quinta-feira, 18 de outubro de 2012

AS CURAS ESPIRITUAIS


Na história da humanidade existem inúmeros fatos comentados à luz da razão ou da irracionalidade que apontam para um fenômeno largamente utilizado nos dias de hoje: a busca da cura das enfermidades pela ação do inexplicável. O indiscutível intercâmbio existente entre o mundo visível e o invisível, favorece situações as mais discutidas por contar com o desconhecimento das criaturas sobre coisas simples e óbvias como a ação dos fluidos ou energias sobre os corpos animados ou não.
O jornal Folha de São Paulo, em recente e extensa matéria, discorre sobre o assunto, colocando num mesmo patamar as cirurgias do suposto Dr. Fritz, os receituários fitoterápicos de uma médium paulista, a aplicação de curativos e a ajuda dos anjos de um japonês do interior paulista. Fala até da guerra entre o bem e o mal de um grupo de médiuns da Capital, que diz ter como missão também curar doenças, que tem Nero como guardião, além de serem liderados por um Espírito que, segundo seus seguidores, já foi Jesus e Michelângelo.
Não nos deteremos nas particularidades destas situações, mas na realidade das curas espirituais. Parece estranho que nos centros espíritas esse assunto seja colocado para escanteio com a justificativa de que o Espiritismo não veio ao mundo para curar corpos, mas para sanear as doenças da alma.
O papel da Doutrina Espírita como agente estimulador do crescimento do homem como um todo é indiscutível. Por isso mesmo, seria um contra-senso dissociá-lo de seu corpo físico, o mais importante aliado da criatura em todo esse processo. Como poderíamos crescer sem o auxílio abençoado da reencarnação? E já que reencarnamos, o que nos impede de cuidar com zelo do corpo carnal? Ouvimos com freqüência dirigentes espíritas enfatizarem que não se deve falar em curas nas casas espíritas, pois colocaria os trabalhos em situação de dificuldades no que diz respeito à credibilidade. Chegam a desaconselhar o uso da palavra "tratamento" para não caracterizar "cura". Dizem eles que as pessoas acabam tendo uma grande expectativa que não será atendida, pois na verdade apenas as doenças da alma são tratadas. Afirmam ainda que a cura das doenças do corpo físico é papel da medicina terrena. Ainda aqui se vê o pouco conhecimento que alguns espíritas têm da doutrina que professam, pois este pensamento dificulta a poderosa ação auxiliar que os médicos da Espiritualidade dão à ciência médica terrena, tanto no campo da teoria através da intuição de novas descobertas, como na vida prática dos que se dedicam com zelo para esta nobre tarefa.
Allan Kardec, em muitos pontos de suas obras, instrui sobre o que ele chamou de "mediunidade curadora". Em inúmeros textos na Revista Espírita, bem como em A Gênese, ele trata da questão com conhecimento de causa, encarando o assunto de forma grave e falando da grande importância desse trabalho espiritual para a divulgação das idéias espíritas. Para ele parecia lógico que o Espiritismo tendo trazido o conhecimento da ciência dos fluidos, também pudesse ser utilizado nos vários campos da vida para ajudar o homem. E, sem dúvida, a área da saúde física é das mais abençoadas. Nela, os Espíritos encontram oportunidade para auxiliar as criaturas que sofrem, através da movimentação dos fluidos, aplicados na cura das doenças.
O descrédito de algumas pessoas em relação a esse tipo de assistência, se deve ao desconhecimento da dinâmica dos fluidos, da realidade do mundo espiritual e da grandeza da Criação. Permanecendo no estreito entendimento das coisas divinas, não podem admitir que algo exista sem que seus sentidos sejam impressionados, sem que a ciência oficial dê sua sanção. De um lado, a ignorância que oblitera a razão, de outro o orgulho que impede a busca do conhecimento maior.
Para um melhor entendimento de como se dá a cura espiritual, lembramos do "milagre" que Jesus operou na mulher que sofria de hemorragia. Diz Kardec:
"É notável que o efeito não foi provocado por um ato da vontade de Jesus; não houve magnetização, nem imposição de mãos. A irradiação fluídica normal foi suficiente para operar a cura. Mas porque esta irradiação se dirigiu para aquela mulher, em vez de outras, pois Jesus não estava pensando nela, e se achava rodeado pela multidão? A razão é bem simples. O fluido, sendo dado como matéria terapêutica, deve atingir a desordem orgânica para a reparar; pode ser dirigida sobre o mal pela vontade do curador ou atraído pelo desejo ardente, a confiança, numa palavra, a fé do doente. Em relação a corrente fluídica, a primeira faz o efeito de uma bomba comprimida, e a segunda, de uma bomba aspirante. Algumas vezes a simultaneidade dos dois efeitos é necessária, de outras vezes uma só basta.(...). Aí está um dos princípios mais importantes da medicina curadora e que explica, por uma causa muito natural, certas anomalias aparentes" - (Allan Kardec - A Gênese, cap. XV, itens 10 e 11).
