quinta-feira, 27 de outubro de 2011

FINADOS


O culto aos mortos é uma tradição que já existia entre os povos primitivos. Na Igreja Católica, celebra-se o Dia de Finados em 2 de novembro, com visitas ao cemitério e orações pelas almas dos defuntos.
Esse dia foi oficialmente instituído pela Igreja Católica no século X, denominado, na liturgia, omnium fidelium defunctorum.         
Com o passar do tempo, a comemoração ultrapassou seu exclusivo aspecto religioso, para revelar uma feição emotiva: a saudade de quem perdeu entes queridos.
O culto aos mortos foi uma das práticas fundamentais de quase todas as religiões, mesmo as mais primitivas. Os mortos, como as sementes, eram enterrados com vistas a uma ressurreição. Assim, a idéia central da festa dos mortos era a mesma dos ritos agrários e da fecundidade.
O binômio morte-fertilidade explica a primitiva celebração de finados, com banquetes perto dos túmulos. Essa associação é que levou o homem primitivo a implorar a proteção dos mortos para o êxito das colheitas e das plantações.  Na antiguidade greco-romana, o culto das almas era celebrado com o cerimonial da vegetação. Hipócrates acreditava que os Espíritos dos mortos “faziam germinar e crescer as sementes”.  Os hindus comemoram os mortos em plena colheita, como a festa principal do período.
Os iorubás, segundo Melo Morais Filho, comemoravam, na Bahia, o dia de finados com preces, cantos e danças. Em outros lugares do Brasil, havia refeições fúnebres próprias desse dia. Em Alagoas e no Estado do Rio de Janeiro, realizavam-se bailados, jejuns, sacrifícios de animais e banquetes. (Enciclopédia Barsa).
Pois bem: Allan Kardec não ficou alheio a essa celebração. Como o costume orientava, e ainda orienta, em relação, pelo menos em pensamento, os que ainda estão aqui com os que já se foram para o além-túmulo, entendeu ele de formular algumas indagações aos Espíritos, objetivando fixar o comportamento do espírita em face dessa tradição.
A matéria está tratada nas questões 320 a 329, de O Livro dos Espíritos, que gostaríamos de recordar.
Primeira indagação − Sensibiliza os Espíritos o fato de se lembrarem deles as pessoas que lhes foram caras na Terra?
− Muito mais do que podemos imaginar. Se os Espíritos são felizes, essas lembranças aumentam-lhes ainda mais a felicidade.  Estão-se sofrendo, a nossa boa lembrança lhes serve de lenitivo.
Hoje, porém, através de obras mediúnicas inúmeras que foram surgindo ao longo do tempo, tivemos avanços importantes que balizam nosso comportamento, quando atingidos pela perda de entes caros.  Sabemos, por exemplo: que as lágrimas de desespero prejudicam demais a readaptação e o equilíbrio do ente querido que partiu; que, pelo mesmo motivo, não devemos abrigar qualquer sentimento de revolta, sejam quais forem as circunstâncias da perda; que não devemos guardar, como recordação, as coisas que a eles pertenceram; que, ao contrário, devemos doá-las a  pessoas mais necessitadas que delas possam se servir; que, ao recordarmos aqueles que partiram, devemos fazê-lo sempre recordando-os  nos momentos  de   alegria e  de paz; que não devemos culpar ninguém pela ocorrência do óbito; que devemos confiar em Deus e orar por eles e por nós; que podemos chorar, sim, pois as lágrimas nos fazem bem, desde que não sejam geradas pela mágoa ou pela revolta.
2ª. Indagação: − O dia de Finados é, para os Espíritos, mais solene do que os outros dias? Agrada-lhes irem ao encontro dos que vão orar nos cemitérios sobre seus túmulos?
− Não é esse dia mais solene do que qualquer outro.  Atendem nele ao chamado dos que na Terra lhes dirigem o pensamento, como fariam noutro dia qualquer. Nada de especial.  Apenas, acorrem, em maior número, porque maior é o número das pessoas que pensam em seus mortos nesse dia. Não é, entretanto, a multidão de gente nos cemitérios que os atrai, mesmo porque os espíritos que lá comparecem, só o fazem pelos amigos que porventura neles pensem.
