BEM AVENTURADOS OS AFLITOS
“A incredulidade zombou desta máxima: Bem-aventurados os pobres de espírito, como tem zombado de muitas
outras coisas que não compreende. Por pobres de espírito Jesus não entende os
baldos de inteligência, mas os humildes, tanto que diz ser para estes o reino
dos céus e não para os orgulhosos.
Os homens de
saber e de espírito, no entender do mundo, formam geralmente tão alto conceito
de si próprios e da sua superioridade, que consideram as coisas divinas como
indignas de lhes merecer a atenção. Concentrando sobre si mesmos os seus
olhares, eles não os podem elevar até Deus. Essa tendência, de se acreditarem
superiores a tudo, muito amiúde os leva a negar aquilo que, estando-lhes acima,
os depreciaria, a negar até mesmo a Divindade. Ou, se condescendem em
admiti-la, contestam-lhe um dos mais belos atributos: a ação providencial sobre
as coisas deste mundo, persuadidos de que eles são suficientes para bem
governa-lo. Tomando a inteligência que possuem para medida da inteligência
universal, e julgando-se aptos a tudo compreender, não podem crer na
possibilidade do que não compreendem. Consideram sem apelação as sentenças que
proferem.
Se se recusam
a admitir o mundo invisível e uma potência extra-humana, não é que isso lhes
esteja fora do alcance; é que o orgulho se lhes revolta à ideia de uma coisa
acima da qual não possam colocar-se e que os faria descer do pedestal onde se
contemplam. Daí o só terem sorrisos de mofa para tudo o que não pertence ao
mundo visível e tangível. Eles se atribuem espírito e saber em tão grande
cópia, que não podem crer em coisas, segundo pensam, boas apenas para gente simples, tendo por pobres de espírito os que a tomam a sério (...)”
(Do livro “O Evangelho Segundo o
Espiritismo”, cap. VII, item 2, de Allan Kardec.)
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