quinta-feira, 8 de novembro de 2012

A CIRANDA DO LUCRO
Recentemente em um artigo para este mesmo espaço comentávamos sobre a jogatina desenfreada em que vive a maior parte da população de nosso país. Tem jogo para todos os gostos, desde a rifa entre amigos até os cassinos funcionando legalmente com o nome de bingo, por conta do aproveitamento da Lei Zico que permite a exploração do jogo por instituições ligadas ao desporto. Aproveitando-se desta brecha, utilizando-se do nome de federações ou clubes menores, que recebem uma participação mínima, verdadeiras fortunas são ganhas pelos espertalhões dos incautos e viciados.
Em matéria de leis que dão margens a todo tipo de manipulação por parte dos aproveitadores que se enriquecem à custa do suor da população, nossos legisladores são peritos. Sem contar as leis inócuas que nem seus autores sabem para que servem. Mas este é assunto para um outro artigo.
Queremos aqui tratar de outro tipo de jogo, inacessível ao homem comum, mas que gera lucros exorbitantes a uns poucos privilegiados e termina por tirar grande parte do capital da área produtiva. Esta jogatina oficial responde pelo nome de "mercado financeiro" e sua maior estrela é a conhecida BM&F (Bolsa de Mercadoria e Futuro). Com a atenção do país voltada para a CPI dos Bancos começam a ser divulgados os artifícios que geraram lucros de até 1300% em alguns poucos dias à algumas instituições financeiras, substituindo com vantagem (para elas) o famoso "over nigth" dos tempos da inflação elevada.
Não vamos entrar no mérito se houve ou não vazamento de informações privilegiadas, mas não é preciso que necessariamente haja algum vazamento para que se possa ganhar muito dinheiro nestas práticas, mesmo porque justamente o Banco Marka, acusado de ter informações privilegiadas, foi o único a ter prejuízo e quebrar. Basta conhecer bem o funcionamento dos mecanismos que norteiam estas aplicações, ser ousado e, porque não, ter um pouco de sorte no sentido de fazer tudo na hora e no tempo certo.
O sistema funciona mais ou menos assim: digamos que um aplicador tenha US$ 1 e compre US$ 4 para pagar no futuro por um valor pré-determinado. Se neste período o dólar valorizar 100% ele ganha US$ 4 e se acontecer o inverso, ou seja, desvalorizar 100%, o que nos parece ser impossível, ele perde apenas US$ 1. Tem mais, o investidor não precisa dispor de todo o dinheiro da aplicação, basta depositar um valor a título de "margem de segurança", que na época dos acontecimentos investigados pela CPI eram 4% do valor aplicado. O resto é coberto por carta de fiança de agentes financeiros que só serão chamados a cumpri-la caso aconteça um desastre.
No exemplo que demos utilizamos como valor US$ 1 para facilitar o entendimento, mas, os valores ali negociados são de milhões de dólares. Assim sendo, é evidente que este jogo é muito mais atraente para os investidores do que a própria bolsa de valores, principalmente para os que buscam o lucro fácil. Este sistema funciona, pelo menos de modo parecido, em todo o mundo, razão pela qual o chamado capital especulativo circula, principalmente nas economias mais instáveis, buscando maior lucro com menor risco e menor trabalho.
É verdade que de vez em quando para um ou outro mais afoito a coisa dá errada, mas sem maiores conseqüências, pois aí temos as instituições oficiais a socorrê-los e bancar o prejuízo com o dinheiro público a título de preservação do mercado, enquanto o "incauto" investidor sai de cena e fica vivendo nababescamente com o dinheiro ganho em operações anteriores, lucro devidamente guardado em algum paraíso fiscal.
Com estas possibilidades do lucro fácil com riscos irrisórios, quem terá coragem de investir em atividades produtivas que geram empregos, impostos, enfim que faz a riqueza trabalhar em benefício de muitos, mas sujeito à variação do consumo, recessão, greves, concorrência, etc? Nos diz Kardec e os Espíritos Superiores que a riqueza deve ser um elemento de progresso da humanidade na medida em que trabalha pela melhoria do Globo desbravando-o, saneando-o e preparando-o para acolher a população de Espíritos a ele destinado.
A população do nosso planeta cresce sem cessar e precisa ter supridas suas necessidades físicas, como alimentação, para que possam desenvolver o seu intelecto e assim obtendo, como conseqüência, o desenvolvimento moral que é o objetivo a ser alcançado pelo Espírito. É inconcebível, portanto vermos em pleno limiar do terceiro milênio, apesar da imensa riqueza circulante, a fome, a miséria e o abandono em que encontram nações inteiras.
A má distribuição de renda que vemos na maior parte do nosso mundo, com a conseqüente posse da riqueza de 10% da população, gera distorções incompatíveis com a evolução intelectual em que se encontra o planeta. Está na hora do mundo revisar os modelos econômicos que predominam atualmente e encontrar um que seja mais justo e que proporcione à riqueza a possibilidade de cumprir seu papel, que é o desenvolvimento material, intelectual e espiritual de toda a população.

Escreve: Delmo Martins Ramos
Texto publicado em 07/05/99

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