3ª. Indagação: − E os Espíritos esquecidos? Aqueles nos quais ninguém mais costuma pensar? Ficam tristes porque ninguém deles se lembra?   Porque ninguém visita seus túmulos?
− Absolutamente. Não estão nem aí para o pouco caso que lhes fazem à memória. Que lhes importa a Terra? Só pelo coração se acham presos a ela. Desde que ninguém mais aqui lhes vota afeição, não há por que se prenderem ao planeta. 
4ª. Indagação: − Que é mais importante para o Espírito: a visita ao túmulo onde estão enterrados os restos de seu corpo ou a prece que por ele a pessoa faça em sua própria casa?
− A visita ao túmulo mostra apenas que a pessoa pensou naquele que já partiu. É a representação exterior de um fato íntimo. Já a prece, não. Ela é que santifica o ato da rememoração. E não importa o lugar onde é feita, desde que seja feita com o coração.
5ª. Indagação: − E aqueles Espíritos a quem se erigem estátuas ou monumentos reverenciando-lhes a memória?  Gostam disso? Costumam comparecer a essas homenagens?
− Muitos comparecem, quando podem. Porém, menos os sensibiliza a homenagem que lhes prestam do que a lembrança que deles guardam os homens. Casos há, porém, que tais homenagens costumam agravar a situação de sofrimento em que, às vezes, o homenageado se encontra. Quando a consciência lhe diz que a homenagem é injusta e, portanto, imerecida.
6ª. Indagação: − Por que certas pessoas exigem, antes de morrer, que seu corpo seja enterrado nesse ou naquele lugar?  Será porque entendem que o lugar do sepultamento facilitará seja lembrado depois?
− Inferioridade moral. Que importa o lugar que vá receber o corpo de que se serviu quando encarnado.  A união dos ossos não fará a união dos Espíritos. Essa, só o amor, a identidade de pensamentos, a afinidade e a simpatia.
7ª. Indagação: − Deve-se considerar futilidade a reunião dos despojos mortais de todos os membros de uma família?
− Não devemos considerar inútil nenhuma atitude na qual se acredita estar um gesto de simpatia para com os nossos mortos.  Para os Espíritos essa reunião não tem qualquer importância, mas, para os que a fazem, ela torna mais concentradas suas recordações.
8ª. Indagação: − Comove-se o Espírito com as honras que lhe prestam aos despojos mortais?
− Quando já ascendeu a certo grau de perfeição, o Espírito se acha escoimado de vaidades terrenas e compreende a futilidade de todas essas coisas. Há, porém, espíritos que experimentam grande prazer com essas homenagens e outros que se aborrecem muito com o pouco caso que façam de seus envoltórios corporais. É que ainda conservam alguns dos preconceitos, tão comuns entre os homens.
9ª. Indagação: − O Espírito assiste ao seu enterro? Fica lisonjeado quando vê muita gente no seu enterro?
− Freqüentemente assiste, mas, algumas vezes, se ainda está perturbado, não percebe o que se passa.  O Espírito que está consciente, quando vê muita gente, fica mais ou menos lisonjeado, conforme o sentimento que anima as pessoas que acompanham o enterro.
10ª. Indagação − Aquele que acaba de morrer assiste à reunião dos herdeiros?
− Quase sempre. Assiste para seu ensinamento e castigo dos culpados. Nessa ocasião julga da sinceridade dos que lhe faziam a corte. Todos os sentimentos se lhe tornam claros e a decepção que lhe causa a rapacidade dos que, entre si, partilham os bens, esclarece-o acerca daqueles sentimentos.
11ª. Indagação: − E o respeito que, em todos os tempos e entre todos os povos, o homem consagrou e consagra aos mortos? É efeito da intuição que todos têm da sobrevivência da alma?
− Sim. É a conseqüência natural dessa intuição. Se assim não fosse, nenhuma razão de ser teria esse respeito.  

ARTHUR BERNARDES DE OLIVEIRA
tucabernardes@gmail.com
Guarani, Minas Gerais (Brasil)

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