quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

CIGARRO: A DROGA LEGAL

Se alguém nos falar do nome Wayne McLaren provavelmente não saberemos de quem se trata. Mas se citarem o “cowboy” dos cigarros Marlboro, rapidamente nos lembraremos daquele rapaz de porte bonito e saúde perfeita que entre uma e outra de suas proezas com os cavalos, enchia seus pulmões de nicotina, num visível e descabido esforço da companhia de tabaco para passar a idéia de que o cigarro estava em perfeita sintonia com o sucesso, a beleza, o esporte e a saúde. Nesta semana, o irmão do ator está no Brasil participando das manifestações do Dia Nacional sem Cigarro, promovido pelo Ministério da Saúde (MS) e Instituto Nacional do Câncer (Inca). Wayne McLaren fumou desde os 12 anos e morreu de câncer de pulmão aos 51, há pouco tempo.
Os números da desgraça que o cigarro causa são impressionantes. No Brasil, nove pessoas morrem por hora por doenças causadas pelo tabaco, segundo dados do MS. É a segunda maior causa de mortes no mundo inteiro. Segundo informações da Organização Mundial de Saúde, em 1999 as causas ligadas ao uso do fumo mataram 4 milhões de pessoas no mundo. No Brasil, uma em cada três pessoas fumam. Cerca de 90% das pessoas começam a fumar antes dos 19 anos de idade. Os adolescentes iniciam-se no vício cada vez mais cedo e é a clientela mais visada pela indústria de cigarros, que sabe que investindo nessa faixa etária terá clientes em potencial por mais 40 ou 50 anos.
O uso do tabaco está estreitamente ligado a doenças graves como câncer de pulmão, esôfago, estômago, rim, bexiga, colo do útero e os tumores de cabeça e pescoço. Além, evidentemente das doenças coronarianas e baixo desempenho da atividade física. O vício vem aumentado entre os jovens e mulheres e dentre elas as grávidas são as que merecem atenção maior, pois além do mal causado a seu próprio organismo, o veneno atinge também um outro ser que já começa a fumar, sem saber, na vida intra-uterina. Os prejuízos para o bebê são de muita gravidade e inadmissíveis. São bebês que apresentam, entre outras coisas, crescimento intra-uterino retardado com todas as suas danosas consequências para o crescimento e desenvolvimento biopsicossocial da criatura.
Apesar de todo esse quadro dantesco de infelicidade, o estímulo ao uso do tabaco é veiculado normalmente em todas as vias de comunicação. Os números que o governo arrecada com os impostos do cigarro são estratosféricos, o que justifica a hipocrisia com que trata a questão, “advertindo” no final de cada propaganda que o “fumo faz mal à saúde”. A força da indústria do tabaco se insinua na sociedade sem nenhuma cerimônia. As propagandas veiculadas são sedutoras e enganosas, associando o uso do fumo a mulheres belas, à sensualidade, dinamismo, esporte, sucesso e saúde. São sempre jovens mal saídos da adolescência, com rostos sorridentes e cheios de vida, que dão baforadas diante do vídeo num verdadeiro convite criminoso ao vício. Passa a nociva e falsa idéia de que fumar é apenas prazer e não causa sofrimento. Por anos e anos esse panorama existe em nosso país e o governo cruza os braços numa atitude desavergonhada de conluio com os fabricantes da droga.
Sim, a nicotina é uma espécie de droga. E de todas as conhecidas é a que causa mais dependência química. Uma vez aspirada é rapidamente absorvida pelos pulmões e contamina todo o organismo. Chegando ao sistema nervoso central, age em receptores ligados às sensações de prazer, superficialmente falando. Por isso a pessoa se vicia rapidamente e passa a consumir doses cada vez maiores da nicotina. Para o fumante, não ter sua carteira de cigarros à mão, é como se lhe faltasse o oxigênio. Como é uma droga de aceitação social e vista com muita normalidade pela sociedade, as pessoas não vêem nenhuma razão para não se deixar envolver pelo sinistro hábito, a não ser que tenha um pouco de bom senso e certa maturidade para resistir. A coisa é tão séria e catastrófica que de cada 10 adolescentes que experimentam o cigarro por 4 vezes, 6 permanecem no vício por toda a vida. Não é à toa que o fumo é considerado uma dos mais graves problemas de saúde pública no Brasil.
