A CIRANDA
DO LUCRO
Recentemente em um artigo para este
mesmo espaço comentávamos sobre a jogatina desenfreada em que vive a maior
parte da população de nosso país. Tem jogo para todos os gostos, desde a rifa
entre amigos até os cassinos funcionando legalmente com o nome de bingo, por
conta do aproveitamento da Lei Zico que permite a exploração do jogo por
instituições ligadas ao desporto. Aproveitando-se desta brecha, utilizando-se
do nome de federações ou clubes menores, que recebem uma participação mínima,
verdadeiras fortunas são ganhas pelos espertalhões dos incautos e viciados.
Em matéria de leis que dão margens a
todo tipo de manipulação por parte dos aproveitadores que se enriquecem à custa
do suor da população, nossos legisladores são peritos. Sem contar as leis
inócuas que nem seus autores sabem para que servem. Mas este é assunto para um
outro artigo.
Queremos aqui tratar de outro tipo de
jogo, inacessível ao homem comum, mas que gera lucros exorbitantes a uns poucos
privilegiados e termina por tirar grande parte do capital da área produtiva.
Esta jogatina oficial responde pelo nome de "mercado financeiro" e
sua maior estrela é a conhecida BM&F (Bolsa de Mercadoria e Futuro). Com a
atenção do país voltada para a CPI dos Bancos começam a ser divulgados os
artifícios que geraram lucros de até 1300% em alguns poucos dias à algumas
instituições financeiras, substituindo com vantagem (para elas) o famoso
"over nigth" dos tempos da inflação elevada.
Não vamos entrar no mérito se houve
ou não vazamento de informações privilegiadas, mas não é preciso que
necessariamente haja algum vazamento para que se possa ganhar muito dinheiro
nestas práticas, mesmo porque justamente o Banco Marka, acusado de ter
informações privilegiadas, foi o único a ter prejuízo e quebrar. Basta conhecer
bem o funcionamento dos mecanismos que norteiam estas aplicações, ser ousado e,
porque não, ter um pouco de sorte no sentido de fazer tudo na hora e no tempo
certo.
O sistema funciona mais ou menos
assim: digamos que um aplicador tenha US$ 1 e compre US$ 4 para pagar no futuro
por um valor pré-determinado. Se neste período o dólar valorizar 100% ele ganha
US$ 4 e se acontecer o inverso, ou seja, desvalorizar 100%, o que nos parece
ser impossível, ele perde apenas US$ 1. Tem mais, o investidor não precisa
dispor de todo o dinheiro da aplicação, basta depositar um valor a título de
"margem de segurança", que na época dos acontecimentos investigados
pela CPI eram 4% do valor aplicado. O resto é coberto por carta de fiança de
agentes financeiros que só serão chamados a cumpri-la caso aconteça um
desastre.
No exemplo que demos utilizamos como
valor US$ 1 para facilitar o entendimento, mas, os valores ali negociados são
de milhões de dólares. Assim sendo, é evidente que este jogo é muito mais
atraente para os investidores do que a própria bolsa de valores, principalmente
para os que buscam o lucro fácil. Este sistema funciona, pelo menos de modo
parecido, em todo o mundo, razão pela qual o chamado capital especulativo
circula, principalmente nas economias mais instáveis, buscando maior lucro com
menor risco e menor trabalho.
É verdade que de vez em quando para
um ou outro mais afoito a coisa dá errada, mas sem maiores conseqüências, pois
aí temos as instituições oficiais a socorrê-los e bancar o prejuízo com o dinheiro
público a título de preservação do mercado, enquanto o "incauto"
investidor sai de cena e fica vivendo nababescamente com o dinheiro ganho em
operações anteriores, lucro devidamente guardado em algum paraíso fiscal.
Com estas possibilidades do lucro
fácil com riscos irrisórios, quem terá coragem de investir em atividades
produtivas que geram empregos, impostos, enfim que faz a riqueza trabalhar em
benefício de muitos, mas sujeito à variação do consumo, recessão, greves,
concorrência, etc? Nos diz Kardec e os Espíritos Superiores que a riqueza deve
ser um elemento de progresso da humanidade na medida em que trabalha pela
melhoria do Globo desbravando-o, saneando-o e preparando-o para acolher a
população de Espíritos a ele destinado.
A população do nosso planeta cresce
sem cessar e precisa ter supridas suas necessidades físicas, como alimentação,
para que possam desenvolver o seu intelecto e assim obtendo, como conseqüência,
o desenvolvimento moral que é o objetivo a ser alcançado pelo Espírito. É
inconcebível, portanto vermos em pleno limiar do terceiro milênio, apesar da
imensa riqueza circulante, a fome, a miséria e o abandono em que encontram
nações inteiras.
A má distribuição de renda que vemos
na maior parte do nosso mundo, com a conseqüente posse da riqueza de 10% da
população, gera distorções incompatíveis com a evolução intelectual em que se
encontra o planeta. Está na hora do mundo revisar os modelos econômicos que
predominam atualmente e encontrar um que seja mais justo e que proporcione à
riqueza a possibilidade de cumprir seu papel, que é o desenvolvimento material,
intelectual e espiritual de toda a população.
Escreve: Delmo Martins Ramos
Texto publicado em 07/05/99
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