Para que se promova a cura através da mediunidade curadora, existem três fatores os quais devemos compreender, ou pelo menos crer: a existência do mundo espiritual, a manipulação dos fluidos pelos Espíritos, e um fluido especial existente no encarnado, denominado fluido vital, ectoplasma ou fluido magnético.
O processo da transmissão dos fluidos curadores se dá de Espírito a Espírito, melhor dizendo de perispírito a perispírito e deste ao corpo carnal. Sabe-se que a maioria das doenças, com sua diversidade de causas, é apenas o efeito de uma desorganização perispiritual, com repercussão orgânica. A mediunidade curadora está fundamentada na ação fluídica de um indivíduo sobre outro, podendo esta ser mais ou menos instantânea, dependendo de vários fatores.
O fluido espiritual é uma das variações do fluido cósmico universal. É a atmosfera dos seres espirituais, estando pois impregnada das qualidades boas ou más dos pensamentos que são emitidos. Sabe-se também que os fluidos são o veículo do pensamento e que a vontade é atributo do Espírito. Pela vontade, o Espírito pode agir sobre a matéria através da emissão fluídica provocada pelo pensamento, operando certas transformações moleculares na matéria.
No caso das curas, trata-se de substituir uma molécula doente por outra sadia. Portanto, a potência curadora depende tanto da qualidade da substância doada quanto da energia que se imprime a ela pela vontade. O Espírito, encarnado ou desencarnado, é o agente dessa vontade. Se for impelido pelo ardente desejo de ajudar o próximo, e imprimir nisso uma vontade enérgica, a emissão fluídica será mais abundante.
Algumas pessoas são possuidoras de magnetismo mais ou menos poderoso que pode ser utilizado no auxílio dos doentes. Allan Kardec nos instrui que o fluido magnético pode modificar o estado das substâncias, alterar o estado molecular dos corpos, imprimir qualidades aos líquidos orgânicos etc. Sabe-se também que a ação desse fluido depende de sua qualidade que por sua vez é conseqüência direta das qualidades morais e orgânicas de quem doa. Donde se conclui que a faculdade de cura não é dada a qualquer pessoa.
Há que se considerar também que existe uma grande diferença entre médiuns receitistas e médiuns curadores. Os primeiros exercem a mediunidade como escreventes, nada tendo do dom de curar ou aliviar as enfermidades, pois servem apenas de intermediários, embora tenham uma aptidão especial para esse tipo de comunicação.
Mesmo que um médium receitista trabalhe com Espíritos que foram médicos terrenos, ou que se identifiquem como médicos na Espiritualidade, não se trata de mediunidade curadora, pois ele apenas transcreve para o papel as instruções que recebe. Servem de instrumentos para os Espíritos, mas não é quem cura.
Importante ressaltar que mesmo sendo uma realidade a existência de médiuns receitistas, a prática de receituários nas casas espíritas, quer alopáticos, quer homeopáticos ou fitoterápicos, são desaconselháveis. Em linhas gerais não se coadunam com a orientação kardequiana, que prescreve como terapêutica a fluidoterapia e a moralização do indivíduo. Além disso, é necessário considerar os aspectos legais de tais práticas, pois as leis humanas não aceitam a comunicabilidade dos Espíritos.
O objetivo do trabalho de atendimento a enfermidades físicas nos centros espíritas é curar quando possível, aliviar muitas vezes e confortar sempre. Não há nada que impeça as casas de estabelecerem esses trabalhos de curas a não ser o desconhecimento dos fatos ou a falta de confiança na assistência espiritual recebida.
As curas espirituais através da fluidoterapia são uma realidade e seria muito proveitoso a medicina terrena aliasse seus conhecimentos ao estudo dos fenômenos magnéticos ou fluídicos, pois entraria em um campo de investigação excepcional, com evidentes progressos para a Ciência oficial.
Assim não acontece, por se tratar de atividade ainda ligada ao fanatismo religioso e que muitas vezes é praticada de forma irracional e fantasiosa, o que afasta as pessoas sérias. Por outro lado, existem pesquisadores da área que se julgam cultos e sábios e rejeitam o fenômeno por ser impalpável ou intangível. Se eles se dessem ao trabalho de analisar antes de rotular, veriam que todas as explicações estão nas leis naturais e que nada se dá fora dela.
Pode-se concluir que os trabalhos citados na reportagem da Folha como "curas espirituais" nenhuma ligação tem com o Espiritismo, ainda que tenham sido realizados por médiuns com a interferência de Espíritos. As curas realizadas nas casas espíritas são fundamentadas na fluidoterapia, operando no corpo perispiritual as mudanças necessárias ao reequilíbrio físico das criaturas. Necessário, pois que seja parte integrante das atividades espíritas como mais um santo e salutar benefício de Deus para Seus filhos".

Vanda Simões
Texto publicado  em 15/01/99

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