quinta-feira, 5 de julho de 2012


A ELITE ENCANTADA

Depois de encantar o mundo com seus livros ditos espiritualistas, com milhões de cópias vendidas em mais de 100 países, Paulo Coelho se vê reverenciado pela elite mundial. Foi agraciado com um prêmio que, embora desconhecido para a maioria dos mortais, pela qualidade da platéia que estará presente na ocasião da entrega, é uma honraria de grande conceito no meio intelectual mundial. Somente 28 pessoas, entre músicos, artistas, escritores, arquitetos e três ganhadores do prêmio Nobel, receberam até hoje tal prêmio, embora a maioria deles seja desconhecida do grande público.
Segundo notícias da imprensa, estarão prestigiando este evento em Davos (Suíça), centenas de líderes políticos e empresariais, entre eles o líder palestino Iasser Arafat, os presidentes da França, Jaques Chiraq e da África, Nelson Mandela, o chanceler alemão Gerhard Schroeder e a primeira dama americana Hillary Clinton. No discurso de agradecimento a este seleto grupo, o Cavaleiro das Artes e das Letras, título recebido por Paulo Coelho do governo francês, diz que vai falar sobre seu ultimo modismo, que certamente causará "frisson" na elite intelectual mundial: "a lenda pessoal".
Explica o mago, como se auto intitula Coelho, que a idéia da lenda pessoal nada mais é que um caminho alternativo que pretende que cada um faça o que lhe dá entusiasmo, terminando por fazer aquilo que o aproxima do sagrado, que é a vida plena, no balanceamento do rigor da disciplina com a compaixão. Ao traduzir este conceito, discorrendo um pouco mais sobre sua teoria aparentemente moderna, ele deixa escapar idéias antigas já defendidas por anarquistas e pelo movimento hippie. Para ele, o indivíduo deve seguir o que diz seu coração e não o que manda as regras da sociedade, ou seja, faça o que lhe der na telha. "Faça o que tu queres, pois é tudo da lei" como diz a letra de uma de suas canções da década de 70.
Nesta pregação à quebra das regras da sociedade, critica e satiriza o politicamente correto, um movimento recente que pretende instituir um modo de falar e de se portar que não fira os sentimentos de pessoas pertencentes a grupos minoritários ou desavantajados ou seja, o respeito aos direitos individuais, independentemente de cor, raça, religião e posição social.
Apesar de ser tratado como um ícone moderno do espiritualismo, sua teoria caminha na contra mão da evolução espiritual do ser, uma vez que, para atingir a vida plena, utilizando seu próprio termo, o indivíduo tem que moralizar-se, ou seja, libertar-se dos vícios morais e físicos, não simplesmente seguir os instintos sem regras e normas como ele prega.
O grande sucesso repentino de um autor de livros com mensagens pseudo-espiritualistas, bem como os de auto ajuda e neurolingüística, a princípio pode parecer mais um modismo do que propriamente uma mudança de conduta. Mostra porém o anseio das pessoas na busca dos conhecimentos transcendentais e do espiritualismo que caracterizará este milênio que se inicia. O equívoco destas obras, e de seus autores, é acreditar que a felicidade será encontrada na satisfação dos prazeres passageiros e superficiais próprios da vida na matéria.
Na verdade estes conceitos representam uma das faces do materialismo que domina o nosso planeta e apenas camuflam, numa retórica piégas, a busca incessante do ter em detrimento do ser.
É preocupante que autores, artistas e líderes mundiais que são fazedores de opinião, muitos verdadeiros guias de suas nações, estejam se curvando a uma filosofia tão superficial e tão longe do verdadeiro caminho para a espiritualização. Isso apenas vem nos confirmar que a mudança de nível evolutivo de nosso planeta não se dará de forma suave e tranqüila, pois estes desenganos causarão certamente muitos sofrimentos morais à humanidade.
Na verdade, os homens já tem há muito os ensinamentos que verdadeiramente os libertam da ignorância mas ainda não se aperceberam. Pelo menos neste ponto o premiado autor acerta quando faz críticas ao fundamentalismo e ao grande poder outrora exercido pelas religiões, de tão nefastas conseqüências, ocasionadas pela prepotência no confronto com a ciência, nas guerras religiosas, Inquisição, Cruzadas e outros tantos atos que tanto atraso causou à humanidade.
A ironia é que, se não houvesse os desvios das religiões com relação à mensagem reformadora, distanciando-a do homem, não haveria hoje espaço para tantas obras literárias de qualidade duvidosa como as do Sr. Paulo Coelho.

Delmo Martins Ramos
Texto publicado no site em 15/01/99
FONTE: GEBEM
Obs: analise, reflita e tire suas conclusões.

Nenhum comentário:

Postar um comentário