quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

"APARÊNCIAS"

 Os princípios fundamentais do Espiritismo certamente nos induzem a
profundas e filosóficas reflexões. No entanto, muito sutilmente, as situações
cotidianas que vivenciamos nos fazem resvalar em velhos hábitos e sentimentos
cultivados no passado, quando então não dispúnhamos de tais conhecimentos.
Analisando os fatos, frequentemente deparamos com aquelas cenas
desagradáveis, bem comuns ao nosso planeta, quando surgem em nossos
monitores de televisão imagens chocantes, de extrema bestialidade,
protagonizadas por espíritos encarnados momentaneamente mergulhados no mal.
A bem da verdade, em nosso nível evolutivo, fazemos um grande esforço íntimo
para não nos contaminarmos com sentimentos menos dignos de revolta ou
desprezo, tentando mergulhar em ondas de compaixão e caridade, a fim de dirigir
um olhar compreensivo àqueles que ainda se encontram tão distanciados das
atitudes cristãs, e que, certamente, plantam hoje os espinhos que hão de colher
em futuras existências, em meio a penosas reparações.
Por outro lado, para ficar bem caracterizada nossa incoerência, tomemos o
exemplo de uma criança supliciada até a morte. Neste caso, não será nada difícil
nos envolvermos de maneira bastante espontânea com o drama daquele ser, e,
não raro, sentiremos algumas lágrimas sinceras rolarem de nossas faces,
lamentando profundamente o episódio.
Ao comparar os dois casos, podemos dizer que, em essência, são duas faces
de uma mesma moeda. Justamente porque, sob olhos racionais, e, tendo em vista
que ninguém sofre por acaso, concluímos que o espírito que hoje se despede do
mundo de modo tão trágico é aquele mesmo que, em alguma de suas existências
pretéritas, cometeu semelhante desrespeito a seu próximo. Vale dizer: a vítima
de hoje é, indubitavelmente, o algoz de ontem.
Perguntamos então: porque nos portamos de maneira tão distinta nas duas
situações explanadas? Bem, é apenas uma questão de aparência, já que, muito
corriqueiramente, nos deixamos iludir pelas transitórias formas carnais, olvidando
os conhecimentos notadamente reencarnacionistas, compreendidos, mas ainda
não totalmente assimilados. Ademais, num futuro ainda remoto, dotados, por
assim dizer, de um sentimento racionalizado, entenderemos que é bem mais
coerente que nos compadeçamos por aquele que hoje contrai uma dívida, do que
pelo que acaba de saldá-la.
Pelo que vemos, essas situações, se bem pensadas e pesadas, nos fazem
entrar num grande conflito íntimo, onde os nossos velhos conceitos se vêem
totalmente sacudidos pela razão explícita de que o Espiritismo é farto,
promovendo, em cada um de nós, uma verdadeira revolução íntima, ao mesmo
tempo avassaladora e suave.

José Marcelo G. Coelho
e-mail:
jmarcelo.vix@zaz.com.br

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