilança que se estabelece nessa noite. Guardando-se algumas diferenças regionais, a ceia é aguardada com ansiedade, à meia-noite. Depois de refastelar-se nela, com tudo o que acham que têm direito, todos voltam para suas vidas, com os mesmos problemas, com os mesmos desafetos, com as mesmas posturas. E às vezes, sem resolver seus pequenos problemas com este ou aquele familiar, por pura falta de humildade em reconhecer seus erros ou aceitar as diferenças de cada um.
E assim os cristãos comemoram o nascimento do Cristo. Com festas, comida farta, luzes, árvores, presentes, bebida alcóolica e esquecimento do próximo. A propósito, veio-me à mente uma fala do Mestre, existente no Evangelho de Mateus, que diz o seguinte: "Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo. Porque tive fome e me deste de comer, tive sede e me deste de beber, era forasteiro e me hospedaste, estava nu e me vestiste, enfermo e me visitaste, preso e foste ver-me".
Seria interessante que o homem se cansasse de ser assim. Se desse um basta nessa situação de atraso moral para viver, em plenitude, a Fraternidade. Seria maravilhoso um Natal de luzes, mas não as artificiais que brilham com facilidade, impressionando os olhos da multidão. Mas um Natal de luz interior, que impressiona o Espírito. Onde o homem buscasse a paz e a harmonia da convivência fraterna com seus iguais e, principalmente, com seus diferentes. Que vivesse de conformidade com o Evangelho, reconhecendo no outro um irmão de fato. Que tivesse conhecimento pleno das leis universais de amor ao próximo. E que finalmente pudesse compreendesse a beleza e o prazer de servir e não o de ser servido. Tal qual nos exorta Jesus no texto acima. Mas isto é um novo capítulo da vida do planeta. E nele, não terão mais lugar as dores, os sofrimentos, a fome, a miséria, a ganância, a soberba e todas as desgraças do Espírito, frutos do egoísmo e orgulho da criatura. Tampouco terá lugar para os que promovem todas essas coisas. Nele, reinará o Bem e a Justiça eternas. Assim está escrito.
Texto publicado no site em 31/12/99
 OBS.:- SERÁ QUE MUDOU MUITA COISA NESSES ANOS TODOS. PENSE NISSO!!!

Autor: Vanda Simões

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