A sociedade se mobiliza timidamente para enfrentar essa doença. O Presidente da República enviou ao Congresso Nacional um projeto de Lei que proíbe definitivamente a veiculação de propaganda do fumo em todos os meios de comunicação. Já é alguma coisa. Agora teremos de aguardar a batalha entre os parlamentares que sem dúvida têm seus interesses, que não são nem de longe os da população que os elegeu. Atendendo aos interesses de um mundo materialista onde o patrão é o lucro, não recuarão diante das facilidades que lhe serão apresentadas pelos lobistas, para que a lei seja abrandada, mesmo sabendo que seus próprios filhos são potenciais vítimas da desgraça.
A par de todas essas consequências para a saúde do corpo físico ainda temos de nos preocupar com os resultados do vício no campo psíquico e espiritual. As pessoas viciadas em tabaco precisam de ajuda como qualquer outra que esteja escravizada às mazelas do Espírito. Mas também como qualquer outro problema, o indivíduo necessita se mobilizar primeiro em busca desse auxílio, se o deseja de fato. Se sente-se bem assim certamente se irritará com estes escritos ou qualquer outro desta natureza que deixe à mostra os riscos que correm os que se utilizam deste veneno. Justificar-se-á com argumentos do livre-arbítrio e outras coisas, no que tem toda a razão. Mas jamais poderá dizer que está fazendo um bem para si mesmo ou para quem com ele convive.
Aos que acreditam viver apenas uma vida, até pode ser compreensível que se delicie com os prazeres das baforadas, mesmo sabendo dos riscos, mas e os ditos espíritas fumantes? Os que professam uma doutrina de racionalidade e que justificam o hábito de fumar com teorias as mais absurdas? Que têm consciência das lei de causa e efeito e suas consequências? Esses assemelham-se aos médicos usuários do tabaco, que ficam sem nenhuma autoridade para falar a seus pacientes sobre os malefícios que causam a tal droga, ou seja, a palavra sem o exemplo é vã. Sem dúvida que é muito difícil a luta do Espírito para livrar-se de um vício. Não se discute. Mas uma coisa é lutar para vencer a imperfeição, outra coisa é tentar justificá-la como fazem os viciados do tabaco no meio espírita. Foi divulgado até que existe um descondicionamento do vício no mundo espiritual, para aqueles que não conseguem se livrar dele na vida terrena. Nesse caso, deve valer também para o álcool, cocaína., crack e outras tantas drogas igualmente escravizantes.
Se a sociedade, que em geral não comunga com a realidade da lei de causa e efeito e da reencarnação, já descobriu que precisa fazer alguma coisa para deter essa praga, qual o papel da casa espírita nesse contexto, senão o de lutar com todas as forças para esclarecer as pessoas sobre os malefícios do vício? Senão o de auxiliar os que se entregaram ao hábito a deixar de utilizá-lo, através da conscientização da grave agressão ao corpo físico, com consequências dramáticas para a vida do Espírito? Infelizmente alguns formadores de opinião, fumantes contumazes, tratam da questão com total irresponsabilidade, passando a desastrosa idéia de que o fumo não tem nada a ver com a condição moral da criatura. Instruem no espírito da liberdade que tem a pessoa de fazer qualquer coisa em sua vida, inclusive envenenar-se.
Só o sentido distorcido do que seja a vida e a pouca compreensão dos ensinos dos Espíritos superiores pode justificar tal procedimento. Se nos deixarmos envolver pelo espírito do “deixa como está”, por conta da falácia de que é falta de caridade expor os erros dos outros, veremos muitos irmãos nossos adentrarem em um mundo de sofrimento físico e espiritual porque, a pretexto de não ferir sua liberdade de escolha, não tivemos a coragem de mostrar a ele os caminhos dolorosos pelos quais estaria trilhando. Se temos a condição de auxiliar e não o fazemos seremos como o sal que não salga. Serve para ser lançado fora, disse Jesus.
Texto publicado em 02/06/2000.Como será que está a situação nos dias de hoje?

Autor: Vanda Simões

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