Para falar desse importante livro, infelizmente um tanto esquecido,
seleciono ao leitor alguns pequenos trechos. Ao final das pequenas
transcrições, inseri outros comentários:
a) (...) trabalhai sem
descanso para extirpar o vírus do orgulho e do egoísmo, porque aí está a fonte
de todo mal, o obstáculo real ao reino do bem; destruí nas leis, nas
instituições, nas religiões, na educação, até os últimos vestígios, os tempos
de barbárie e de privilégios, e todas as causas que mantêm e desenvolvem esses
eternos obstáculos ao verdadeiro progresso, (...); só então os homens
compreenderão os deveres e os benefícios da fraternidade; então, também, se
estabelecerão por si mesmos, sem abalos e sem perigo, os princípios
complementares da igualdade e da liberdade. (...) do capítulo
Liberdade, Igualdade, Fraternidade.
b) Estes princípios, para mim, não são apenas uma teoria, eu os coloco em
prática; faço o bem tanto quanto o permite a minha posição; presto serviço
quando posso; os pobres jamais foram rejeitados em minha casa, ou tratados com
dureza; (...) Continuarei, pois, a fazer todo o bem que puder, mesmo aos meus
inimigos, porque o ódio não me cega; e eu lhes estenderia sempre a mão para
tirá-los de um precipício, se a ocasião disso se apresentasse. Eis como entendo
a caridade cristã; compreendo uma religião que nos ordena retribuir o mal com o
bem, com mais forte razão restituir o bem pelo bem. Mas não compreenderia
jamais a que nos prescrevesse retribuir o mal com o mal.
(do capítulo Fora
da Caridade não há salvação).
c) (...) Os homens não
podem ser felizes se não vivem em paz, quer dizer, se não estão animados de um
sentimento de benevolência, de indulgência e de condescendência recíprocos, em
uma palavra, enquanto procurarem se esmagar uns aos outros. A caridade e a
fraternidade resumem todas as condições e todos os deveres sociais; mas supõem
a abnegação; ora, a abnegação é incompatível com o egoísmo e o orgulho;
portanto, com seus vícios nada de verdadeira fraternidade, partindo, da
igualdade e da liberdade, porque o egoísta e o orgulhoso querem tudo para eles.
Estarão sempre aí os vermes roedores de todas as instituições progressistas;
enquanto eles reinarem, os sistemas sociais mais generosos, mais sabiamente
combinados, desabarão sob os seus golpes. (...)
(do capítulo O egoísmo e o orgulho suas causas, seus efeitos e os meios
de destruí-lo.
Percebe-se, com clareza, que referidos textos entre outros precisam ser
copiados, distribuídos, lidos e estudados em conjuntos por todos nós em nossas
reuniões públicas ou íntimas de estudos, em nossas instituições, pela
preciosidade de suas considerações. Pela nossa imperfeição humana, estamos
muitas vezes esquecidos da caridade nos relacionamentos, nos julgamentos, ou
nos iludimos com tolas vaidades, colocando a perder esforços de décadas
daqueles que ergueram ou fundaram as instituições a que atualmente nos entregamos.
Por outro lado, as anotações pessoais do Codificador, seus pensamentos
íntimos (como o texto Fora da Caridade não há salvação), suas lutas e
dificuldades precisam novamente serem colocados à nossa visão para refletirmos
no tempo que perdemos com picuinhas e assuntos sem importância, retardando
esforços no bem, onde deveríamos concentrar mais nossas atenções...
Convido o leitor a buscar seu exemplar na estante de sua biblioteca para
folhear a obra. Sugiro iniciar pelo índice para inteirar-se do conteúdo do
livro. São duas partes. Na primeira delas, estudos de Kardec sobre empolgantes
temas e na segunda parte anotações íntimas, detalhes da vida particular do
Codificador, comunicações dos Espíritos diretamente ligados à tarefa da
Codificação Espírita e a preciosidade dos textos Projeto 1868, Constituição do
Espiritismo e Credo Espírita. Como se sabe, o livro foi publicado em janeiro de
1890, após a desencarnação de Allan Kardec, contento textos, estudos e
anotações encontradas em seu gabinete de trabalho.
Apesar da riqueza dos estudos contidos na primeira parte da obra,
parece-nos que a segunda parte do livro precisa ser novamente consultada e
amplamente divulgada entre todos nós, atuais espíritas do Brasil e do mundo,
principalmente a partir do texto Fora da Caridade Não Há Salvação. Referido
texto dá início a uma sequencia maravilhosa de reflexões, que se distribuem nos
capítulos Projeto 1868, Constituição do Espiritismo e Credo Espírita, como já
citados acima.
A obra ainda contém a Biografia de Kardec, o discurso de Flammarion por
ocasião do sepultamento do Codificador e os preciosos estudos intitulados
Teoria da Beleza, A música celeste, Música Espírita, O Caminho da Vida e As
cinco alternativas da Humanidade, entre outros.
Quando volto a reler tais preciosidades, fico a pensar por que nos
esquecemos deles? Seria leviandade nossa? Seria desprezo ou indiferença? O que
nos leva a desprezar tão valiosos escritos e tão importantes reflexões de
Kardec? São textos tão importantes que deveriam constituir material de reflexão
diária.
Parece-nos que não podemos deixar tal obra no esquecimento. Soa
novamente a hora de a divulgarmos amplamente, para que seus preciosos textos
estejam conosco a nos orientar o procedimento, o comportamento, os passos no
bem.
Orson Peter Carrara-Matão-SP
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