DESESPERO E ESPERANÇA
Digo a todos vós, irmãos em Cristo, que
qualquer tarefa que se possa desempenhar em nome do Bem é digna e edificante.
Quando estava entre os encarnados constrangia-me dedicar algumas hora da minha
semana para atividades que considerava menor. Irritava-me ver minha mãe querida
envolvida em tarefas que proporcionavam amparo aos pobres da matéria. Não
compreendia a sua nobreza de espírito e a considerava fanática, entregue aos
caprichos do pastor de sua igreja. Ri muitas vezes quando me encarava muito
séria e dizia-me que Deus um dia me mostraria o verdadeiro sentido de suas
leis.
Estava eu muito preocupado com minhas
coisas para dedicar-me a cuidar dos carentes. Entretanto, a vida me pregou uma
peça e a dor chamou-me para a razão. Perdi a luz de minha vida. Minha pequena
filha de 10 meses contraíra doença incurável e Deus a ceifou da face da terra.
Busquei na igreja de minha mãe o consolo que veio em forma de prece, da entrega
total aos desígnios de Deus e à orientação do instrutor do núcleo protestante
que eu freqüentava. Entrei num grupo de estudos com a intenção de preparar-me
para servir na casa e para mim era difícil a aceitação de que seria apenas um
servo de Jesus. Justo eu que a vida inteira sonhei em comandar grandes negócios
e preparei-me sempre para isso.
Mas, amigos, novamente tive que curvar-me à
vontade do Pai e mais uma vez a dor insuportável visitou-me. Minha mãe querida
foi levada para a pátria do Espírito para viver em outra dimensão. E justo
quando eu já compreendia e buscava ardentemente sua convivência para adquirir
com ela novos conhecimentos.
Quis Deus que eu sofresse novos revés para
que me conscientizasse definitivamente de minhas limitações. Na igreja era
chamado para fazer as mais simples tarefas e lá ia eu, colocando minha vergonha
e meu orgulho de lado, desempenhar minha função com dedicação. Mas, bem no
fundo eu achava que bem poderia estar servindo em outra condição, já que era um
homem com capacidade intelectual acima da média. Não sabia que meu instrutor
encarnado vigiava-me com carinho, observando-me e atestando que ainda não tinha
condições morais para assumir trabalhos mais sérios, que estivessem ligados à
edificação de outros irmãos. Precisava antes edificar-me, melhorar minha
condição espiritual para então servir de exemplo dentro da tarefa do Bem.
Um dia, desgraçadamente meus olhos caíram
sobre uma bela figura e eu, em minha fragilidade de Espírito imaturo, vaidoso e
orgulhoso, não me dei conta de que era apenas uma prova. Quedei-me às
circunstâncias do momento. Quando dei conta de mim, estava envolvido nos laços
escusos do adultério e da sensualidade. Grande escândalo. Não suportando a
enorme carga desmoralizadora dei cabo de minha vida, mesmo conhecendo a fundo a
história de Jó. Sentia-me um injustiçado e não compreendia que deveria ter
lutado até o fim pela minha recuperação.
Acordei deste lado da vida completamente
angustiado. Irmãos como eu, em desespero e desalinho diziam-me que jamais
sairia daquele charco de dor e sofrimento. Muitos experimentavam aquele
ambiente por mais de cem anos, outros tinham acabado de chegar. Era um local
onde os Espíritos reuniam-se em grupos e lamentavam-se, gritavam, choravam.
Outros apenas dormiam, outros permaneciam com laços atados ao pescoço ou com
feridas sangrantes que só existiam em seu campo mental.
Ali fiquei por um tempo curto e logo roguei
fervorosamente a Deus que me socorresse, socorro que demorou ainda um pouco a
vir. Apareceu sob a forma de tênue luz que invadiu todo o meu ser e levou-me
para um local de paz.
Fiquei sob os cuidados de pessoas
carinhosas e doces, que me falavam de um reino de amor que um dia conheceria.
Fiquei sabendo que era a extensão desta casa, no mundo espiritual, e que todos
os que ali estavam foram socorridos pelos Espíritos que trabalham nesta casa em
nome de Jesus.
Intriguei-me por não encontrar ninguém de
minha família e por não estar entre os eleitos de Deus, ou então o Pai tinha me
castigado por ter cometido o pior dos crimes. E agora? Pensei. Certamente não
estou no inferno. O fogo não arde, não sinto dores. Uma brisa suave passa pelo
meu corpo. Não ouço o pranto e o ranger de dentes e sim o canto alegre de uma
irmã que trabalha dedicadamente em prol dos necessitados da alma.
Sim, antes estava no inferno, pensei. E Ele
teve misericórdia de mim e de lá me tirou.
A irmã Laura cuidava de mim e me explicava
algumas coisas. E dizia que em breve eu compreenderia muito mais.
Um dia, que foi um dos mais felizes da
minha vida, estava eu a orar em pedido de perdão ao Senhor quando acariciou-me
a fronte mãos delicadas e leves como pluma, e uma doce voz eu ouvi: meu filho!
Era minha amada mãe que tinha vindo visitar-me. Chorei copiosamente, agradecido
pela benção recebida. Durante muitos dias ela veio conversar comigo sobre
muitas coisas, esclarecendo-me sobre as maravilhas do mundo espiritual.
A cada dia meu horizonte alargava e aos
poucos fui tomando conhecimento, através de lembranças vivas, de minhas vidas
passadas onde igualmente tinha tido a oportunidade de vivenciar os ensinamentos
de Jesus sem, contudo, aproveitá-los. Em uma delas havia também tirado a minha
vida. Chorei muito, envergonhado de minha última encarnação. Mas, minha doce
mãezinha me consolava e dizia-me que Deus era justo e misericordioso. Iríamos
descer à carne em breve tempo (não sei quando) como irmãos consanguíneos, para
juntos aprendermos a lição da fraternidade e solidariedade. Ela deverá auxiliar-me
em minhas limitações físicas e em meu aprimoramento moral.
Esse espírito que na carne foi minha mãe
habita planos mais elevados que este que estou no momento, pois ainda me
encontro em colônia transitória.
Ela já desempenha tarefas mais nobres em
favor dos necessitados e não pode dedicar-se só a mim, por isso ausenta-se por
longos períodos e só vem ver-me de vez em quando para trazer-me carinho e mais
esclarecimentos.
Meus irmãos, minha estada nesta casa é
somente para relatar minha experiência, conforme orienta um instrutor
responsável pelo trabalho.
Ainda há muito a ser feito e quisera ter
compreendido as coisas que hoje sei, quando na carne estive. Benditos os que
palmilham pelo caminhos da porta estreita. Benditos que se dedicam ao ideal cristão
por amor a Jesus. Paz para todos".
– Espírito Epaminondas - o
suicida.
SEEAK
Mensagem mediúnica
Classificação: Depoimentos
Data: 29.09.98
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