A QUEM MUITO FOI DADO
Quando Jesus diz “a quem muito foi dado, muito será pedido”, normalmente as
pessoas, mesmo os que seguem a fé cristã, interpretam no sentido material,
entendendo que Ele referia-se só aos que têm os benefícios da matéria, os que
têm uma situação confortável nestas suas vidas presentes. Por esta razão, numa
visão distorcida, levam ao pé da letra também outras lições evangélicas, como
por exemplo, as bem-aventuranças, principalmente aquelas que dizem serem bem
aventurados os pobres, os que choram e os que sofrem pois terão o Reino dos
Céus, entendendo que, para se ter as recompensas espirituais, é necessário
sofrer e viver na pobreza.
Este entendimento superficial e
equivocado, que a maioria das pessoas tem com relação aos ensinamentos divinos
é em função da imaturidade espiritual dos que vivem neste mundo, tendendo ainda
mais aos apelos da matéria do que aos espirituais. Ainda não compreendem que a
verdadeira vida, portanto, a mais importante é a vida espiritual e que a vida
material é mais uma das inúmeras experiências do Espírito objetivando o seu
aperfeiçoamento.
As palavras de Jesus, reproduzidas
por Lucas no Capítulo XII: 47-48, devem ser entendidas no sentido do
conhecimento das leis morais, já que alerta de que serão mais culpados diante
da Lei aqueles que conhecem os ensinamentos divinos, mas não os praticam, do
que os que ainda não tiveram a oportunidade de conhecê-los. Desta forma, no
mundo ocidental onde impera o cristianismo, não deveria haver tanta miséria,
violência, corrupção, afinal, a maioria professa a fé cristã, não podendo pois
pretextar ignorância. Infelizmente, porém, mesmo entre os cristãos, poucos lêem
e estudam os ensinamentos contidos no Evangelho e, mesmo entre os que assim
fazem, pouquíssimos entendem verdadeiramente as suas lições.
A Doutrina Espírita vem exatamente
trazer as ferramentas necessárias para o melhor entendimento das mensagens
evangélicas, pois comprovando a existência da vida espiritual e a reencarnação;
revelando a lei de causa e efeito, que aliada ao livre arbítrio mostra ao homem
as consequências e a responsabilidade de seus atos, reafirma os ensinamentos
que Jesus trouxe à humanidade há cerca de 2(dois) mil anos, decifrando os que
ali estão de forma velada, em função da impossibilidade do homem daquela época
compreendê-los.
As religiões cristãs, por terem se
desviado do verdadeiro objetivo da mensagem de Jesus, tem grande
responsabilidade pela atual situação do planeta. Sem considerar os abusos
históricos cometidos em nome de Deus, dos quais seus atuais líderes se
penitenciam, vê-se que ainda hoje não cumprem o objetivo de religar o homem ao
Criador, pois estão ainda presas aos rituais e à superficialidade dos
ensinamentos, oportunos na época de pouco desenvolvimento intelectual da
humanidade, mas inaceitável no mundo de hoje.
No entanto, verificando-se o que se
passa no movimento espírita, com tantas fantasias e inserções que podem levar a
Doutrina a tornar-se mais uma seita travestida de religião, não se pode ter a
ilusão que a Terceira Revelação, personificada no Espiritismo como doutrina
organizada, terá condições de libertar a humanidade da cegueira em que ainda
vive. A incompreensão das verdades evangélicas por grande parte dos seus
seguidores, não tem produzido os efeitos necessários no sentido da mudança
comportamental necessária, chegando mesmo alguns a propor a desvinculação da
Doutrina Espírita dos ensinamentos cristãos.
É evidente que as revelações trazidas
pela equipe dos Espíritos Superiores vieram para ficar definitivamente com a
humanidade e irão auxiliá-la em sua transformação, pois, uma vez estes
conceitos estejam incorporados pelos outros pensamentos religiosos, surtirão os
efeitos desejados preparando, assim, a humanidade para os novos ensinos que
advirão que, então, libertarão definitivamente o nosso mundo da ignorância,
levando-o a um nível mais elevado onde não haverá rótulos mas, um só rebanho e
um só pastor, como já nos disse o Mestre.
Os fariseus, que se intitulavam
conhecedores da Lei, perguntaram a Jesus se eles seriam considerados cegos,
numa tentativa de terem suas culpas diminuídas, receberam a dura resposta,
característica do Mestre ao deparar com a hipocrisia: “Se vós fosseis cegos,
não teríeis culpa; mas como agora mesmo dizeis: Nós vemos, fica subsistindo o
vosso pecado”.
Os espíritas, que têm em mãos os
ensinos dos Espíritos Superiores, não poderão pretextar cegueira, uma vez que
esta Doutrina esclarecedora chega às suas mãos metodicamente, pacientemente e
inteligentemente trazida por um Espírito missionário que alerta: “Aos espíritas
muito será pedido, porque muito receberam”.
Diz mais o mestre lionês,
dirigindo-se aos seguidores da Doutrina dos Espíritos, referindo ao ensinamento
maior: “Aquele, pois, que não o põe em prática para se melhorar, que o admira
apenas como interessante e curioso, sem que seu coração seja tocado, que não se
faz menos fútil, menos orgulhoso, menos egoísta, nem menos apegado aos bens
materiais, nem melhor para o seu próximo, é tanto mais culpado, quanto teve
maior facilidade para conhecer a verdade”.
É necessário, pois, que aqueles que
se dizem espíritas, que conhecem os ensinamentos contidos na Codificação,
possam entendê-los definitivamente e, principalmente, colocá-los em prática,
caso contrário serão tratados como fariseus dos novos tempos por terem o
conhecimento da Lei e não a praticam. Acautelemo-nos, pois!
Delmo Martins Ramos
Texto publicado no site em 25/11/2000
Nenhum comentário:
Postar um comentário