quinta-feira, 17 de maio de 2012


A INDISSOLUBILIDADE DO CASAMENTO

O casamento é um dos primeiros atos de progresso das sociedades humanas, comenta Kardec na questão n° 696 de O Livro dos Espíritos. No entanto, a preocupação da espiritualidade com a manutenção deste vínculo remonta às épocas mais antigas. Tal preocupação é tratada desde a época de Moisés, quando estabelece nos Dez Mandamentos, dentre outros preceitos: "Não cometerás adultério e não desejarás a mulher do próximo". Contudo, sabe-se que as leis mosaicas eram compostas de duas partes distintas: a lei civil, de origem humana e, portanto, transitória; e a lei divina, de caráter imutável. 
A lei civil, estabelecida por Moisés, tinha caráter disciplinador, uma vez que estavam sob a sua autoridade homens ignorantes, cujo senso moral e o sentimento de justiça estavam ainda pouco desenvolvidos, razão pela qual permitiu Moisés repudiar sua mulher. Esta lei foi profundamente modificada por Jesus, que a reduziu nestas palavras: "Amar a Deus sob todas as coisas e ao próximo como a si mesmo", acrescentando: "Esta é toda a lei e os profetas". 
Jesus ao ser indagado pelos fariseus acerca da possibilidade de separação prevista na lei mosaica, deixa-nos a lição de que isto ocorre devido a dureza dos corações, ou seja, a separação existe quando reina a ignorância das leis divinas e o atraso moral entre os homens, pois a união fundada apenas nos interesse materiais, por si mesma, está fadada ao fracasso. Logo, a indissolubilidade do casamento reside na consciência dos compromissos familiares assumidos pelo casal perante Deus, pouco importando a forma pelo qual foi sacramentado este compromisso, visto que, o mesmo é variável conforme o tempo e a cultura dos povos. 
Explica-nos Kardec, que no casamento, o que é divino é a união conjugal. Esta, por sua vez, traz em si duas leis de caráter divino: a lei de reprodução e a lei do amor. A primeira lei permite a renovação dos seres que morrem, ao passo que a segunda, exclusivamente moral, permite a união de dois seres pelos laços da alma. 
É da inobservância destas leis que surgem as uniões infelizes, assentadas unicamente nos interesses materiais e que levam a sociedade ao processo de decadência em que se encontra. Acreditou o homem, por muitos anos, no dogma da indissolubilidade absoluta do casamento, fato este que deve ser revisado em muitos pontos, pois é cada vez maior o número de divórcios existentes. Estima-se que a cada quatro casamentos, um é desfeito, comprovando-se pois, que as religiões não vêm cumprindo o papel de esclarecer sobre a conseqüência da irresponsabilidade dos cônjuges que abdicam do compromisso assumido. 
Malgrado o entendimento equívoco que o homem deu à indissolubilidade do casamento, atendo-se à letra, o Espiritismo, mostra-nos com racionalidade que a indissolubilidade absoluta do casamento "é uma lei humana muito contrária à lei natural. Mas os homens podem mudar suas leis: só as da Natureza são imutáveis" (questão n° 697, O Livro dos Espíritos). 
Quando Jesus disse: "não separe, logo, o homem o que Deus ajuntou", mostrou-nos que a única união sancionada por Deus, e portanto imutável, é aquela fundada na afeição recíproca entre dois seres, com o ideal de constituírem uma família. Sabe-se que a união perfeita requer seres perfeitos, e isto, no grau evolutivo em que se encontra o planeta, ainda não é possível. A realidade nos mostra que as pessoas estão cada vez menos dispostas a enfrentar os dissabores em nome de uma união duradoura e, diante do menor problema, abdicam da relação, esquecendo-se, ou melhor, desconhecendo que a felicidade em família não vem pronta, pelo contrário, requer conquista diária. 
Atualmente, é aceita com bastante naturalidade a idéia da dissolução conjugal, inclusive dentro do meio espírita, com a alegação de que pode deixar "o carma" para ser saldado em outra vida. Esta conduta demonstra o desconhecimento da própria Doutrina Espírita que explica com tanta propriedade os objetivos do Espírito no mundo das relações interpessoais. Urge, pois, que o homem, de posse desses esclarecimentos que a Doutrina Espírita oferece, possa refazer os verdadeiros valores da união permanente entre dois seres. 

ESE - Capítulo XXII, itens 1, 2, 3 e 4
Comentários: Katchelyne Silva Moreira

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