A BRINCADEIRA DO
COPO
Devido às cenas mostradas pela Rede Globo na novela Meu Bem Querer, alguns indivíduos têm nos questionado a respeito da antiga e famosa "brincadeira do copo". É evidente que na TV existe muita fantasia, mas, o processo em si revela-se objeto sério de estudo, já que coisas aparentemente insignificantes como mesas girantes deram início a um grandioso e complexo sistema de doutrina.
O processo consiste em colocar as
palavras Sim e Não no centro de um círculo formado com as letras do alfabeto e
os números de 0 a 10, juntamente com um copo, que se movimentará na direção das
mesmas. Os participantes da "reunião" colocam o dedo no copo, pedem a
um Espírito que venha atendê-los e então este começa a movimentar-se na direção
das letras, construindo frases e atendendo ao questionamento dos presentes.
As crendices populares aliadas a
indiferença com que os espíritas tratam a questão, limitando-se a dizer para
não realizá-las porque são perigosas, deram asas a muita imaginação e absurdos
sem tamanho. Na verdade, o processo é muito similar às cestinhas de bico
utilizadas pelos médiuns no início da codificação do Espiritismo. Kardec, após
verificar que a psicografia era uma forma mais simples e rápida de comunicação
com os Espíritos, substituiu o processo antigo pela escrita através das
próprias mãos dos médiuns, mas, jamais foi ingênuo a ponto de alegar que a
cestinha de bico era perigosa. Analisemos porque.
Em primeiro lugar, comentar que a
sessão do copo é perigosa e nada mais, apenas gera um clima de misticismo em
torno do assunto. Não se deve generalizar a questão como ruim devido a
imprudência de alguns, como não podemos dizer que Jesus é mal porque os homens
mataram e cometeram atrocidades em seu nome. Em segundo, rotulamos esse tipo
primário de intercâmbio de "brincadeira" quando o mesmo é apenas um
método rudimentar de estabelecer diálogos com os Espíritos e dizer que ele é
perigoso é analisar o fundo pela forma, o que testemunha ignorância.
Devemos antes de tudo esclarecer que
o inconveniente não está no método, mas sim nas intenções dos participantes.
Observemos que um grupo de pessoas reunidas em uma sessão mediúnica de
psicografia ou psicofonia, por exemplo, e cujas intenções sejam questionar os
Espíritos com assuntos os mais banais e ridículos, certamente atrairão
Espíritos inferiores que darão respostas tão banais, ridículas e mistificadoras
quanto as perguntas. Se as mesmas pessoas reunirem-se em torno do copinho com
as mesmas intenções, modificou-se o instrumento de comunicação, mas não o
estado moral dos indivíduos e suas intenções e, consequentemente, as respostas
e os Espíritos ainda serão da mesma natureza.
Por outro lado, se um grupo de
pessoas sérias e bem intencionadas reunirem-se ao redor do simples copinho,
Espíritos mais adiantados poderão transmitir-lhes respostas sérias e à altura
dos seus questionamentos, tanto quanto se valessem da psicografia ou
psicofonia. Apenas como elucidação, sabemos que o escritor Monteiro Lobato
realizava as "sessões de copinho" e obteve resultados satisfatórios e
admiráveis. Colocamos isso somente para evidenciar que não é o método em si que
determina o perigo ou não do intercâmbio, mas sim, o objetivo a que se dedicam
os componentes.
Não tem sentido falarmos mal do
telex, um aparelho obsoleto, mas que foi útil a seu tempo, somente porque
descobriu-se o fax, pois um ou outro podem servir como instrumento de coisas
boas ou ruins, dependendo de quem os usa e não do aparelho em si. É evidente
que em nossas sessões espíritas não utilizamos o copo que seria o mesmo que
querer reinventar a roda. Também não é por estar associado a um suposto perigo,
mas porque existem métodos mais eficazes e cômodos de recebermos comunicações
da espiritualidade.
Sabe-se que se pode ser vítima de
graves problemas ou obsessões tanto através da sessão do copo, quanto através
de uma sessão mediúnica onde são utilizados outros meios e é isso que devemos
enfatizar. Dialogar com os Espíritos exige respeito, humildade, pureza de
intenções, objetividade, pensamentos elevados, recolhimento, paciência, seriedade,
oração sincera e também conhecimento de causa no Espiritismo.
Não entramos em detalhes sobre o
processo mediúnico em si, suas conseqüências, finalidades e metodologia porque
teríamos que transcrever aqui grande parte da Doutrina Espírita e a mesma está
à disposição daqueles que nela desejam aprofundar-se. Queremos apenas alertar
os mais incautos que o perigo não está no método (no caso, o copo) mas sim na
finalidade a que se propõem os experimentadores, sua qualidade moral e
conhecimentos em relação a Doutrina dos Espíritos.
Não estamos defendendo a realização
de sessões de copinho, mas o direito que as pessoas têm à informações mais
justas, esclarecimentos e orientações mais adequadas, onde se salienta que
mediunidade deve ser tratada de maneira séria e não leviana porque nesse jardim
podemos colher flores ou espinhos dependendo do uso que dela fizermos.
Em suma, perigoso mesmo é quando nos
falta a boa vontade e disposição em solucionarmos a dúvida de terceiros ou
quando nossa tagarelice converte-se em lupa que transforma a joaninha em
monstro pavoroso aos olhos ignorantes.
É isso aí. Instruir sim, mistificar
não! E, cedemos a palavra final a São Luís, que sobre este tema nos deixou
ensinamento marcante : "Riram das mesas girantes, mas jamais rirão da sabedoria,
da filosofia e da caridade que brilham nas comunicações sérias ...".
Texto publicado no site em 26/02/99
Escreve: Márcio Rogério Horii
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