quinta-feira, 1 de novembro de 2012


DIA DA CRIANÇA: COMEMORAR O QUÊ?

Muito se tem falado sobre a violência infantil. Frequentemente estas notícias ultrapassam nossas fronteiras e são divulgadas nos órgãos de imprensa de outros países, que se mostram perplexos com a forma como são tratadas as nossas crianças. As propagandas de brinquedos e de produtos infantis saturam os meios de comunicação na tentativa de mais faturamento, enquanto nestes mesmos canais, as estatísticas mostram que cada vez menos crianças têm acesso ao básico: educação, saúde e alimentação. Para outros, quando têm, são insuficientes e de baixa qualidade. Isso, sem contar as notícias de abuso físico e sexual a que são submetidas milhares delas, como no caso recente da menina de 10 anos que vinha sendo seviciada há 3, o que ocasionou sua gravidez e posterior aborto.
Enquanto algumas crianças brincam em sua luta imaginária com os bonecos dos heróis da TV, outras vagueiam pelas ruas na luta real e cruel pela sobrevivência, buscando seu pão de cada dia e, quem sabe, algumas migalhas de amor, quase sempre negadas pelos passantes apressados em festejar o dia dedicado às crianças.
O "dia da criança" é mais uma daquelas datas criadas apenas para atender a interesses comerciais dos que só pensam em faturar financeiramente, esquecendo-se que todo dia é dia da criança. Diariamente nascem milhares delas de futuro incerto e outras tantas morrem sem ter tido a oportunidade de exercer seu direito primário que é a vida.
Há algo a comemorar neste dia? O que temos feito para oferecer um futuro melhor para estas crianças que serão responsáveis pelo futuro do país e até do próprio Universo? Será que, mesmo aquelas crianças de famílias mais abastadas, estão tendo uma educação adequada para enfrentar o futuro próximo? Ou estão apenas sendo preparadas intelectual e materialmente para serem pessoas de "sucesso". Estas, que têm todas as possibilidades de tornarem-se indivíduos de destaque, podendo vir a ser os governantes do futuro, se não tiverem, juntamente com a educação intelectual e profissional, a educação moral e espiritual adequadas, nada farão para mudar esta situação.
Não é só o desemprego, os baixos salários, o sucateamento da estrutura educacional pública que são as causas da triste situação do menor. O atual modelo, que causa a desestruturação do sistema familiar, não proporciona à criança a base moral para uma vida mais espiritualizada que, no futuro, estimularia a melhoria deste mundo materialista cruel e discriminatório.
As uniões entre os casais são frágeis e individualizadas. A educação dos filhos é guiada por teorias modernas, passando radicalmente da rigidez do sistema patriarcal de outrora, para o liberalismo total que causa uma verdadeira ditadura mirim. A responsabilidade em ter uma criança sob nossos cuidados é muito grande. Embora tragam já alguma bagagem moral, cabe aos pais extirpar as más tendências e estimular as boas.
Temos, também, responsabilidade nos caminhos de nossa sociedade, que por sua vez deve ter compromisso com os mais fracos e menos favorecidos. Cabe ao mais forte, àquele que tem maiores oportunidades, amparar o mais fraco e os necessitados, pois na verdade somos uma grande família espiritual.
É possível ser feliz, festejar comprando brinquedos para nossos filhos, no dia da criança, enquanto há milhares de crianças no abandono, na fome, na miséria, na ignorância e sem nenhuma perspectiva de dias melhores? Afinal, o que temos a comemorar no "dia da criança"?

Delmo Martins Ramos
Texto publicado em 09/10/98

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