A INDISSOLUBILIDADE DO CASAMENTO
O casamento é um dos primeiros atos de progresso das sociedades
humanas, comenta Kardec na questão n° 696 de O Livro dos Espíritos. No entanto,
a preocupação da espiritualidade com a manutenção deste vínculo remonta às
épocas mais antigas. Tal preocupação é tratada desde a época de Moisés, quando
estabelece nos Dez Mandamentos, dentre outros preceitos: "Não cometerás
adultério e não desejarás a mulher do próximo". Contudo, sabe-se que as
leis mosaicas eram compostas de duas partes distintas: a lei civil, de origem
humana e,portanto, transitória; e a lei divina, de caráter imutável.
A lei civil, estabelecida por Moisés, tinha caráter
disciplinador, uma vez que estavam sob a sua autoridade homens ignorantes, cujo
senso moral e o sentimento de justiça estavam ainda pouco desenvolvidos, razão
pela qual permitiu Moisés repudiar sua mulher. Esta lei foi profundamente
modificada por Jesus, que a reduziu nestas palavras: "Amar a Deus sob
todas as coisas e ao próximo como a si mesmo", acrescentando: "Esta é
toda a lei e os profetas".
Jesus ao ser indagado pelos fariseus acerca da possibilidade de
separação prevista na lei mosaica deixa-nos a lição de que isto ocorre devido a
dureza dos corações, ou seja, a separação existe quando reina a ignorância das
leis divinas e o atraso moral entre os homens, pois a união fundada apenas nos
interesse materiais, por si mesma, está fadada ao fracasso. Logo, a
indissolubilidade do casamento reside na consciência dos compromissos
familiares assumidos pelo casal perante Deus, pouco importando a forma pelo
qual foi sacramentado este compromisso, visto que, o mesmo é variável conforme
o tempo e a cultura dos povos.
Explica-nos Kardec, que no casamento, o que é divino é a união
conjugal. Esta, por sua vez, traz em si duas leis de caráter divino: a lei de
reprodução e a lei do amor. A primeira lei permite a renovação dos seres que
morrem, ao passo que a segunda, exclusivamente moral, permite a união de dois
seres pelos laços da alma.
É da inobservância destas leis que surgem as uniões infelizes,
assentadas unicamente nos interesses materiais e que levam a sociedade ao
processo de decadência em que se encontra. Acreditou o homem, por muitos anos,
no dogma da indissolubilidade absoluta do casamento, fato este que deve ser
revisado em muitos pontos, pois é cada vez maior o número de divórcios
existentes. Estima-se que a cada quatro casamentos, um é desfeito,
comprovando-se, pois, que as religiões não vêm cumprindo o papel de esclarecer
sobre a consequência da irresponsabilidade dos cônjuges que abdicam do
compromisso assumido.
Malgrado o entendimento equívoco que o homem deu à
indissolubilidade do casamento, atendo-se à letra, o Espiritismo, mostra-nos
com racionalidade que a indissolubilidade absoluta do casamento "é uma lei
humana muito contrária à lei natural. Mas os homens podem mudar suas leis: só
as da Natureza são imutáveis" (questão n° 697, O Livro dos Espíritos).
Quando Jesus disse: "não separe, logo, o homem o que Deus
ajuntou", mostrou-nos que a única união sancionada por Deus, e, portanto
imutável, é aquela fundada na afeição recíproca entre dois seres, com o ideal
de constituírem uma família. Sabe-se que a união perfeita requer seres
perfeitos, e isto, no grau evolutivo em que se encontra o planeta, ainda não é
possível. A realidade nos mostra que as pessoas estão cada vez menos dispostas
a enfrentar os dissabores em nome de uma união duradoura e, diante do menor
problema, abdicam da relação, esquecendo-se, ou melhor, desconhecendo que a
felicidade em família não vem pronta, pelo contrário, requer conquista diária.
Atualmente, é aceita com bastante naturalidade a ideia da
dissolução conjugal, inclusive dentro do meio espírita, com a alegação de que
pode deixar "o carma" para ser saldado em outra vida. Esta conduta
demonstra o desconhecimento da própria Doutrina Espírita que explica com tanta
propriedade os objetivos do Espírito no mundo das relações interpessoais. Urge,
pois, que o homem, de posse desses esclarecimentos que a Doutrina Espírita
oferece, possa refazer os verdadeiros valores da união permanente entre dois
seres.
ESE - Capítulo XXII, itens 1, 2, 3 e 4
Comentários: Katchelyne Silva Moreira
Comentários: Katchelyne Silva Moreira
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