TEMPOS DIFÍCEIS
"Sabe, porém, isto: que nos últimos dias,
sobrevirão tempos difíceis, porque haverá homens amantes de si mesmos,
avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães,
ingratos, profanos, sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes,
cruéis, sem amor para com os bons, traidores, obstinados, orgulhosos, mais
amigos dos prazeres do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas
negando a eficácia dela. Destes, afasta-te. Porque deste número são os que se
introduzem pelas casas e levam cativas mulheres néscias carregadas de pecados,
levadas de várias concupiscências, que aprendem sempre e nunca podem chegar ao
conhecimento da verdade. E, como Janes e Jambres resistiram a Moisés, assim
também estes resistem à verdade, sendo homens corruptos de entendimento e
réprobos quanto à fé. Não irão avante, porque a todos serão manifesto o seu
desvario, como também o foi o daqueles"- (II Timóteo, Capítulo 3,
versículos 1-9).
O texto acima, escrito pelo apóstolo Paulo há quase dois mil
anos, nos adverte sobre os males dos dias atuais. Vivemos em tempos de muitas
dificuldades e sofrimentos advindos da grande crise moral em que mergulhou o
Planeta, nos últimos anos. Os homens, esquecidos dos ensinamentos do Mestre, e
atendendo unicamente às suas necessidades materiais, tornaram-se "mais
amigos dos prazeres do que amigos de Deus", desprezando as leis de
igualdade, fraternidade e liberdade, imprescindíveis ao progresso das
civilizações e à vida em comunidade. Deram vazão ao seu egoísmo e orgulho, as
maiores chagas da Humanidade, no dizer de Allan Kardec, decorrendo daí o
desrespeito aos seus semelhantes, levando seus iguais a situações humilhantes
de fome, miséria e toda sorte de privações.
É imperioso que observemos o quadro de confusão e desordem que
se instala na atualidade, principalmente nas sociedades mais adiantadas
intelectualmente. Nunca, em tempo algum, viu-se algo semelhante. As crianças,
em tenra idade, numa época em que se estabelece o processo educativo, vital
para o equilíbrio das criaturas, são bombardeadas em sua inocência por
programas perniciosos, veiculados pela TV, dando enfoque perigoso e insano ao
sexo, à violência, à transgressão e à libertinagem, ensinando-lhes que o melhor
é sempre o que sobrepuja o outro pela esperteza. Inicia-se já, na gênese de sua
formação, as lições do egoísmo, da lei do mais forte, próprios de civilizações
atrasadas.
Os pais, por comodismo ou por ignorância, assistem passivos a
essa tragédia. Não buscam semear os princípios da moral cristã em seus lares. A
preocupação com a instrução intelectual parece bastar e os pais agem como se
pudessem transformar em eterno o que é transitório. Nessa luta sutil e
desigual, quase sempre vence o mundo, e este pequeno e frágil ser entra na
adolescência e idade adulta completamente despreparado, desprovido da proteção
segura dos ensinamentos de Jesus, que afinal permeia todas as boas ações do
Espírito imortal.
A corrida desenfreada do homem em busca do ter, em detrimento do
ser, levou-o a, novamente, construir altares a outros deuses. O materialismo
impera e destrói com suas absurdas leis. O que menos conta são os valores
humanos. E no meio de tudo isso a humanidade agoniza, mergulhada num
entorpecimento doentio, numa moral completamente desvirtuada, com grave
inversão de valores. Os sintomas da doença são claros e inequívocos: uma
educação pautada nos valores da matéria; o desmantelamento do lar, com a
desvalorização do casamento; a indústria desenfreada e irresponsável do sexo,
livremente veiculada, com gravíssimas consequências morais e sociais; o
desrespeito aos pais; crimes hediondos tornando-se corriqueiros; a corrupção e
a desonestidade como algo normal nas comunidades; o aumento da incidência de
suicídios entre adolescentes e idosos, nas grandes cidades; o alarmante
desequilíbrio e exaustão do ecossistema; enfermidades, antes consideradas
extintas ou controladas, recrudescendo, alastrando-se e dizimando vidas, ao
lado de novas que surgem, deixando atônitos os estudiosos do assunto, que não
compreendem a razão de tantas calamidades.
E a Religião, que deveria ser o elo entre a criatura e o
Criador, não faz o seu papel. Os indivíduos que ocupam a posição de líderes,
não pastoreiam suas ovelhas, como pediu o Mestre. São criaturas amantes de si
mesmas, soberbas, orgulhosas, com a aparência do Bem, mas sem a eficácia dele,
não tendo, portanto, a força moral do exemplo em suas ações. Enfim, eis um
quadro doloroso, de extrema gravidade, parecido com "o tempo de angústia,
qual nunca houve" de que nos falou o profeta Daniel (12.1), e confirmado
por Paulo em sua carta a Timóteo.
Talvez o mais grave seja a nossa passividade diante disso. O
Espiritismo ensina que a Terra entrará em fase de regeneração. Não será sem
dores. A Doutrina dos Espíritos, sendo o Cristianismo redivivo, tem a obrigação
de alertar as criaturas para a necessidade do crescimento espiritual e da
comunhão com o Criador. É hora de se deixar de lado as fantasias, as idolatrias
e doutrinas estranhas e se entregar à tarefa que compete aos centros espíritas,
como pronto-socorro da Espiritualidade que acham que são. Que se reflita sobre
as palavras de Jesus, transcritas em Mateus 24,25 e 28 onde nos fala sobre a
grande tribulação que o mundo enfrentaria nos últimos tempos. Kardec, em
"A Gênese", Cap. III, item 7, diz: "Chega um momento em que o
excesso do mal moral torna-se intolerável e faz com que o homem sinta
necessidade de mudar de caminho".
É inegável que estamos vivendo plenamente essa situação de
lamentável decadência, já há tempos. O desfecho disso pode ser de muito choro e
ranger de dentes. Espíritas, meditemos sobre o nosso papel diante de tudo isso.
Estejamos alerta!
Texto publicado em 23/04/99. Será que ainda vale para os dias
de hoje. Analise e reflita.
Vanda Maria Simões
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